A Alemanha gosta bastante de reality shows de talento. A versão de American Idol deles, Deutschland sucth den Superstar, goza de grande popularidade faz quase uma decada. Até Popstars, aquele reality que nos trouxe o Rouge e o Br'oz, continua no ar por lá (só lá. Ele já foi aposentado em todo o resto do mundo).
Apesar de todo esse apetite por shows de talento, o maior deles, o Eurovision -- um gigantesco sucesso em todo continente -- não vinha causando nenhum interesse no país nos últimos anos.
O Eurovision é um tradicionalissimo concurso de talento anual. O conceito é bem simples: cada nação européia manda um representante. Cada um deles canta uma música especialmente feita para o evento (em geral, um pop bem kitshy) e, no fim, algum país é escolhido vencedor.
O Abba, por exemplo, ficou famoso depois de representar a Suécia no Eurovision de 1974. E eles são, alias, o ato que melhor representa o concurso: extremamente colorido, kitshy, pop e bem gay.
Todo mundo finge não levar o Eurovision a sério mas, todo ano, o país que ganha fica mega eufórico e a população fica toda histérica. Além disso, os números de audiência também mostram que o público se interessa bastante pelo programa: a emissão é o evento não-esportivo mais visto no continente, sempre atraindo audiências altíssimas.
Na Alemanha, porém, o interesse no evento era baixíssimo faz anos. Afinal, a única vez que eles ganharam foi a quase três décadas, em 1982. Porém, os executivos da ARD -- o canal estatal que detém os direitos de exibição do concurso -- estavam decididos a fazer o programa voltar a ser relevante.
Para isso, eles se juntaram com a ProSieben -- um dos principais canais privados -- e Stefan Raab -- uma das maiores personalidades televisivas do país -- e criaram o reality de talento Unser Star fur Oslo (ou, em português, Nossa Estrela para Oslo)
Como o título do programa indica, o vencedor ganharia a chance de representar o país em Oslo, que sediaria a edição desse ano do Eurovision (como a Noruega tinha ganho em 2009, eles abrigaram a edição desse ano).
De cara, Lena Mayer-Landrut se destacou. Ela tinha uma voz peculiar, era bastante jovem (ainda estava no último ano do ensino médio), tinha uma aparência de girl next door combinada com uma personalidade peculiar e, apesar de nenhuma preparação profíssional, bastante presença. Não surpreendentemente, ela acabou sendo coroada a grande vencedora do programa.
Sua interpretação de Satelite, a música escolhida para representar o país na competição, foi direto para o topo das paradas de singles alemãos. Com mais de 100 mil cópias vendidas em uma semana, a música quebrou recordes de venda e se transformou num dos singles digitais mais bem sucedidos de todos os tempos (mais de 600 mil cópias foram vendidas até o momento) na Alemanha.
Na semana que procedeu a final do programa, além de ocupar o topo com Satelite, a garota de 19 anos ocupou o segundo e o terceiro lugar com Bee e Love Me, outras duas músicas inéditas que ela cantou durante o reality. Foi a primeira vez na história das paradas alemãs que um artista dominou o top 3 dos singles mais vendidos.
Apesar de pouquíssimas aparições entre a final do reality e o Eurovision (ela precisava estudar para sua prova de conclusão de Ensino Médio), Lena virou um gigantesco sucesso: seu álbum, lançado as pressas, foi direto para o primeiro lugar. Sua personalidade peculiar -- ela simplesmente se recusa a falar sobre qualquer assunto particular (família, crenças, etc) -- só aumentou a fama da jovem. Como todo grande sucesso, ela também atraíu uma grande quantidade de haters.
Para a insatisfação deles, porém, a garota agradou os juízes do Eurovision e acabou sendo coroada a grande vencedora da edição desse ano do programa, provando que a febre Lena ainda mal tinha começado.
Depois da vitória, a música de Lena -- que já tinha ocupado o topo por cinco semanas consecutivas -- voltou para o primeiro lugar no país. Além disso, Satelite também alcançou o topo em outros seis países (Dinamarca, Noruega, Suécia, Suíça, Finlandia e Irlanda). Mais que isso, a missão da ARD foi extremamente bem sucedida: o Eurovision desse ano bateu recordes de audiência na Alemanha e se transformou na edição mais vista dos últimos 30 anos no país.
