Depois de anos sendo um pop culture junkie, finalmente resolvi canalizar minhas energias em algo útil (assim, dependendo da sua perspectiva). Esse blog tem, portanto, o objetivo de documentar quem está causando na cultura pop mas não comentando do óbvio e sim antecipando tendências e o que está por vir. E-mail me @ tacausando@gmail.com. Mais sobre a nossa proposta.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Retrospectiva 2010: UK Music Scene (parte 2)

Consolidações

Ter um CD de enorme sucesso é incrível para qualquer artista. Mas a consolidação do mesmo só vem quando analisamos os resultados do segundo CD. Quantos zilhões de atos tiveram enorme buzz e vendas com seu primeiro CD e despontaram para o anônimato com o segundo? Jewel vendeu 15 milhões de cópias com seu primeiro CD e nunca conseguiu repetir o sucesso; Alanis Morissette vendeu 33 milhões com Jagged Little Pill; James Blunt, 12 milhões com Back to Bedlam; Mika, 6 milhões com Life in Cartoon Motion e assim por diante. Nenhum desses artistas conseguiu comercializar nem perto da metade das vendas dos seus primeiros álbums com o follow-up.

Em 2009, as
consolidações na cena britânica foram Lily Allen e Paolo Nutini. Ambos conquistaram gigantesco sucesso de crítica e de vendas com seu primeiro CD e também com seus segundos lançamentos.



E em 2010, apesar de não ter lançado nenhum álbum, quem se mostrou uma força na cena musical foi Adele.

Adele surgiu em 2007 quando, depois de ser descoberta no MySpace, ela foi contratada pela XL Records. Seu primeiro single, Hometown Glory, alcançou o top 20 (19ª posição) e o segundo, Chasing Pavement, explodiu, alcançando a 2ª posição. Rapidamente, Adele foi abraçada pela crítica e os executivos musicais apostaram suas fichas no sucesso da cantora, resultando nela ter ganho a enquete da BBC The Sound of the Year e também o BRIT Critics Choice no BRIT Awards.

O álbum, 19, nomeado assim porque ele foi escrito quando a cantora tinha 19 anos, estreou em primeiro lugar e, ao longo do ano, vendeu 600 mil cópias.

Depois de alcançar sucesso no Reino Unido, o CD explodiu nos EUA graças a participação de Adele no Saturday Night Live. O programa foi ao ar perto das eleições e as paródias de Tina Fey da candidata a vice-presidência republicana Sara Palin tinham se tornado um gigantesco fenômeno no país. A intérprete deu a sorte de ser convidada para cantar exatamente no episódio em que a Sara Palin real interagiria num sketch com Tina Fey. A emissão atraíu 17 milhões de pessoas, um recorde histórico para o programa, e Adele impressionou os telespectadores, fazendo com que seu álbum fosse catapultado nas paradas americanas, onde acabou vendendo mais de 1 milhão de cópias (a vitória de Adele como Best New Artist no Grammy de 2009 impulsionou ainda mais as vendas do CD).


Adele com seus Grammys: consolidação nos EUA

Sucesso na Europa e nos EUA, reconhecimento crítico, um monte de prêmios. A "consolidação" de Adele não parece exatamente uma surpresa quando se vê assim.

E, quando você leva em conta o talento e a voz de Adele, realmente, não é uma surpresa. Mas, ao mesmo tempo, não tem prêmios nem sucesso comercial em todo o planeta que garanta que uma artista vá conseguir se manter no topo depois de um debut elogiadissimo.

Principalmente uma artista como Adele que foi catapultada por ser parte de um fenômeno muito especifico da época. Em 2008, a grande moda da indústria eram cantoras britânicas com vozes poderosas e influenciadas pelo soul e pelas divas negras americanas dos anos 60. E quando alguém explode por ser parte de um fenômeno específico, uma vez que esse fenômeno passa, é díficil o artista se manter, não importa o quão premiado ele foi durante o período.

Além disso, mesmo enquanto ela estava fazendo gigantesco sucesso, Adele estava sendo ofuscada não só por Amy Winehouse, cujo Back to Black é um dos maiores fenômenos da atualidade com mais de 10 milhões de cópias vendidas e é o responsável por criar o fenômeno do qual Adele fez parte (cantoras brancas e britânicas com pegada soul e vozeirão) mas também por Duffy, parte do mesmo fenômeno, cujo Rockferry vendeu 6 milhões de cópias. Perto do gigantesco sucesso das duas cantoras, os 2.1 milhões de cópias de 19 pareciam modestos.



