Depois de anos sendo um pop culture junkie, finalmente resolvi canalizar minhas energias em algo útil (assim, dependendo da sua perspectiva). Esse blog tem, portanto, o objetivo de documentar quem está causando na cultura pop mas não comentando do óbvio e sim antecipando tendências e o que está por vir. E-mail me @ tacausando@gmail.com. Mais sobre a nossa proposta.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Cobertura: Grammy's e BRIT Awards


Rihanna: uma das performers que teve que suar para estar nas duas premiações em L.A. e Londres em menos de 24 horas

Esse ano, o Grammy e os BRIT Awards aconteceram na mesma semana: o primeiro no domingo, dia 13, e o segundo na terça, dia 15. A diferença de menos de 24 horas entre os dois prêmios (graças ao fuso horário gigantesco entre Grã-Bretanha e Califórnia) deve ter dado uma dor de cabeça entre os artistas marcados para se apresentar em ambos como Rihanna, Cee-Lo Green, Mumford & Sons e Arcade Fire.

O Grammy, como todo mundo sabe, é a principal premiação de musica dos EUA. Já os BRIT é o equivalente britânico. Embora ambos exerçam a mesma função (basicamente, aumentar as vendas de CD nos primeiros meses do ano, onde os números são bem baixos), existem alguma diferença entre eles.

Para começar, os Grammy's são MUITO mais pomposos. Com uma duração de três horas, ele é muito elegante e classudo e cheio de pompa. Os BRIT, por sua vez, é bem mais "pop" e jovem, com uma duração de apenas uma hora e meia, muito menos categorias técnicas e um clima mais descontraido (lembrando talvez mais os VMAs da MTV).

Além disso, ambas as premiações são meio duvidáveis no quésito qualidade, sempre dando prêmios não muito merecidos. Os critérios de premiação do Grammy são risíveis, com eles as vezes premiando artistas apenas pelas vendas (Taylor Swift por Melhor Performance Vocal e Álbum do Ano? Sério?) e as vezes optando por artistas ~underground que são totalmente esquecidos uma semana após a exibição da premiação (case in point: o irrelevante grupo de jazz Steely Dans ganhando Álbum do Ano em 2001 ao invés do icônico Marshall Matters LP de Eminem). Sem mencionar o fato deles ignorarem completamente muito dos artistas mais importantes da história, como David Bowie e, durante anos, Madonna.


Sempre discreta, Gaga chega nos Grammy's dentro de um ovo

Por outro lado, os BRIT não são muito melhores nesse aspecto, com eles não escondendo o fato de que o prêmio irá necessariamente para quem aceitou se apresentar no programa. Cee-Lo Green era o unico indicado a Best International Male que estava presente e, conseqüentemente, o prêmio foi para ele (apesar de que Eminem, com Recovery, tinha sido o ato com as melhores vendas, melhores críticas e tinha obtido o maior hit do ano anterior no país com Love the Way You Lie).

Mas enfim, apesar dos pesares, as premiações são divertidas de se assistir pelas performances e pelas celebridades e, na semana seguinte aos prêmios, os vencedores e performers se beneficiam de grandes aumentos nas vendas de seus álbuns.

Os Grammy's teve a audiência mais alta da última década com 26.55 milhões de telespectadores. Isso pode ser atribuido, em parte, a todo o hype envolvendo Lady Gaga que iria fazer a sua primeira apresentação de Born this Way na premiação.



Acostumada a causar, Gaga chegou no tapete vermelho dentro de um ovo, carregada pelos seus bailarinos e ela "nasceu" durante a performance, a segunda da noite. Apesar da grandiosidade da entrada, a apresentação foi muito mais contida do que se espera de Gaga o que fez com que ela fosse elogiada por alguns (a voz dela estava perfeita) e criticada por muitos outros (que esperavam que depois de todo o hype seguido de decepção com o primeiro single, Gaga fizesse algo inquestionavelmente incrível durante a premiação).

A premiação foi aberta por um tributo a Aretha Franklin. Participaram dele Florence (& the Machine), Yolanda Brown, Jennifer Hudson, Martina McBride e Christina Aguilera. Christina, apesar do fracasso de seu último CD, foi inquestionavelmente a estrela da performance, posicionada no centro (com um TRIPÉ VERMELHO.
Sindrome de atention whore?) e cantando os versos principais.

Todos os olhos estavam em Aguilera pois, menos de uma semana antes, ela tinha sido responsável por cantar o hino dos EUA no Superbowl, o maior evento esportivo dos EUA e a maior audiência televisiva do ano, e, nervosa, errou a letra. Nos Grammy's, Christina calou os críticos com uma performance vocal arriscada mas, pasmem, ela caiu no palco no fim da performance (por sorte, foi quase imperceptível).

Apesar de Christina ter sido a grande estrela, Florence foi a mais beneficiada, com as vendas de seu CD, Lungs, crescendo 42% na semana seguinte a premiação.

Mais quais foram consideradas, unanimamente, as melhores performances?

Sem a menor duvida, Cee-Lo Green e os britânicos do Mumford & Sons.



