Depois de anos sendo um pop culture junkie, finalmente resolvi canalizar minhas energias em algo útil (assim, dependendo da sua perspectiva). Esse blog tem, portanto, o objetivo de documentar quem está causando na cultura pop mas não comentando do óbvio e sim antecipando tendências e o que está por vir. E-mail me @ tacausando@gmail.com. Mais sobre a nossa proposta.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

BRIT Awards 2010



Disclaimer: Os BRITs não foram exibidos na TV brasileira. Os interessados podem assistir a premiação inteira aqui.

Os BRIT Awards são a versão britânica dos Grammys, ou seja, a principal premiação musical do Reino Unido, o terceiro maior mercado fonográfico do mundo (após os EUA e o Japão) e considerado o grande centro musical do planeta. Assim como a cerimônia americana, nem sempre os melhores são reconhecidos porém, independente disso, os ganhadores e performers sempre recebem um impulso nas paradas após a exibição da premiação.


Nos EUA, para não entediar o público, os produtores tentam shake things up colocando um número diferente de premiações e performances a cada bloco, fazendo com que os apresentadores introduzam os prêmios de lugares diferentes (uma hora no palco, outra no palco central, outra no meio da platéia, etc) e, cada vez mais comum, se esforçando para causar drama e, assim, aumentar a audiência (os Grammy's colocando Gaga, Beyoncé e Taylor Swift uma contra a outra por exemplo).

Nos BRIT é tudo muito mais padronizado: a cada bloco, dois prêmios e uma performance. Antes de cada prêmio, o apresentador (esse ano, Peter Kay, um dos maiores comediantes do país), sempre parado no mesmo lugar, faz uma piadinha, introduz a celebridade encarregada de apresentar a categoria, a celebridade entra no palco, fala um pouquinho e anuncia o ganhador. As performances são curtas e todas são feitas apenas num palco principal, sem a utilização de passarelas ou de palcos centrais.

Porém, nem por isso os BRITs são entediantes: eles são bem mais curtos que as premiações estado-unidenses, tem uma atmosfera consideravelmente mais jovem e MUITO menos pomposa que o Grammy (os cenários lembram um pouco os dos VMAs e são inclusive feitos pelo mesmo cara, o Papa do set design Mark Fisher) e são menos cheios de cross-promotion e intervalos comerciais.


Lady Gaga: grande estrela da noite

Um dos problemas é que a premiação é feita sempre na enorme Earl Courts. O espaço é tão gigantesco que mal dá para ouvir o público aplaudindo ou rindo, o que cria a impressão de que eles sempre deixam os apresentadores e ganhadores no vácuo. Além disso, não existe um desespero tão grande por drama quanto nas premiações estado-unidenses (o que as vezes é meio chato porque a melhor coisa de award shows são as polêmicas).

Para o telespectador brasileiro, a premiação pode ser mais desinteressante que as americanas, afinal poucos dos artistas que se apresentam são conhecidos aqui. Mas, para mim, que sou fã da cultura pop britânica, a cerimônia é menos cansativa de assistir que grande parte dos prêmios americanos já que são curtos e diretos ao ponto (embora as americanas muitas vezes são mais fullfilling por serem bem mais grandiosas)

Diferente da televisão estado-unidense, onde palavrões estão totalmente banidos (a não ser na HBO), as pessoas adoram xingar na TV da Grã-Bretanha. Não existe quase nada fora dos limites depois das 10 da noite por lá. O único problema é que os BRIT são exibido as 8 e, por tanto, as palavras chulas são blipadas. E, pela quantidade de vezes que o áudio ficou mudo, ou a ITV1 estava com sérios problemas técnicos ou uma enorme parte das celebridades resolveu ignorar as advertências do apresentador que, logo no começo, pediu para que ninguém xingasse.

Além disso, todo mundo é muito mais eufórico e espontâneo no Reino Unido. Lily Allen, ganhadora de melhor cantora, teve uma crise de riso. O rapper Dizzee Rascal, que ganhou melhor cantor, começou a pular loucamente no palco. Geri Halliwell, ao apresentar o prêmio de revelação, deu uma alfinetada nos Kula Shakers, grupo que ganhou o prêmio ao invés das Spice Girls em 1997 ("alguém lembra deles?"). Ashton, do JLS, deu uma pirueta no ar no meio do acceptance speech deles quando levaram o prêmio de Best British Single. A mesa de Florence (& the Machine) estourou uma champagne. Todo mundo parece menos despreocupado e mais bêbado que os apresentadores e ganhadores das premiações americanas (os BRIT são, afinal, open bar. Vai ver é por isso que os produtores não se esforçam para criar drama: eles ficam na esperança que o open bar faça isso por eles).


