Depois de anos sendo um pop culture junkie, finalmente resolvi canalizar minhas energias em algo útil (assim, dependendo da sua perspectiva). Esse blog tem, portanto, o objetivo de documentar quem está causando na cultura pop mas não comentando do óbvio e sim antecipando tendências e o que está por vir. E-mail me @ tacausando@gmail.com. Mais sobre a nossa proposta.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Os novos Kardashians?


Esses barbudos ai de cima tem pouco em comum com as Kardashians e sua sensualidade californiana. Porém, desde que Kim & co. transcenderam as telas da televisão e criaram um império, não se vê uma família desatar tamanho fenômeno. Em muitos sentidos, os Robertsons já superaram as irmãs K. Mas quem são eles? De onde surgiram? (#GloboReporter)

A família Robertson foi apresentada ao público -- onde mais? -- num reality show. Eles operam um negócio familiar, Duck Commander, que comercializa produtos para caçadores de pato, tendo como carro chefe um duck call inventado pelo patriarca da família, Phil. Junto a sua fiel esposa Kay, ele teve cinco filhos que os ajudaram a transformar a empresa familiar num negócio altamente lucrativo, deixando-os ricos. O reality show, Duck Dynasty, mostra o cotidiano da enorme família, com foco em Phill; o seu irmão, Uncle Si e dois dos filhos mais envolvidos na Duck Commander, Willie, o CEO da empresa, e Jase, responsável por fabricar os produtos. Além dos quatro, várias esposas, filhos e netos integram a família, que representa bem o estereótipo de família caipira/conservadora sulista. Ilustrando bem a vibe do programa e de seus espectadores, todo episódio termina com a família inteira rezando, reunida em volta de um farto jantar preparado pela matriarca Kay.

A camaradagem e o senso de humor da família, combinado com os valores que refletem uma parcela gigantesca da população que não se vê representado na TV com frequência, fez de Duck Dynasty um gigantesco fenômeno. A estreia da quarta temporada, em agosto, atraiu 11.8 milhões de espectadores, se transformando no programa de não-ficção mais visto da história da TV a cabo e superando todas as ofertas da TV aberta do dia.

A família reunida
Porém, mais do que um fenômeno na televisão, o programa conseguiu transcender a tela e se transformar numa franquia de produtos que, só em 2013, irá lucrar mais de 400 milhões de dólares. Entre numa gigantesca de varejo nos EUA, principalmente no sul e nas regiões rurais, e você comprovará que, atualmente, não existe marca mais poderosa no país do que os Robertson

Foi no Wal-Mart, a maior rede de varejo do planeta, responsável por 25% das vendas totais de bens de consumo nos EUA, que a família mostrou seu verdadeiro poder de venda. A loja se deu conta que a família poderia ir além da televisão quando uma camisa gráfica com os quatro Robertsons principais se transformou no produto de vestimenta mais vendido da loja ao longo de 2012. Na época, a linha de produtos baseados na família e no programa estavam disponíveis em seis departamentos da rede; hoje em dia, todos os departamentos das 2.800 WalMart dos EUA estão cobertos de buginganga com os Robertson estampados, indo de DVDs a bandagens anti-bacterianas, passando por brinquedos, linha de roupa, roupa de cama, fantasia para cachorro, sacos de dormir, video games, toalhas de praia, CDs, brinquedos, tapetes, jogos de tabuleiro, charutos, cartões comemorativos, decoração de festa, óculos escuro, relógios, headphones, pendrives, aparelhos de som, bicicletas, itens de papelaria e milhares de outros produtos pertencentes a quase qualquer categoria imaginável. Em novembro, uma linha de maquiagem e de vinho baseados no programa foram postas a venda. Uma campanha televisiva, que anuncia a onipresença de produtos Duck Dynasty nas prateleiras das lojas, está atualmente sendo veiculada. A quem diga que é mais fácil encontrar produtos dos Robertson nas prateleiras da loja do que outras figurinhas carimbadas dos produtos licenciados como Bob Esponja, Barbie, Monster High ou Disney.



É verdade que o público da Wal-Mart, a líder incontestável do varejo mundial e um fenômeno de consumo sem igual nos EUA, reflete perfeitamente o público de Duck Dynasty (interiorano e conservador) mas o sucesso dos produtos é tão gigantesco que as outras gigantescas do varejo também estão se rendendo: a Target, outra big box store com um ar mais cool e urbano que a Wal-Mart, também oferece centenas de produtos Duck Dynasty e a Kohl's, a segunda maior loja de departamento do país, tem uma linha exclusiva de produtos baseada no programa e na família. Entre numa petshop e você irá encontrar uma linha de brinquedos (e fantasias) para cachorros baseado no programa. Entre numa Bed, Bath & Beyond e você encontrará cortinas de chuveiro com eles estampados. Até a rede de lojas de roupa para garotas pré-adolescentes, Justice, tem uma linha de camisetas Duck Dynasty. Isso sem falar a infinidade de produtos que você pode comprar online no Amazon ou, melhor ainda, no site oficial da empresa da família. E claro, pacotes de até 2 mil dólares também estão disponíveis para o Duck Commander Cruise, onde você poderá ver as estrelas do programa ao vivo (ou não. Os de 2014 já estão esgotados).