Com uma performance coloridíssima e irreverente, incluindo Cee Lo vestindo penas de pavão, um pug dançante, Muppets e participação de Gwyneth Paltrow, Fuck You (em sua versão censurada Forget You, é claro) foi um dos pontos altos da noite.

A apresentação foi tão bem recebida que Fuck You foi, depois de 26 semanas na parada, catapultado a segunda posição do Hot 100 da Billboard graças as vendas de 426 mil unidades da música no iTunes. Em qualquer semana, isso seria o suficiente para a primeira posição porém Cee-Lo teve o azar de ter como concorrente Lady Gaga que também foi beneficiada pela apresentação nos Grammys. Com 520 mil cópias, Gaga se transformou num dos casos raríssimos onde uma música que quebrou recordes em sua semana de estréia aumenta as vendas na semana seguinte.

Porém, Cee-Lo continua na corrida para o topo nas próximas semanas. Desde que a performance foi ao ar, airplay nas rádios estado-unidenses continuam crescendo dia após dia em velocidade assustadora.



A outra grande performance da noite foi a dos britânicos do Mumford & Sons. O grupo tinha vendas bastante satisfatórias nos EUA, com mais de 600 mil cópias de Sigh No More comercializadas, mas, apesar do sucesso do álbum, eles não eram conhecidos pelo grande público.

Isso mudou após a apresentação (em conjunto com os Avery Brothers e Bob Dylan que, alias, foi a pior apresentação da noite) de The Cave no Grammy.

Minutos após a performance, os Mumford estavam em primeiro nos Trending Topics do Twitter e também entre os mais buscados no Google. A música The Cave penetrou o top 10 do iTunes e o CD vôou para o primeiro lugar nos mais vendidos do aplicativo da Apple e também no Amazon.com, principal site de vendas.

Com apenas 24 horas dos efeitos do Grammy contabilizado, as vendas de Sigh No More já tinham aumentado 99% para 49 mil cópias, o suficiente para a segunda posição na parada de CDs. Na semana seguinte, com seis dias extras pós-Grammy, o álbum vendeu mais 144 mil unidades e está cada vez mais próximo de ultrapassar a barreira do milhão nos EUA.




A apresentação de Eminem, que contou com participações de Adam Levine, Dr. Dre e Rihanna, também foi bastante elogiado. O CD, o álbum que mais vendeu no ano passado nos EUA, viu suas vendas crescerem 61%, com 60 mil unidades de Recovery vendidas, o suficiente para aparecer em sexto lugar entre os mais vendidos da semana. A nova música de Dr. Dre, I Need a Doctor, cantada durante a apresentação de Eminem, foi a mais beneficiada, vendendo 238 mil cópias e voltando para o top 10.

E quanto aos grandes vencedores da noite, Lady Antebellum e Arcade Fire.

O grupo country ganhou, com a música Need You Now, os prêmios de Record of the Year e Song of the Year (qual a diferença entre essas categorias segue sendo um grande mistério). Já os canadenses do Arcade Fire desbancaram Eminem e Gaga para ganhar o principal prêmio da noite: Album of the Year.

Sinceramente, acho que o prêmio deveria ter ido para Gaga por The Fame Monster. O álbum era realmente muito bom e o impacto que ele causou ao longo do último ano foi muito maior que o do Arcade. Mas, enfim, é óbvio que o prêmio ia para a opção mais ~indie.


Alias, foi tudo meio falso, né? Ou foi só coincidência o fato do Arcade ter sido os performers a cantarem logo antes do anúncio final e, logo depois de aceitarem, cantarem outra música encerrando o show? Ridiculo.

Tanto Lady Antebellum (numa performance fraquinha que não fez jus a música) e Arcade Fire se apresentaram ao longo da noite.

Esperanza Spalding, artista jazz que chocou todo mundo ao ganhar Best New Act ao invés de Justin Bieber (particularmente, achava que o prêmio ia para Florence & the Machine que, alias, merecia bem mais que Esperanza), viu suas vendas crescerem 476% em relação a semana anterior com 18 mil unidades.

Bruno Mars, ganhador de Best Male Pop Vocal Performance por Just the Way You Are, se apresentou junto com o B.o.B. e a hypada Janelle Monae. Ele também viu as vendas de seu CD, Doo-Woop & Hooligans, crescerem 55%, o suficiente para a quinta posição nas paradas de CDs.


Além de cantar o hit Love the Way You Lie (part II) com Eminem, Rihanna ainda teve uma apresentação solo que contou com a participação de Drake. Os dois cantaram, pela primeira vez juntos, o giga hit de Rihanna, What's My Name?, numa das performances mais hot da noite.

Outra popstar do momento, Katy Perry, também teve seu momento. Ela cantou Just Like the Movie, com projeção de imagens do casamento da cantora com o comediante britânico Russel Brand (primeira vez que o público viu qualquer imagem da cerimônia, que tinha sido muito bem protegida), e seu mega hit Teenage Dream.

