Depois de anos sendo um pop culture junkie, finalmente resolvi canalizar minhas energias em algo útil (assim, dependendo da sua perspectiva). Esse blog tem, portanto, o objetivo de documentar quem está causando na cultura pop mas não comentando do óbvio e sim antecipando tendências e o que está por vir. E-mail me @ tacausando@gmail.com. Mais sobre a nossa proposta.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Euphoooooooria: Eurovision 2012


Nesse domingo, o concurso de talento pan-europeu, o Eurovision, aconteceu em Baku, no Azerbaijão. Um enorme e super produzido show kitshy, o programa -- produzido pela European Broadcasting Association -- é o evento não-esportivo mais visto no continente e, ao longo de mais de cinco décadas, revelou, entre outros, o Abba (ganhadores pela Suécia) e Celine Dion (que, apesar de ser franco-canadense, ganhou pela Suíça).

Como vencedor do ano passado, o Azerbaijão ganhou o direito de sediar o evento esse ano. Apesar de ser algo estabelecido nas regras oficias do concurso, a decisão foi extremamente polêmica, afinal o país tem um péssimo histórico quando o assunto são direitos humanos e liberdade de expressão (para os interessados, recomendo esse documentário da BBC). 

De qualquer maneira, o Azerbaijão recebeu a oportunidade de braços abertos. Assim como as Olimpíadas ou a Copa do Mundo, o Eurovision é uma ótima oportunidade de promover o país sede perante uma audiência gigantesca pan-europeia, algo que parece muito vantajoso para um lugar cheio de belezas naturais porém relativamente obscuro e ignorado pelo turismo. E, diferente da maior parte do território europeu, que está falido e submergido em crises, a nação é cheia de dinheiro graças a enorme quantidade de petróleo em suas terras.

Por isso, vendo essa oportunidade impar de promover o país, os líderes de Estado resolveram investir 100 milhões de dólares no evento, um número bastante alto para algo que, diferente de outros grandes acontecimentos que duram semanas, tem uma duração total de apenas 3 horas. Para não perder o hábito, foi tudo feito perante protestos (silenciados a força) de corrupção e violação de direitos humanos mas, no final das contas, um suntuoso estádio foi construído e o país organizou um show espetacular e bem produzido, mantendo a tradição de grandiosidade que a European Broadcast Association tem tentando sustentar nos últimos anos para combater a reputação de "cafona" que o concurso carrega (mas né? Já dizia Countess LuAnn, money can't buy you class. Espetacular, bem feito e suntuoso? Sim. Mas ainda cafona).

Em troca do investimento, eles ganharam uma oportunidade valiosa de promover o país através de bonitas e bem produzidas vinhetas exibidas ao longo do programa mostrando tudo que ele tem a oferecer de bonito e atraente para os potenciais turistas europeus: linda arquitetura, belíssimos museus, chá, paisagens fantásticas (a parte dark do país -- e o fato dele ser comandado por uma mafia -- foi obviamente ignorado durante a transmissão mas, né? Detalhes).

O slogan desse ano foi Light your fire, uma referência ao fato de Baku ser conhecida como "cidade do fogo". E, para quem estava acompanhando o burburinho, a Suécia parecia ser a aposta mais segura de quem sairia como vencedor.


O que aconteceu esse ano foi algo similar aos acontecimentos de 2010 na Alemanha. Meses antes do concurso, a música entry do país (no caso, Satelite da jovem Lena) tinha se transformado num enorme fenômeno social, vendido centenas de milhares de cópias, ocupado o topo da parada de singles por semanas e enchido a população local de otimismo. Na hora H, não deu outra: a Alemanha venceu a competição.

Uma seqüência  de eventos bem parecida se desenrolou na Suécia: assim como Lena em 2010, Loreen foi escolhida como a representante do país num reality show de talento que atinge enormes audiências (no caso, o Melodifestivalen, uma tradição no país faz décadas). Sua entry, Euphoria, se transformou num enorme fenômeno social imediatamente após a cantora ter sido nomeada a vencedora e, meses antes da competição, a música já tinha atingido o topo das paradas locais e se transformado, em pouco mais de um mês, no single mais vendido do ano, alcançando 5x Platina e uma onipresença na mídia que não era visto fazia anos para uma canção do Eurovision.

E, quando chegou o momento, não deu outra: Loreen, com Euphoria, foi coroada a grande vencedora do Eurovision, sendo a quinta vez que a Suécia ganhou o concurso.

 

E não foi uma simples vitória, foi uma vitória arrasadora. O vencedor é escolhido por uma combinação de votos do público (que não pode votar no seu próprio país mas pode escolher a música favorita de outras nações) e do jurado. Mais de 1/5 de todos os votos do público computados foram para Loreen (lembrando que a Suécia não podia votar nela) e a música ganhou com 372 pontos, a segunda pontuação mais alta da história do concurso (atrás do norueguês Alexander Rybak que, em 2009, venceu com 387 pontos pela Noruega). Horas após o evento ter sido exibido, a música tinha alcançado o topo do iTunes de 14 países.

Um dos países que a canção arrasou depois da vitória foi o Reino Unido onde a música alcançou o primeiro lugar no iTunes e o terceira lugar nas paradas oficiais fazendo com que Euphoria se transformasse na primeira canção do Eurovision a alcançar o top 3 em mais de duas décadas.

Na Suécia, como não poderia deixar de ser, a vitória foi recebida com enorme histeria. Milhares de pessoas foram receber Loreen no centro de Estocolmo e até a Guarda Real Sueca comemorou fazendo uma rendition da música.


No fim, o Eurovision desse ano foi um sucesso coroando uma música universalmente elogiada (em contraste com a vitória extremamente esquecível e duvidosa do Azerbaijão no ano passado) e dando a vitória para a Suécia, um dos países que mais se entusiasmam com o concurso.

Alias, é interessante destacar que, enquanto a popularidade do Eurovision oscila bastante nas diferentes nações européias, a Suécia é um país que, entra ano e sai ano, se mantém com um interesse bem alto no concurso. Além disso, é um dos países que mais têm vitórias e, assim como no panorama pop em geral, onde as paradas internacionais são monopolizados por produtores escandinavos, a maior parte dos países participantes do concurso (Reino Unido, Espanha, Chipre, Grécia, Malta e até o próprio Azerbaijão) escolhem produtores suecos para produzir as músicas que representaram o país.

No mais, além de Loreen, as outras estrelas da noite foram as vovózinhas russas que ficaram em segundo lugar com Party for Everybody. Por mais que as vovózinhas de Buranov tenham conquistado a Europa, a música delas não esta exatamente pegando fogo nos iTunes mundo afora (ainda bem).

Loreen é recebido por multidão no centro de Estocolmo
Já os grandes perdedores foram as outras nações escandinavas e o Reino Unido. Tanto a Dinamarca quanto a Noruega tiveram péssimos resultados mas o UK teve uma das derrotas mais dolorosas afinal eles tinham até feito um esforço e mandado Engelbert Humperdinick, um cantor com bastantes achievments e certo reconhecimento mundial.

Alias, dado curioso, por serem os maiores contribuintes financeiros da European Broadcasting Association, o Reino Unido, a Alemanha, a França, a Itália e a Espanha tem entrada automática no concurso enquanto o resto das nações européias tem que participar de uma semi-final e podem não ser escolhidos para serem representados na final.

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