Os Robertson são um fenômeno tão gigantesco que eles invadiram até o mercado musical. Duck the Halls, um CD com sucessos natalinos cantado pelos integrantes da família, já obteve disco de ouro e ultrapassou 600 mil unidades vendidas desde seu lançamento, no final de outubro. Já Sichology, um livro baseado nos bordões do Uncle Si, também é um dos maiores sucessos editoriais do ano, com 700 mil cópias impressas enquanto The Duck Commander Family, escrito por Willie, já ultrapassou 1 milhão de unidades. Alias, a rede de livrarias Book-A-Millions notou um apetite tão gigantesco pelos livros que displays em todas as suas lojas vendem não só o livro mas também blusas, artigos de papelaria, bonés e outras bugingangas da família. Parece que nenhuma loja dos EUA quer ficar de fora do sucesso de consumo do ano.

Michael Stone, CEO da agência de licenciamento Beanstalk, acredita que, pelo menos quando o assunto é produtos licenciados, Duck Dynasty é um fenômeno com data de validade. Em entrevista a Forbes, ele compara o boom atual com o desenho animado South Park. Apesar de South Park ainda ser um sucesso televisivo, com episódios inéditos sendo uma das maiores audiências do Comedy Central, o apetite por merchandising baseado no programa é baixo. Isso é um contraste gigantesco com o final dos anos 90, quando South Park era a marca mais desejada do momento e a demanda era tanta que as lojas tinham dificuldade de manter seus estoques.

"Em Duck Dynasty, eles rezam no final de cada episódio. Isso é muito Middle America e é algo que ressoa enormemente com os consumidores da Walmart, o consumidor rural. Eles são o American dream, virando milionários através de trabalho árduo. Mesmo assim, as pessoas que ganham um salário minimo se identificam enormemente com eles", sintetiza Charlie Anderson, CEO da agência de marketing de varejo Shoptology.



Mas Anderson já previa que lidar com personalidades, principalmente personagens tão polarizantes, tinha seus perigos. E ninguém é um melhor exemplo disso que a cozinheira Paula Dean que, assim como os Robertson, criou um império baseado em sua imagem sulista. Porém, o império de Paula came crashing down quando Deen admitiu, em tribunal, que ela tinha usado um xingamento altamente racista nos anos 80. A revelação fez com que ela perdesse seus programas no Food Network e centenas de milhões de dólares em endorsement deal, com o Walmart, a Target, Kmart, a rede de farmácias QVC, as lojas de departamento JCPenneys e Sears, a editora Ballentine Books entre várias outras.

E claro, todo mundo sabia que, mais cedo ou mais tarde, alguém de Duck Dynasty ia meter o pé na jaca e fazer alguma declaração politicamente incorreta. Sure enough, em entrevista a revista GQ de janeiro, o patriarca da família, Phil, comparou homossexualidade com bestialidade e foi mais longe:  “Não se engane. Nem os adulteros, nem os idolatradores, os prostitutos, os homossexuais, os bêbados, os arrogantes, os ladrões -- eles não vão herdar o reino de Deus. Não se engane, essas coisas não são certas” (também na entrevista: afirmações polêmicas sobre o sul e Louisiana pré-direitos civis).

E voila, estrago feito e agora estão todos em damage control. A A&E, dona da propriedade e desesperada para manter o império intacto, agiu rápido anunciado que Phil será afastado do programa por tempo indeterminado. A Walmart se recusou a comentar mas a editora Simon & Schuster já afirmou que irá manter os livros baseado no programa em circulação.

A reação brutal em relação a Deen foi uma consequência de um amontoado de outras pequenas controvérsias: durante anos, a cozinheira foi criticada pelas suas receitas altamente gordurosas e com quantidades obscenas de manteiga. As críticas atingiram novas dimensões quando a cozinheira, motivada por um contrato publicitário com um remédio, admitiu ser diabética. As alegações de racismo foram apenas a gota d'água.

Por outro lado, Duck Dynasty está no seu ápice e, até agora, a família se manteve afastada de qualquer polêmica. Porém, as declarações de Phil foram a primeira rachadura na marketability da família e, de agora em diante, todo cuidado é pouco.

Mas, enquanto isso, o marketing frenzy continua. Essa semana, a dois meses de seu lançamento, Duck the Halls, o CD da família, se mantém na sexta posição entre os dez álbuns mais vendidos da semana. Já a internet está pegando fogo, com milhares de fãs de Duck Dynasty defendendo Phill e atacando a decisão do A&E em suspendê-lo. Uma página apoiando o patriarca já acumula 1.3 milhão de curtidas em menos de 48 horas e um abaixo assinado protestando a suspensão já obteve mais de 100 mil assinaturas (e um segundo abaixo assinado, divulgado pelo Faith Driven Consumers, está perto de chegar a 200 mil). A família já divulgou um statement repudiando a decisão do A&E e as ameaças a executivos do canal são tantas que a sede do A&E em Manhattan aumentou o número de seguranças. 
___

Fun fact: Isso era eles antes da fama


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem sou eu

Minha foto
21, Rio de Janeiro.