Depois de anos sendo um pop culture junkie, finalmente resolvi canalizar minhas energias em algo útil (assim, dependendo da sua perspectiva). Esse blog tem, portanto, o objetivo de documentar quem está causando na cultura pop mas não comentando do óbvio e sim antecipando tendências e o que está por vir. E-mail me @ tacausando@gmail.com. Mais sobre a nossa proposta.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Causando na Alemanha: Lena Meyer-Landrut


A Alemanha gosta bastante de reality shows de talento. A versão de American Idol deles, Deutschland sucth den Superstar, goza de grande popularidade faz quase uma decada. Até Popstars, aquele reality que nos trouxe o Rouge e o Br'oz, continua no ar por lá (só lá. Ele já foi aposentado em todo o resto do mundo).

Apesar de todo esse apetite por shows de talento, o maior deles, o Eurovision -- um gigantesco sucesso em todo continente -- não vinha causando nenhum interesse no país nos últimos anos.

O Eurovision é um tradicionalissimo concurso de talento anual. O conceito é bem simples: cada nação européia manda um representante. Cada um deles canta uma música especialmente feita para o evento (em geral, um pop bem kitshy) e, no fim, algum país é escolhido vencedor.

O Abba, por exemplo, ficou famoso depois de representar a Suécia no Eurovision de 1974. E eles são, alias, o ato que melhor representa o concurso: extremamente colorido, kitshy, pop e bem gay.

Todo mundo finge não levar o Eurovision a sério mas, todo ano, o país que ganha fica mega eufórico e a população fica toda histérica. Além disso, os números de audiência também mostram que o público se interessa bastante pelo programa: a emissão é o evento não-esportivo mais visto no continente, sempre atraindo audiências altíssimas.

Na Alemanha, porém, o interesse no evento era baixíssimo faz anos. Afinal, a única vez que eles ganharam foi a quase três décadas, em 1982. Porém, os executivos da ARD -- o canal estatal que detém os direitos de exibição do concurso -- estavam decididos a fazer o programa voltar a ser relevante.

Para isso, eles se juntaram com a ProSieben -- um dos principais canais privados -- e Stefan Raab -- uma das maiores personalidades televisivas do país -- e criaram o reality de talento Unser Star fur Oslo (ou, em português, Nossa Estrela para Oslo)
Como o título do programa indica, o vencedor ganharia a chance de representar o país em Oslo, que sediaria a edição desse ano do Eurovision (como a Noruega tinha ganho em 2009, eles abrigaram a edição desse ano).

De cara, Lena Mayer-Landrut se destacou. Ela tinha uma voz peculiar, era bastante jovem (ainda estava no último ano do ensino médio), tinha uma aparência de girl next door combinada com uma personalidade peculiar e, apesar de nenhuma preparação profíssional, bastante presença. Não surpreendentemente, ela acabou sendo coroada a grande vencedora do programa.


Sua interpretação de Satelite, a música escolhida para representar o país na competição, foi direto para o topo das paradas de singles alemãos. Com mais de 100 mil cópias vendidas em uma semana, a música quebrou recordes de venda e se transformou num dos singles digitais mais bem sucedidos de todos os tempos (mais de 600 mil cópias foram vendidas até o momento) na Alemanha.

Na semana que procedeu a final do programa, além de ocupar o topo com Satelite, a garota de 19 anos ocupou o segundo e o terceiro lugar com Bee e Love Me, outras duas músicas inéditas que ela cantou durante o reality. Foi a primeira vez na história das paradas alemãs que um artista dominou o top 3 dos singles mais vendidos.

Apesar de pouquíssimas aparições entre a final do reality e o Eurovision (ela precisava estudar para sua prova de conclusão de Ensino Médio), Lena virou um gigantesco sucesso: seu álbum, lançado as pressas, foi direto para o primeiro lugar. Sua personalidade peculiar -- ela simplesmente se recusa a falar sobre qualquer assunto particular (família, crenças, etc) -- só aumentou a fama da jovem. Como todo grande sucesso, ela também atraíu uma grande quantidade de haters.