Depois de um começo forte em 2009, graças a vitória de Adele nos Grammy's, as vendas do CD se acalmaram ao longo do ano. Então como que, apesar de não ter lançado nenhum novo material em 2010, Adele se consolidou no ano passado?

No segundo semestre do ano, o reality de talento The X Factor, o maior fenômeno televisivo do Reino Unido, reestreou nas TVs britânicas para sua sétima temporada. E uma das músicas mais populares nas audições? Make You Feel My Love, um cover de Bob Dylan que foi lançado como o último single do CD no fim de 2008 e não tinha causado nenhum impacto.

Cada vez que a música era cantada no programa, mesmo que por cantores que não passavam pela primeira eliminatória, ela subia no iTunes e as vendas estavam tão forte que a música ganhou nova vida e voltou a tocar nas rádios e nos canais de música. Com isso, Make You Feel My Love alcançou a quarta posição na parada ofícial britânica dois anos após ter sido lançada e se transformou na música oficial do natal no país, tocando sem parar ao longo dos holidays de fim de ano.



O sucesso da música fez com que o álbum, 19, voltasse para o top 10 de CDs mais vendidas e fez com que o público lembrasse o quão boa Adele realmente é.

Porque sim, Adele foi bastante reconhecida quando seu álbum foi lançado em 2008. Mas, ao mesmo tempo, ela foi ofuscada pelas outras cantoras do mesmo gênero. Porém, toda vez que o público parava e ouvia, todo mundo concordava que ela era incrível. Nos EUA, até conseguir o slot no Saturday Night Live, Adele tinha sido ignorada. Uma vez que as pessoas pararam para ouvir, elas se apaixonaram. No Reino Unido, o mesmo aconteceu com o single de Make You Feel My Love: ele foi inicialmente ignorado, mais uma vez que as pessoas ouviram de verdade, elas se encantaram pela música e, mais do que isso, foram atrás do CD.

O sucesso de Adele no segundo semestre de 2010, com uma música lançada em outubro de 2008, e a segunda vida que o CD ganhou, apesar de já ter alcançado sucesso dois anos antes, foi o que consolidou Adele e preparou o público para um retorno mais que triunfal com o segundo álbum da cantora, 21.

Mas o sucesso de 21 é assunto para outro post...

Fracassos



O fracasso mais retumbante do ano foi
Duffy.

A cantora de 26 anos, nascida no País de Gales, é o maior exemplo de tudo que eu falei ai em cima. Seu álbum foi um gigantesco sucesso, vendeu milhões, ganhou todos os prêmios e seu gênero se adequava perfeitamente a moda do momento: cantora branca com voz de negra e músicas influenciadas pelo soul.

O lead single Mercy tocou sem parar em todo o mundo e, no Reino Unido, alcançou a primeira posição, sendo o terceiro maior vendedor do ano. A música seguinte, Warwick Avenue, também foi um gigantesco sucesso, alcançando o top 10 em todo o planeta e o terceiro lugar no UK.

O álbum, Rockferry, vendeu 6 milhões de cópias no mundo todo. Nos EUA, onde ganhou o Best Pop Vocal Album nos Grammy's, foram comercializadas 1 milhão de unidades. No Reino Unido, onde Duffy varreu os BRIT Awards, foram vendidos 2.1 milhão de cópias e o CD encerrou 2008 como o maior vendedor do ano.



Fast-forward para 2 anos depois. Em outubro, a cantora lança o primeiro single do seu esperado segundo CD, Well, Well, Well. A música não consegue sequer penetrar o top 40 do Reino Unido. Um mês mais tarde, o CD, Endlessly, estréia na nona posição antes de sumir do top 100. Nos EUA, o álbum não consegue passar da 72ª posição. Além disso, o CD não consegue penetrar o top 10 em nenhum dos mercados importantes: na França, onde o CD anterior vendeu 440 mil cópias, Endlessly estréia em 18º antes de sumir; na Alemanha, em 15º; na Austrália, onde Rockferry foi certificado platina dupla, em 27º. E assim por diante...

O irônico é que, enquanto Endlessly fracassava estrepitosamente nas paradas britânicas, 19, o álbum de Adele que foi lançado dois meses antes de Rockferry, estava dentro do top 10, enquanto Make You Feel My Love figurava no top 5 dos singles mais vendidos.



Outra cantora que não conseguiu follow-up o sucesso da sua estréia foi Kate Nash, 23.