Quem é a Ke$ha e quem é a Courtney Love?

Falando em gente despreocupada e bêbada, PORQUE DIABOS A COURTNEY LOVE FOI CHAMADA PARA APRESENTAR UM PRÊMIO? Será que essa foi a (péssima) tentativa dos produtores de trazer algum drama pra premiação? Porque, caso esse tenha sido o caso, o tiro saiu pela culatra: apesar dela estar parecendo um traveco sacoleiro (o governo brasileiro devia usar a imagem dela naquela campanha contra o crack que eles estão fazendo), Courtney apresentou o prêmio de Voto dos Críticos para Ellie Goulding sem nenhum imprevisto.

Alias, os apresentadores foram todos completamente aleatórios e, em grande parte, bem irrelevantes para o panorama pop atual: as Spice Girls Geri Halliwell e Mel B (podiam pelo menos ter trazido a Posh, né?), Cat Deeley (apresentadora do So You Think You Can Dance?), Seasick Steve (achei que era um mendigo mas, de acordo com o Wikipedia, ele é um cantor de blues americano), Mika, Ildris Elba (um ator britânico que é quase sempre coadjuvante em filmes de Hollywood), Tom Ford (estilista americano hiper bombado, dono de sua própria marca, famoso por revitalizar a Gucci e diretor de A Single Man, filme indicado ao Oscar), Samantha Fox (cantora dance pop dos anos 80), Principe Harry (via VT) e Noddy Holder (da banda dos anos 60 Slade).

Felizmente, a lista de performers foi consideravelmente melhor e mais coerente:



Lily Allen, uma das maiores exportações britânicas dos últimos anos, foi encarregada de abrir o show com uma grande performance patriótica do seu number 1 hit single The Fear. Lily em geral faz apresentações discretas mas esse não foi o caso nos BRITs. A performance em si foi boa e irreverente porém o trabalho das câmeras não me agradou em nada e eu tive a sensação que eu perdi vários detalhes por culpa disso. Lily derrotou Pixie Lott, Florence & the Machine, Bat for Lashes e Leona Lewis e levou para a casa o prêmio de Melhor Cantora Britânica, seu primeiro BRIT.

Depois foi a vez da boyband JLS animar o público com Beat Again (que também alcançou o primeiro lugar em meados do ano passado). Os garotos, que ficaram em segundo lugar na edição de 2008 do The X Factor, são o atual fenômeno pop britânico e o primeiro CD deles já ultrapassou 1 milhão de cópias vendidas. Pessoalmente, não sou um grande fã (boybands não pertencem a essa década na minha opinião) mas as jovens britânicos os amam. Prova disso é o fato deles terem levado todos os prêmios votados pelo público para a casa: Revelação do Ano e Single do Ano (por Beat Again). Como vocês podem notar pela ausência de vídeos, é IMPOSSÍVEL achar a performance deles no Youtube, no Dailymotion, etc.



Pop bomba muito nos BRITs. Mas é necessário pelo menos um representante do rock e quem cumpriu esse papel esse ano foi o Kasabian. A banda, cujo os últimos 2 CDs estrearam em primeiro lugar no país, cantou Fire em meio a chamas e, mais tarde, levou o prêmio de melhor grupo britânico (derrotando Muse, JLS, Friendly Fires e Dove).



Gaga transformou a animadíssima Telephone (seu próximo single que, na versão original, é um dueto com Beyoncé) numa balada. Como comentei na minha cobertura dos Grammy's, eu estou cansadíssimo de ver Gaga enfiando um piano em TODAS as suas apresentações mas nos BRITs ele teve uma boa justificativa: homenagear o estilista Alexander McQueen, que se suicidou semana passada.

McQueen era considerado pelos profissionais da moda o estilista mais talentosa da atual geração, um marca poderosíssima e era idolatrado por centenas de celebridades (Bjork, com quem ele freqüentemente colaborava; Rihanna; Sarah Jessica Parker; Kate Moss; Jessica Alba; Gwyneth Paltrow entre muitos outras). Com Gaga ele tinha uma relação especial: além de serem amigos, foi num desfile dele que a versão final de Bad Romance foi apresentada pela primeira vez e, mais tarde, ele foi responsável pelo styling do clipe. No palco, uma grande estátua mostrava a interprete usando uma das roupas que ela usa no clipe de Bad Romance (inclusive o sapato iconico de McQueen que ela ajudou a imortalizar). Depois da homenagem, Gaga emendou a ótima Dance in the Dark.