Para a insatisfação deles, porém, a garota agradou os juízes do Eurovision e acabou sendo coroada a grande vencedora da edição desse ano do programa, provando que a febre Lena ainda mal tinha começado.


Depois da vitória, a música de Lena -- que já tinha ocupado o topo por cinco semanas consecutivas -- voltou para o primeiro lugar no país. Além disso, Satelite também alcançou o topo em outros seis países (Dinamarca, Noruega, Suécia, Suíça, Finlandia e Irlanda). Mais que isso, a missão da ARD foi extremamente bem sucedida: o Eurovision desse ano bateu recordes de audiência na Alemanha e se transformou na edição mais vista dos últimos 30 anos no país.

A vitória de Lena foi extremamente comemorada pela nação. A garota foi manchete em absolutamente todos os jornais: desde o Handelsblatt -- especializado em comércio e econômia -- até o Bild, um tablóide no estilo The Sun com uma circulação astronômica, que dedicou toda sua primeira pagina a garota, incluindo a manchete "LENA, NÓS TE AMAMOS".

"Graças a Lena, finalmente, o resto da Európa gosta da gente", observou o tablóide.

O papel do país na Primeira e na Segunda Guerra Mundial não criou exatamente uma imagem muita positiva deles para o mundo e, por isso, o povo de lá é extremamente inseguro em relação a imagem que o país projeta para o resto do planeta. Mais do que isso, eles não tem muito comforto para se mostrarem patriotas (afinal, para muita gente, patritotismo alemão = nazismo). Por isso, quando o país se destaca na Copa ou num evento internacional como o Eurovision, a população inteirva vibra, já que finalmente eles tem um motivo legítimo para ficar orgulhosos de seu país.
Além disso, a vitória no Eurovision ressoou tanto no país pois deu a Alemanha -- no meio de sua maior recessão desde a Segunda Guerra Mundial -- um motivo para comemorar.

"Lena impressionou a Alemanha e conquistou corações por toda Europa", disse a chanceler Angela Merkel. "Ela é uma embaixadora para o nosso país. Em apenas uma noite, ela provou, com muito charme, que alguns velhos estereótipos que são atribuídos a Alemanha são equivocados", afirmou Guido Westerwelle, Ministro de Relações Internacionais.

A garota foi recebido como uma heroína na sua volta para a Alemanha: milhares de pessoas (40 mil, estimou o não muito confiável Bild) a esperavam nas ruas de sua cidade natal Hannover, onde foi recebida pelo prefeito, debaixo da chuva.

Na sua primeira coletiva de imprensa pós vitória, Lena deu a entender que, no próximo ano, irá representar o país mais uma vez no Eurovision, sendo apenas a terceira vencedora a fazer isso. Particularmente, não acho essa decisão muito inteligente: a garota deveria se esforçar para se estabelecer como uma artista bem sucedida e não ficar com sua imagem eternamente vincluada ao Eurovision. Claro que, se ela ganhar pelo segundo ano consecutivo, sua popularidade irá crescer ainda mais porém as chances disso acontecer são poucas. Como se isso não fosse o suficiente, a ProSieben ainda vai perder a oportunidade de fazer uma segunda edição do bem sucedido reality show de talento.

Enfim, na minha opinião a grande coisa sobre Lena não são suas músicas (acho elas meio boring) mas sim sua personalidade. Se recusar a falar sobre sua vida pessoal ("eu escolhi a fama, não meus amigos e família", ela diz para entrevistadores) é algo que eu acho bastante interessante nela. Sua sinceridade e falta de vergonha sobre sua falta de experiência também me parece algo positivo.