Em 2007, a garota era a queridinha do indie pop, o sucesso surpresa independente. Sua música, Foundations, foi um gigantesco sucesso, alcançando o segundo lugar na parada de singles britânicos (detalhe: 16 cópias separaram a música de Kate Nash do primeiro lugar, The Way I Are do Timbaland com Keri Hilson). O álbum, Made of Bricks, estreou em primeiro lugar, alcançou disco de platina e vendeu mais de 500 mil cópias, dando origem a mais dois top 30 hits (Mouthwash e Pumpkin Soup). Nos BRIT Awards, a jovem ganhou um dos principais prêmios, Female Singer of the Year.

Apesar de não ter sido uma queda tão retumbante quanto Duffy, Nash também não conseguiu manter o hype com seu segundo lançamento. Apesar de forte apoio da Radio 1, a principal rádio britânica, Do-Wah-Doo não conseguiu penetrar o top 10, tendo que se contentar com a 15ª posição. O CD, My Best Friend is You, estreou em 8º antes de sumir completamente das listas dos mais vendidos, sem causar muito impacto.



Outra artista que decepcionou com seu segundo álbum foi Leona Lewis. Leona foi a grande vencedora da edição de 2006 do The X Factor. Em 2007, seu álbum de estréia, Spirit, vendeu 6 milhões de cópias em todo o mundo. No Reino Unido, foram comercializadas 3 milhões de cópias e o CD se transformou num dos lançamentos mais vendidos de todos os tempos. O primeiro single, Bleeding Love, foi a música de maior sucesso do ano a nível mundial, tendo alcançado o primeiro lugar em 18 países entre eles o Reino Unido, os EUA, a Austrália, a França e a Alemanha.

No Reino Unido, Spirit deu origem a cinco top 5 hits e dois número 1 (Bleeding Love e o cover de Run do Snow Patrol).

Em 2010, Leona lançou o esperado follow up. No UK, o primeiro single, Happy, já decepcionou ao perder a primeira posição para os Black Eyed Peas com Meet Me Halfway, tendo que se contentar com a segunda posição. O álbum estreou em primeiro lugar com vendas fortes mas, depois do período de fim de ano, as vendas desinflaram e o CD acabou sua trajetória com 600 mil cópias vendidas. Um número satisfatório mas extremamente inferior as 3 milhões de cópias do álbum anterior.

No resto do mundo, o desempenho foi ainda pior, com o CD não conseguindo causar impacto em nenhum lugar do mundo e com o single sendo completamente ignorado pelas rádios e pelo público.



A outra decepcção do mercado fonográfico britânico em 2010 foi o Westlife.

A boyband irlandesa é um dos maiores fenômenos do Reino Unido, se mantendo firme como um dos maiores grupos do país faz mais de 10 anos. Apesar de nunca terem chegado nem perto do respeito e aclame do Take That (que, diferente do Westlife, compõem as próprias músicas), o Westlife teve 14 singles e sete CDs alcançando a primeira posição. Todos os seus 25 singles entraram no top 10 (23 deles no top 5) e seus onze CDs estrearam no top 3.

Além disso, eles conseguiram fazer a transição de boyband adolescente para grupo vocal adulto com grande sucesso e eles têm fãs em todos os demográficos: de adolescentes a senhoras.

Eu acho o Westlife a coisa mais vanilla e boring da história, com zilhões de baladas sobre amor, em sua maior parte covers. Mas, bem ou mal, eles são uma história de sucesso.

Porém, depois de 12 anos, 2010 foi um ano de decepções para o Westlife. Para um grupo que teve apenas UMA música estreando fora do top 5 (oitava posição), ter o primeiro single do novo CD alcançando apenas o décimo lugar antes de cair do top 10 é um desastre. Apesar de uma performance high profile no The X Factor, Safe durou uma semana dentre os dez mais vendidos, o pior desempenho da história do grupo. O CD, Gravity, estreou em terceiro lugar e também rapidamente sumiu da lista, sendo o primeiro álbum da história da banda a não alcançar certificação de plátina.

Será que, depois de todos esses anos, o Reino Unido finalmente está cansando irlandeses? Ou será que a equipe por detrás da banda conseguirá remodela-los novamente e assim garantir que eles continuem relevantes por mais uma década? Vamos ter que esperar para ver.

Capítulos anteriores: Retrospectiva 2009 (parte 1) (parte 2); Retrospectiva 2010 (parte 1).
Próximos capítulos:
os mais vendidos

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