Depois de anos sendo um pop culture junkie, finalmente resolvi canalizar minhas energias em algo útil (assim, dependendo da sua perspectiva). Esse blog tem, portanto, o objetivo de documentar quem está causando na cultura pop mas não comentando do óbvio e sim antecipando tendências e o que está por vir. E-mail me @ tacausando@gmail.com. Mais sobre a nossa proposta.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Retrospectiva 2012: Cinema (Parte 1)

Não costumo falar sobre cinema aqui porque, vejam só vocês, não tenho muita paciência para filmes. Mas, como um blog de cultura pop, acho que esse é um assunto importante de ser tratado então bora lá para uma retrospectiva do que aconteceu no cinema ao longo dos últimos 12 meses?

The Avengers: o ano foi deles
Para  variar, as maiores bilheterias do ano foram blockbusters de ação e filmes animados da Dreamworks e da Pixar. Três filmes ultrapassaram a nada modesta barreira do bilhão: The Avengers (Os Vingadores); o último filme do Batman, Dark Knight Rises e o novo filme do James Bond, Skyfall.

The Avengers, como todo mundo sabe, é o filme que reúne todos os superheróis da Marvel -- com a exceção do Homem Aranha -- e foi o começo triunfal da nova era da gigante dos quadrinhos, agora propriedade da Disney. Alias, o Homem Aranha não participa do filme -- apesar de ser, de longe, o maior nome da companhia de HQ -- pois seus direitos de imagem no cinema são exclusivos da Sony. O filme, ajudado por críticas super positivas, lucrou 1.511 bilhão de dólares em todo o mundo, dos quais 41% (632 milhões) nos EUA.

Agora, vocês querem saber um dado curioso? O quarto maior mercado de Os Vingadores no mundo foi o Brasil. Alias, o filme desbancou "Tropa de Elite 2" por aqui para se transformar na maior bilheteria da história. Foram 120 milhões de reais arrecadados. Porém, é claro, temos que fazer ressalvas: ao contrário dos EUA, no Brasil calcula-se o sucesso de um filme pela quantidade de bilhetes vendidos e não pelo lucro total. Nesse caso, Tropa de Elite 2 -- que não teve auxílio de ingressos 3D e de Imax mais caros -- continua sendo um sucesso maior com 11,2 milhões de pagantes contra os 10 milhões do filme da Marvel. Alias, o filme com mais pagantes na história do Brasil continua sendo Titanic de 1998: 16 milhões de bilhetes vendidos.

O Brasil e o México foram o quarto e o quinto maiores mercados para o filme a nível global (apesar de, no panorama geral de lucratibilidade cinematográfica, serem respectivamente o 13º e o 12º mercados). Alias, o resultado do filme foi fantástico em toda a América Latina, onde arrecadou mais de 200 milhões de dólares e se transformou na maior bilheteria da região na história (e mais de 15% do arrecadamento total, em comparação com 43% para Ásia e a Europa juntas, apesar de ambas serem regiões, em geral, MUITO mais lucrativas). O Brasil e o México foram, alias, dois dos cinco países cuja bilheteria ultrapassou 60 milhões de dólares -- além dos EUA, o filme só lucrou mais na China ($84 milhões) e no Reino Unido ($80.5 milhões). Isso mostra a força da Marvel por aqui, principalmente comparado a Europa. Na França e na Alemanha, o terceiro e quinto maiores mercados em termos de lucro, Os Vingadores lucrou menos que 50% do que por aqui. No Japão, o segundo maior mercado, o rendimento foi 10 milhões de dólares a menos.

Depois de Os Vingadores, mais outro herói (porém da companhia rival, a DC): The Dark Knight Rises (O Cavaleiro das Trevas Ressurge) lucrou 1.08 bilhão de dólares a nível global e só podemos imaginar o quão mais o filme lucraria se não tivesse sido prejudicado pelo trágico tiroteio no cinema de Colorado.

Da série blockbusters bilionários não saem barato: Batman toma conta do exterior e do interior da estação de metrô mais movimentada de NYC, a de Times Square.
Alias, o tiroteio desencadeou uma queda enorme em bilheteria total nos EUA: o trauma no público foi tanto que a freqüência em cinemas no país despencou depois do acontecido. Por isso, o filme lucrou 85 milhões de dólares a menos que seu antecessor (448 milhões versus 533 milhões). Porém, no resto do mundo, o filme arrecadou mais e, por isso, Dark Knight Rises acabou com 1.08 bilhão, 40 milhões a mais que Tje Dark Knight.