Agora só falta a Alemanha ganhar a Copa (algo que, por mais que doa a nós, brasileiros, admitir, tem muitas chances de acontecer) para o país explodir em extase. A econômia pode estar uma merda (para padrões alemãos, né?) mas nada melhor do que um monte de troféu para levantar o ego de qualquer nação (principalmente, uma cheia de cicatrizes e insegurança).

Lena e Stefan Raab desembarcam em Hannover depois da vitória no Eurovision.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Chart Watch UK: Urban Dominition



Depois de um ápice no fim dos anos 90, época da explosão de Britney, BSB, Christina e NSync, o pop sumiu completamente das paradas estado-unidenses e, subseqüentemente, do mundo a partir de 2002.

De 2003 até 2005, apenas cinco artistas que não pertenciam ao gênero de música urbana (R&B/rap) conseguiram alcançar o topo do Billboard Hot 100 (mas só um por mérito próprio: Gwen Stefani com Hollaback Girl. Os outros quatro são os ganhadores de American Idol na semana seguinte a final do programa). Em vendas de CDs, pouquíssimos atos pop se destacaram (Avril Lavigne foi um enorme fenômeno em 2002 e P!nk também teve um bom ano com o lançamento de Missundaztoosd; Hilary Duff, com a ajuda do Disney Channel, foi a "explosão pop" do ano seguinte com 3 milhões de cópias vendidas de Metamorphosis; Jessica Simpson e Ashlee Simpson, ambas impulsionadas por reality shows de grande sucesso na MTV, foram bem recebida em 2004 e, em 2005, Kelly Clarkson brilhou com Breakaway) e todos os álbuns que mais venderam ao longo desses anos pertenciam ao gênero urbano (em 2002, um empate técnico entre The Eminem Show do Eminem e Nellyville do Nelly; em 2003, Get Rich or Die Tryin' do 50 Cent; em 2004, Confessions do Usher e, no ano seguinte, The Emancipation of Mimi de Mariah Carey).

Enquanto isso, a Grã-Bretanha era um dos poucos países ocidentais onde o pop em sua forma mais pura continuava forte nas paradas. Apesar de nenhum gigantesco fenômeno a la Spice Girls, vários atos, como Sugababes, Girls Aloud, e boybands como Blue e Westlife, continuavam com um desempenho sólido e vendas satisfatórias.

Agora a situação parece se inverter.

O sucesso de Justin Bieber, Miley Cyrus, Katy Perry e Ke$ha nas paradas mundiais contribuíram para que, depois de anos sumido, o pop alcançasse um novo ápice. O maior fenômeno do momento, claro, é Lady Gaga.

Enquanto isso, na Grã-Bretanha, a música urbana, que -- com algumas exceções -- nunca foi excepcionalmente forte no país, alcança um ápice histórico. Rappers britânicos estão gozando de um nível nunca antes visto de popularidade com Dizzee Rascal, Chipmunk, Plan B, Tinchy Stryder e o N-Dubz dominando os charts.

Prova dessa dominação é a paradas de singles dessa semana: em todo o top 10, apenas UMA música não pertence ao gênero urbano.



O primeiro lugar é o novo single de Dizzee Rascal, Dirtee Club. É a quarta música do rapper londrino a alcançar o primeiro lugar das paradas britânicas.

O segundo lugar é ocupado Nothin' on You do americano B.o.B. (que eu já comentei sobre aqui).

Semana passada, Nothin' on You vendeu impressionantes 85 mil cópias, a segunda maior quantidade de venda semanal do ano até o momento, atrás apenas do primeiro single de Iyaz, Replay.

E, falando em Iyaz, é ele que ocupa a terceira posição essa semana com Solo, seguido pelo novo sucesso de Jason DeRulo que tem um título bastante similar: Ridin' Solo.

Apesar de não ter feito nenhuma promoção até o momento, Not Afraid de Eminem estréia na quinta posição. Isso mostra o poder do rapper nas terras da Rainha. O sexto lugar, uma outra nova entrada, é ocupado por N-Dubz com We Dance. A música é o tema um novo filme de dança chamado Streetdance 3D.