Gaga foi a grande ganhadora da noite, recebendo 3 prêmios (um recorde para uma artista internacional em uma só noite): Melhor Cantora Internacional, Melhor Álbum Internacional e Revelação Internacional (esse último votado pelo público).

A cantora é excepcionalmente popular na Grã-Bretanha: The Fame foi o segundo CD mais vendido do país no ano passado (até o momento, mais de 1.5 milhões de cópias foram comercializadas) e Poker Face o single mais comprado (Just Dance foi o terceiro maior sucesso de 2009).

Alias, a primeira apresentação dela numa premiação foram os BRITs do ano passado (putz, QUANTA COISA aconteceu em 1 ano). Na época, o primeiro single dela, Just Dance, tinha acabado de alcançar o topo no Reino Unido e grande parte da população ainda não era familiarizada com a interprete. Na cerimônia, Gaga foi chamada para participar da performance dos Petshop Boys.



Florence & the Machine e Dizzee Rascal estrearam You've Got the Dirtee Love, um mash-up entre You've Got the Love, música dela com Dirtee Cash, dele.

A performance foi um gigantesco sucesso, sendo o momento mais elogiado da noite. Após a apresentação, a música foi lançada no iTunes e foi direto para o primeiro lugar, deixando Everybody Hurts, single beneficente que todo mundo achava ser imbativel, para trás.

Florence foi a grande revelação do ano passado e levou para a casa o principal prêmio da noite: Álbum do Ano por Lungs.

Já Dizzee levou o prêmio de Melhor Cantor Britânico. Dizzee tem adorado trabalhar junto com as musas pops britânicas: além da colaboração com Florence, ele também lançara em breve um dueto com Lily Allen, com quem ele fará uma grande turnê mês que vem.



Jay-Z e a Alicia Keys cantaram o hit Empire State of Mind. A homenagem à Nova Iorque se tornou um excepcional sucesso no Reino Unido com a versão original alcançando o segundo lugar nas paradas e a versão solo de Alicia penetrando o top 5 britânico meses depois.

Jay-Z levou para casa o prêmio de Melhor Cantor Internacional. Já Alicia Keys não foi indicada a nada (afinal, o CD dela foi lançado apenas no fim de dezembro) mas, em 2010, a moça deve levar pelo menos um BRIT: seu novo CD, The Element of Freedom, tem causado muitíssimo na Grã-Bretanha e, atualmente, ele ocupa o topo das paradas.

Alias, quando o Jay-Z foi aceitar o prêmio (que foi apresentado pela Mel B), ele agradeceu as Spice Girls por terem sido "uma grande inspirarão". Tem como não amar?



A penúltima performance da noite foi da mulher mais amada e comentada na Grã-Bretanha: Cheryl Cole. Apesar do seu status como a "namoradinha do Reino Unido", Cheryl foi a única performer a não levar nenhum prêmio para casa: ela era a grande aposta para ganhar Single of the Year (por Fight for this Love, quarto single mais vendido de 2009 na Grã-Bretanha) mas a estatueta acabou indo para o JLS.

Cheryl fez uma grandiosa performance de Fight for this Love. A música ganhou um novo twist pois ela foi interpretada num remix que continha samples de Show Me Love (até Steve Angello, interprete original do sucesso dance, participou da apresentação).

A cantora provou que não não existe ninguém no país que causa tanto interesse no público quanto ela: o pico de audiência da noite foi durante sua performance.

Atualmente, Cheryl está de novo envolvida em um escândalo: seu marido, o jogador de futebol Ashley Cole, foi acusado de mandar fotos suas nú via celular para uma modelo bem vagaba.

Para quem não lembra, a confirmação de que Ashley tinha a traído, lá em 2007, foi vital para transformar Cheryl na mega estrela que ela hoje. Fight for this Love, foi feita para ele.

Cheryl fez playback o que, numa situação normal, faria com que a imprensa a comesse viva. Porém, no momento, como ela está envolvida num novo drama com seu marido, os tabloides foram bastantes generosos ("ela está sofrendo muito, seria impossível para ela cantar ao vivo") e as críticas, tanto da mídia quanto do público, foram majoritariamente positivas.





Para encerrar a noite, Robbie Williams fez um enorme medley que contou com todos os singles de seu atual álbum (Bodies, You Know Me, Morning Sun) e alguns de seus maiores sucessos: Let Me Entertain You, Supreme, Feel, Millenium, No Regrets e a icônica balada Angels (que, em 2005, foi votada pelo público dos BRIT como "a melhor música dos últimos 25 anos").