Enquanto, no Brasil, o super herói da D.C. se provou bem menos popular que o coletivo da Marvel, lucrando menos da metade que Vingadores, na Europa, Batman se provou igualmente popular, com arrecadações similares na maior parte da região e números ainda mais satisfatórios no Reino Unido (90 milhões, 10mi a mais).

Finalmente, o outro filme a cruzar a barreira do bilhão foi Skyfall, o vigésimo-terceiro filme da franquia de James Bond e o terceiro estrelando Daniel Craig como o icônico espião. Foi o primeiro filme 007 a ultrapassar a marca.

E, alias, Batman, Homem de Ferro, Thor e afins podem ser os heróis de ação mais populares do mundo mas, na Europa, ninguém desbanca Bond. Na Alemanha e na França, Skyfall lucrou mais que o dobro do que Avengers e Dark Knight Rises. No Reino Unido, o país natal de 007, o filme tem quebrado todos os recordes.


E, alias, não é de se espantar: na Grã-Bretanha, Bond é um dos maiores icones nacionais. E é fácil notar isso: o Royal Albert Hall, a casa de espetáculos mais tradicional do país, sediou a pré-estréia que teve a presença de toda família real, incluindo Vovó Elizabeth. A vitrine da Harrod's, a loja de departamento mais importante do país, homenageia a película. Adele, o maior fenômeno musical do século, é responsável pela música tema. E até a BBC, a rede pública sinônimo de qualidade britânica, dedicou vários especiais ao filme em seus canais de TV e de rádio. Com toda essa promoção, não é de se espantar que o filme tenha lucrado 150 milhões de dólares e se transformado na maior bilheteria da história no país, desbancando Toy Story 3 em bilhetes vendidos e Avatar em total arrecadado.

A maior animação do ano foi A Era do Gelo 4 que lucrou 875 milhões de dólares a nível global. Alias, é interessante notar que essa franquia é muito mais bem quista a nível global que domesticamente. Nos EUA, o filme lucrou 160 milhões de dólares, um resultado bastante digno e que o coloca como a 16ª maior bilheteria do ano no país. Porém, no resto do mundo, o filme lucrou colossais 715 milhões de dólares, transformando-o na quarta maior arrecadação de 2012, atrás de Skyfall. A diferença entre o sucesso no mundo (principalmente na Europa e na América Latina, onde o filme obteve seus melhores resultados) e nos EUA é ainda mais gritante quando comparado com outros filmes animados: nos EUA, ele lucrou menos que Brave, Madagascar 3, Dr. Seuss' The Lorax e Wreck-It Ralph. Entre esses, alias, The Lorax, que lucrou 215 milhões de dólares nos EUA (61% de seu rendimento total), foi o que obteve menos sucesso mundo afora, provavelmente porque as histórias de Dr. Seuss são enormemente famosas nos EUA porém desconhecidas em outras bandas.

Da série blockbusters bilionários não saem barato: anúncio gigantesco de Skyfall em Westminster, Londres
Outro filme que teve enorme popularidade nos EUA porém ainda precisa crescer mundo afora é The Hunger Games (Jogos Vorazes), o filme baseado na trilogia de Suzanne Collins e que é considerado o grande sucessor de Harry Potter e Crepúsculo, sagas que causaram histeria tanto em suas versões impressas quanto cinematográficas. Nos EUA, o primeiro filme da saga lucrou 408 milhões de dólares. Colocando esses números em perspectiva: isso é 100 milhões de dólares a mais que a maior bilheteria da saga Crepúsculo (Eclipse de 2010). Porém, internacionalmente, por ser uma franquia recente e que ainda não alcançou seu potencial máximo, o filme lucrou bem menos: 278 milhões de dólares. Sendo assim, Hunger Games lucrou 686.5 milhões, um resultado bem inferior aos 800 milhões (65% internacionalmente) do filme final da consolidada saga Crepúsculo, Breaking Dawn Part II (Amanhecer Parte 2). Enquanto, nos EUA, Jogos Vorazes encerra o ano como a terceira maior bilheteria, a nível global o filme acabou em oitavo.