Miranda Lambert, cantora country que abocanhou grande parte dos prêmios do gênero, cantou The House That Built Me; Muse, o maior ato rock do último ano, cantou Uprising; Norah Jones, John Mayer e Keith Urban homenagearam Dolly Parton com uma rendition de Jolene; Justin Bieber se juntou com Jayden Smith e Usher para uma performance que incluiu Baby, Never Say Never e OMG. A noite também contou com uma apresentação de Barbara Streisend, uma das homenageadas da noite.

Menos de 24 horas depois, no BRIT Awards, os Mumford & Sons, grandes beneficiados do Grammy nos EUA, ganharam o British Album of the Year, o principal prêmio da noite no BRIT Awards. Os Mumford também cantaram Timshel na cerimônia.



Adele e Tinie: as grandes estrelas da noite


Nas paradas britânicas, Sigh no More, o CD da banda, subiu 13 posições em relação a última semana, chegando a segunda posição. Essa é a posição mais alta que o álbum alcançou, ultrapassando a terceira posição obtida faz 19 semanas. O CD vendeu 45 mil cópías.

Felizmente para Justin Bieber, nenhuma concorrente "surpresa" roubou dele o prêmio de Best International Breakthrough (Revelação Internacional). A surpresa mesmo foi na categoria British Female Act, onde a grande vencedora foi a desconhecida Laura Marling (num prêmio que, sinceramente, deveria ter ido para a Ellie Goulding).

Como já disse lá em cima, o BRIT Awards decide os performers com base em para quem eles vão dar o prêmio e vice-versa. Então, de todos os vencedores, só Laura Marling e Justin Bieber não se apresentaram durante a noite. Biebs, porém, mostrou o quanto queria vencer ao voar dos EUA para Londres só para aceitar o prêmio (e OK, promover seu filme Never Say Never).

No ano passado, a performance ao vivo de Florence (& the Machine) com o rapper Dizzee Rascal foi lançada no iTunes e a versão fez tanto sucesso -- alcançando a segunda posição e ficando quase dois meses no top 5 -- que, esse ano, todas as performances ao vivo (com exceção do medley de Rihanna) foram disponibilizados no aplicativo da Apple.

E, surpresa, o número 1 da semana nas paradas oficiais foi Someone Like You de Adele, cuja versão ao vivo foi direto para o topo do iTunes, ultrapassando com facilidade o lançamento mais hyped do ano, Born this Way da Lady Gaga.

Adele foi a unica performer da noite a não ser indicada a nenhum prêmio (pois não lançou nenhum álbum em 2010) mas ela foi, sem duvida, a grande estrela da noite, com sua apresentação emocionando o público e fazendo com que a música, que não é nem sequer um single oficial, subisse nada menos do que 46 posições nas paradas, ocupando o topo do single charts britânico e dando a jovem de 22 anos seu primeiro single número 1 nas paradas (tanto Chasing Pavement, do seu álbum anterior, quanto Rolling in the Deep, o primeiro single do seu atual CD, tinham empacado na 2ª posição).



A noite foi aberta pelo Take That que cantou Kidz, o segundo single do último álbum deles. A banda, que é inquestionavelmente o grupo de maior sucesso no país desde os Oasis nos anos 90, levou para casa o prêmio de Best British Band.

Tinie Tempah, um dos maiores vencedores da noite (British Single of the Year, por Pass Out, e British Breakthrough), fez um medley de três dos seus maiores hits de 2010: Pass Out, Writen in the Stars e Miami 2 Ibiza. Com as vitórias do rapper, o álbum dele, Disc-Overy, sobe 19 posições em relação a semana anterior e ocupa a sexta posição na parada de CDs britânicas, com vendas de 29 mil unidades.




Alias, quase todo mundo fez medley ao longo da noite. Plan B, ganhador de Best Male Artist, cantou She Said/Prayin'
enquanto Rihanna, Best International Female, cantou Only Girl, S&M e What's My Name.

Loud de Rihanna é presença fixa no top 10 de álbuns mais vendidos do UK desde que o CD foi lançado, em novembro, mas Plan B viu seu Defamation of Strickland Banks subir 18 lugares (7ª posição) e finalmente ultrapassar a barreira de 1 milhão de unidades vendidas graças a premiação.

Os canadenses do Arcade Fire também mal tiveram tempo para comemorar a grande vitória no Grammy uma vez que eles tiveram que voar para Londres quase que imediatamente após a premiação. A banda também foi premiada nos BRIT, Best International Band e Best International Album, onde cantaram Ready to Start.

E a noite foi fechada por Cee-Lo Green com uma performance bem inferior a dos Grammy's. Os produtores obviamente estavam tentando recriar o sucesso de Dizzee e Florence colocando Paloma Faith para cantar em dueto com Cee Lo mas o resultado foi decepcionante, principalmente comparado com a apresentação showstealer do cantor menos de 24 horas antes em Los Angeles.




Enfim, eu gostei das duas premiações esse ano. Mas os BRIT foram mais satisfatórias uma vez que eles tiveram metade do tempo e, conseqüentemente, foram muito menos entediantes.

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