Eu não sou um grande fã de Robbie mas ele é o cantor pop britânico de maior sucesso das últimas décadas e um gigantesco fenômeno global. Com 17 BRITs, ele também é o maior ganhador da história dos prêmios. Não à toa, ele levou o prêmio de Outstanding Contribution to British Music para casa.

Em resumo: 90% dos prêmios foram levados por cantores que se apresentaram ao longo da noite. Meio suspeito, né?

Como já tinha mencionado, Ellie Goulding levou o prêmio de Escolha dos Críticos para a casa. Em 2006, o trófeu foi para Adele e, no ano seguinte, para Florence & the Machine. Ambas alcançaram enorme sucesso (Adele inclusive ganhou Best New Artist nos Grammys do ano passado). Além dos BRITs, Ellie ficou em primeiro lugar no prestigioso BBC Sound of 2010 onde centenas de críticos musicais e profissionais da indústria escolhem o artista que eles apostam que será o grande sucesso ao longo do ano (ganhadores anteriores: Adele, Mika, Corinne Bailey Rae, Keane e 50 Cent). Ou seja, Ellie é a grande esperança da indústria fonográfica britânicos para 2010. Curiosos? Confiram o primeiro single da inglesa de 23 anos, Under the Sheets.

Esse ano, foi a trigésima cerimônia dos BRITs. Por isso, foram criados dois prêmios especiais: BRITs Hit 30, que tinha como objetivo escolher a melhor performance da história da premiação e BRITs Album of 30 Years, para escolher o melhor álbum.



As Spice Girls foram as ganhadoras do BRITs Hit 30 pela performance de Wannabe e Who Do You Think You Are? na cerimônia de 1997. Para mim, a escolha fez total sentido, afinal foi a apresentação que mais teve repercussão mundial, entrando para a história da cultura pop: foi lá que Geri Halliwell, a Ginger Spice, introduziu ao mundo o icônico Union Jack Dress, o curtíssimo vestido com a bandeira do Reino Unido estampada que virou símbolo da Cool Britania (termo usado para nomear o segundo ápice da cultura pop britânica mundo afora). A performance é até hoje considerada como o maior registro das Spice Girls, o maior fenômeno britânico desde os Beatles, em seu ápice: no momento, não só elas tinham alcançado níveis inimagináveis para um grupo pop na Grã-Bretanha como também tinham acabado de conseguir um duplo primeiro lugar nos EUA: tanto na parada de singles (Wannabe) quanto na de CDs, a primeira vez que um ato britânico fazia isso desde os Fab Four quase 30 anos antes. A performance não só foi o grande momento dos BRITs, como também foi um dos momentos mais icônicos para a cultura pop dos anos 90.

Já o prêmio do BRIT Album of 30 Years foi para What's the Story Morning Glory do Oasis. De novo, a escolha foi completamente compreensível: não só os Oasis são a banda de rock mais popular do país, como o álbum, que incluía o hit mundial Wonderwall, é o quarto mais vendido da história da indústria fonográfica britânica.



Liam Galagher subiu ao palco para aceitar o prêmio e foi responsável pelo unico momento dramático e realmente não planejado da cerimônia: ele agradeceu a todos os membros com a exceção do irmão Noel, responsável por todos os hits da banda que recentemente deixou o grupo após um grande desentendimento com Liam, xingou loucamente e, depois, jogou o microfone e a estatueta que tinha acabado de receber para a platéia.

Enquanto Liam saia do palco, Peter Kay, o apresentador da noite, comentou: "que idiota". E, aparentemente, muita gente concordou com ele.



Evidentemente, os BRIT foram as manchetes de todos os jornais da Grã-Bretanha hoje: os broadsheets respeitados, como The Guardian e o Times, optaram por usar Gaga, a maior ganhadora da noite, na primeira página. Já o The Sun e o Daily Mirror, os tablóides com a maior circulação, optaram por Cheryl Cole. O tablóide Daily Mail resolveu ser unico e optou por estampar Lily na pagina inicial.

Todos os artistas ganhadores irão receber um grande impulso nas paradas da semana que vem, principalmente Florence (que tem chances de conseguir um duplo primeiro lugar: na parada de CDs e na parada de singles, com o dueto com Dizzee).

All in all, os BRIT não foram excepcionais mas foram agradáveis, divertidos e rápidos de assistir.

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