Três posições acima, encerrando o top 5 das maiores bilheterias, temos The Amazing Spider Man. Cinco anos depois de Spider Man 3, o filme final da saga dirigida por Sam Raimi e estrelando Tobey Maguire e Kirsten Dunst (e dois anos depois que eu dei a notícia), a Marvel e a Sony reiniciam a franquia com Marc Webb (500 Dias com Ela) na direção e o badalado Andrew Garfield (A Rede Social) no papel título com a igualmente badalada Emma Stone como seu par romântico (convenientemente, os dois também estão namorando na vida real). Com 752 milhões de dólares arrecadados, o filme não foi nenhum fracasso mas o resultado foi bastante aquém ao da saga anterior, cuja menor bilheteria -- em tempos pré-3D e ajuste de preços de ingresso -- foi o segundo com 784 milhões (o 1 e o 3 ultrapassaram 800 milhões).

Novamente, a Marvel conseguiu resultados especialmente bons na América Latina. Os rendimentos no Brasil e no México ultrapassam os dos países europeus (com a exceção, novamente, do Reino Unido), provando a popularidade da Marvel entre nós, latinos. Porém, enquanto o Homem Aranha é popular por aqui, seu maior território é a Ásia.

Enquanto individualmente, o Homem Aranha é, de longe, a maior franquia da Marvel, ele não pode lutar contra a união do Homem de Ferro, Capitão América, Hulk, Viuva Negra e Thor. Juntos, eles massacraram o superheroi solitário com mais do dobro do faturamento total e resultados superiores em todas as regiões (inclusive na Ásia). É claro que -- além de serem vários -- Os Vingadores ainda tiveram a vantagem de já terem sido introduzidos em filmes bem-sucedidos nos anos anteriores enquanto este novo Homem Aranha reapareceu em novo formato depois de um longo período de sumiço.

Alias, nove dos 10 filmes de maior sucesso do ano são parte de alguma franquia estabelecida. A única exceção é o animado Brave que atraiu o público com o selo Pixar de qualidade. Dentre esses nove, oito são seqüencias (incluindo Os Vingadores que, afinal, continua as histórias dos filmes individuas), com a exceção de The Hunger Games que, apesar da forte dependência do mercado americano, começou com o pé direito e com lucro total (incluindo internacional) duas vezes maior do que o primeiro Crepúsculo em 2008.

Porém, enquanto o top 10 não nos trás muitas novidades, logo em 12º temos uma enorme surpresa: o filme francês Intouchables (Os Intocáveis) passou na frente de centenas de blockbusters americanos e lucrou absurdos 417 milhões de dólares para se transformar no filme não falado em inglês de maior sucesso da história. 

A inclusão de Intouchables é meio controversa afinal uma parcela considerável do seu lucro veio de 2011, quando o filme estreou na França levando 166 milhões de dólares (segunda maior bilheteria na história do país, o primeiro lugar ainda é a comédia Bienvenue chez les Ch'tis de 2009 que satiriza o nordeste do país). Porém, foi em 2012 que a comédia estreou mundo afora, inclusive no resto da Europa onde lucrou mais de 200 milhões de dólares e acabou o ano como uma das maiores bilheterias em diversos países da região com a Alemanha (80 milhões de dólares, filme mais visto de 2012); Holanda (2º filme mais visto, atrás apenas de Skyfall); Espanha (4º mais visto) e Itália (6º mais visto). Além disso, a lista que eu uso como base, a do BoxOfficeMojo, considera a data de lançamento dos EUA como a data oficial de lançamento de qualquer filme (êta quanto egocentrismo) então Intouchables é classificado como um filme de 2012.

Alias, eu, que não dou ponta sem nó, já fiz um post aqui tratando do sucesso sem precedentes e inesperado dessa comédia francófona. Alias, com Harvey Weinstein por trás da distribuição do filme nos EUA -- o homem responsável por 9 em cada 10 filmes vencedores do Oscar nos últimos anos -- eu diria que a chance da França sair com a estatueta de Melhor Filme de Língua Estrangeira por dois anos consecutivos é alta (The Artist, o vencedor desse ano, também foi distribuído por Weinstein alias, assim como "O Discurso do Rei", o ganhador geral).

Logo acima dos Intocáveis, em 11º, temos Ted, a estréia na direção de Seth McFarlane, criador (e dublador de TODOS os personagens homens) de Family Guy (Uma Família da Pesada) e American Dad. Seth prova que seu humor escrachado porém hilariante é um sucesso garantido em várias mídias: Ted lucrou 502 milhões de dólares e é uma das comédias mais bem sucedidas de todos os tempos, lucrando mais até do que o primeiro The Hangover (Se Beber Não Case). Além de Seth na voz do personagem título (gente, sério, eu fico em choque com a quantidade de vozes que esse cara é capaz de produzir), o filme estrela Mark Whalberg e Mila Kunis. Mila, alias, faz a voz da filha adolescente Meg em Family Guy.