A vitória de Lena foi extremamente comemorada pela nação. A garota foi manchete em absolutamente todos os jornais: desde o Handelsblatt -- especializado em comércio e econômia -- até o Bild, um tablóide no estilo The Sun com uma circulação astronômica, que dedicou toda sua primeira pagina a garota, incluindo a manchete "LENA, NÓS TE AMAMOS".
"Graças a Lena, finalmente, o resto da Európa gosta da gente", observou o tablóide.
O papel do país na Primeira e na Segunda Guerra Mundial não criou exatamente uma imagem muita positiva deles para o mundo e, por isso, o povo de lá é extremamente inseguro em relação a imagem que o país projeta para o resto do planeta. Mais do que isso, eles não tem muito comforto para se mostrarem patriotas (afinal, para muita gente, patritotismo alemão = nazismo). Por isso, quando o país se destaca na Copa ou num evento internacional como o Eurovision, a população inteirva vibra, já que finalmente eles tem um motivo legítimo para ficar orgulhosos de seu país.
Além disso, a vitória no Eurovision ressoou tanto no país pois deu a Alemanha -- no meio de sua maior recessão desde a Segunda Guerra Mundial -- um motivo para comemorar.
"Lena impressionou a Alemanha e conquistou corações por toda Europa", disse a chanceler Angela Merkel. "Ela é uma embaixadora para o nosso país. Em apenas uma noite, ela provou, com muito charme, que alguns velhos estereótipos que são atribuídos a Alemanha são equivocados", afirmou Guido Westerwelle, Ministro de Relações Internacionais.
A garota foi recebido como uma heroína na sua volta para a Alemanha: milhares de pessoas (40 mil, estimou o não muito confiável Bild) a esperavam nas ruas de sua cidade natal Hannover, onde foi recebida pelo prefeito, debaixo da chuva.
Na sua primeira coletiva de imprensa pós vitória, Lena deu a entender que, no próximo ano, irá representar o país mais uma vez no Eurovision, sendo apenas a terceira vencedora a fazer isso. Particularmente, não acho essa decisão muito inteligente: a garota deveria se esforçar para se estabelecer como uma artista bem sucedida e não ficar com sua imagem eternamente vincluada ao Eurovision. Claro que, se ela ganhar pelo segundo ano consecutivo, sua popularidade irá crescer ainda mais porém as chances disso acontecer são poucas. Como se isso não fosse o suficiente, a ProSieben ainda vai perder a oportunidade de fazer uma segunda edição do bem sucedido reality show de talento.
Enfim, na minha opinião a grande coisa sobre Lena não são suas músicas (acho elas meio boring) mas sim sua personalidade. Se recusar a falar sobre sua vida pessoal ("eu escolhi a fama, não meus amigos e família", ela diz para entrevistadores) é algo que eu acho bastante interessante nela. Sua sinceridade e falta de vergonha sobre sua falta de experiência também me parece algo positivo.
Agora só falta a Alemanha ganhar a Copa (algo que, por mais que doa a nós, brasileiros, admitir, tem muitas chances de acontecer) para o país explodir em extase. A econômia pode estar uma merda (para padrões alemãos, né?) mas nada melhor do que um monte de troféu para levantar o ego de qualquer nação (principalmente, uma cheia de cicatrizes e insegurança).
Lena e Stefan Raab desembarcam em Hannover depois da vitória no Eurovision.
Tio André, ainda estou esperando saber o que você achou do album Bionic. Achou justo a flopada? E outra coisa, tem planos de comentar M.I.A.? O CD novo dela /\/\/\Y/\ ta bem explosivo, uma loucura. E tem uma música chamanda Teqkilla que é ótima para cantar bêbado, haha
ResponderExcluirps: qual seu twitter novo? eu tava seguindo você mas apagou, né? (ou me tirou de lá,haha)
Meu Twitter novo é saideperto ;)
ResponderExcluirabraços