Essa semana, cinco novas músicas entraram no top 10. Além de Dizzee, Iyaz, Eminem e N-Dubz, a sensação pop canadense Justin Bieber penetra o top 10 britânico pela segunda vez com Baby, um dueto com Sean Kingston.

A única música não urbana na parada é, por tanto, Stereo Love de Edward Maya e Vika Vigulina.

Singles mais vendidos
Posição nessa semana (posição na semana passada) (posição mais alta) (tempo no top 10)
1. Dirtee Disco - Dizzee Rascal (-) (1) (1 semana)
2. Nothin' on You - B.o.B. (1) (1) (2 semanas)
3. Replay - Iyaz (-) (3) (1 semana)
4. Ridin' Solo - Jason DeRulo (2) (2) (3 semanas)
5. Not Afraid - Eminem (-) (5) (1 semana)
6. We Dance On (ft. BodyRox) - NDubz (-) (6) (1 semana)
7. Candy (ft. Kimberly Wyatt) - Aggro Santos (7) (4) (4 semanas)
8. Stereo Love (ft. Vika Jigulina) - Edward Maya (5) (5) (3 semanas)
9. Good Times - Roll Deep (3) (1) (5 semanas)
10. Eenie Meenie - Justin Bieber & Sean Kingston (-) (10) (1 semana)

Apesar da total dominação de música urbana essa semana, o pop britânico está longe de ser exterminado. É verdade que, com algumas exceções (Take That, Pixie Lott, Westlife, Florence and the Machine, Lily Allen e os atos estado-unidenses como Lady Gaga), o gênero tem dependido fortemente do apoio do The X Factor. O programa de talento é responsável por catapultar quase todos os atos pops locais ao mega-estrelato: além de Leona Lewis, o programa também foi responsável pela explosão de popularidade de Cheryl Cole e da boyband JLS (que, alias, tem um som muito mais urbano que as boybands antecessoras).

De qualquer maneira, o Reino Unido sempre foi bastante aberto a uma grande variedade de gêneros musicais. Prova disso, é o primeiro lugar nas paradas de CD da semana: a banda de drum n bass australiana Pendulum ocupa o topo com Immersion. O CD vendeu satisfatórias 59 mil cópias ao longo da semana.

A exibição do especial An Audience with Michael Bublé na ITV1 catapultou as vendas do crooner canadense. O álbum de Bublé, Crazy Love, que já vendeu mais de 1.5 milhões de cópias no país até o momento, sobe 17 posições em relação a semana passada e ocupa o segundo lugar com 45 mil unidades. O terceiro volume da trilha sonóra de Glee também estréia muito bem com 44 mil cópias em terceiro lugar.

O novo álbum de Kate Melua estréia dignamente mas não de maneira muito empolgante: 29 mil cópias de The House foram comercializadas, o suficiente para ocupar a quarta posição. Os Rolling Stones, cuja versão remasterizada de Exile on Main Street ocupou o topo semana passada, encerram o top 5.

CDs mais vendidos
Posição essa semana (Posição semana passada) (Posição mais alta)
1. Immersion - Pendulum (-) (1)
2. Crazy Love - Michael Buble (19) (1) ****
3. Glee: Showstoppers - Vol. 3 (-) (3)
4. The House - Katie Melua (-) (4)
5. Exile on Main Street - The Rolling Stones (1) (1)
6. The Element of Freedom - Alicia Keys (8) (1) **
7. The Defamation of Strickland Banks - Plan B (3) (1) *
8. The Fame - Lady Gaga (5) (1)
°°
9. The Dance - Faithless (2) (2)
10. Lungs - Florence & the Machine (10) (1) ***


*mais de 300 mil cópias vendidas **mais de 500 mil cópias *** mais de 1 milhão **** mais de 1.5 milhões °° mais de 2 milhões

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