Seth MacFarlene: sucesso na TV e no cinema. Aqui, ao lado de seus co-stars Mila Kunis e Mark Whalberg
Com o sucesso de Ted, Seth MacFarlene vai ser o apresentador do Oscar 2013. Em geral, eu acho a cerimônia um saquinho mas achei a escolha dele como apresentador bastante inspirada e acho que vai ser bem sucedida em atrair um público jovem (then again, o James Franco e a Anne Hathaway em 2010 também pareciam inspirados e ~jovens e look how well that turned out...).

Enquanto o top 10 é dominado por seqüencias de franquias já existentes, o top 15 nos dá pistas de quais serão as seqüencias que poderam dominar a bilheteria em 2013 e 2014. Prometheus e Snow White & the Huntsman lucraram 400 milhões de dólares, resultados satisfatórios e que mais que justificam continuações.

É claro que Snow White tem um GIGANTESCO impedimento: o filme, que estrela Kristen Stewart, teve um resultado digno nas bilheterias. Contudo, o filme é mais lembrado pelo grande escândalo que ele originou: Kristen Stewart, que namora com o seu co-star de Crepúsculo Robert Pattinson, e o diretor, casado e pai de dois filhos, Rupert Sanders foram flagrados por um paparazzo em alta pegação adúltera dentro de um carro e as fotos estamparam a edição mais vendida do ano da US Weekly. Com isso, imagino que a Universal deve estar quebrando a cabeça para figure out como produzir a planejada continuação.

Charlize Theron, a co-estrela de Stewart no filme da Branca Neve, pode descansar tranqüilamente. Se a seqüencia de Snow White não sair, ela também é -- ao lado de Michael Fassbender, Idris Elba e a sueca Noomi Rapacci -- uma das estrelas de Prometheus. Já "o Caçador" do título, Chris Hemworth -- que especulou-se que seria o foco do filme 2 (que não contaria com a participação de Stewart) -- já tem suas bases cobertas graças a Thor.

Fechando o top 15, temos Taken 2 (Busca Implacável 2) estrelando Liam Neeson que, depois de anos como um ator respeitado, virou, aos 60 anos, uma digna estrela de ação numa transformação hollywoodiana bem curiosa. Alias, essa franquia é um ótimo exemplo de algo que se consolidou mundo afora com o tempo.

Lançado em 2009, e filmado com um orçamento bem baixo de 29 milhões de dólares, Taken era um filme que ninguém apostava muito. Ele acabou lucrando 145 milhões de dólares nos EUA. No resto do mundo, contudo, ele foi relativamente ignorado. Ao longo dos anos, com exibições em TV, o filme foi ganhando popularidade e as vendas do DVD mundo afora foram estratosféricas. Com isso, a seqüencia lucrou quase o triplo internacionalmente: 220 milhões de dólares (lucro total, contando com os EUA, de 362 milhões).

É claro que ao olhar a lista das maiores bilheterias do ano é preciso levar em conta vários fatores e acho que isso pode ser bem ilustrado com a trajetória de Channing Tatum e Taylor Kitsch ao longo de 2012.

Channing Tatum: o all-american boy foi a estrela do ano
Channing Tatum foi considerado O homem de 2012 por ser um dos unicos nomes que, hoje em dia, é sinônimo de sucesso e de salas de cinema cheias. Seus três filmes esse ano foram considerados enormes sucessos, apesar de nenhum ser parte de uma franquia. Diferente, por exemplo, de Chris Hemworth em Os Vingadores ou Anne Hathaway em Batman, o nome Channing Tatum no pôster foi considerado um dos fatores vitais para o sucesso dos três filmes nos quais ele estrelou.

The Vow, um drama estilo Nicholas Sparks (que, veja só, não é de Nicholas Sparks), lucrou 196 milhões de dólares. Magic Mike, o filme sobre homens strippers que, além de estrelar, ele também produziu, arrecadou 166 milhões. E 21 Jump Street, uma comédia baseada na série policial de sucesso dos anos 80 (conhecida por ter lançado Johnny Depp ao estrelato), fez 201 milhão de dólares.

Os resultados desses filmes foram tão enormemente satisfatórios e a resposta do público tão positiva que Hollywood o viu como algo raríssimo hoje em dia: um nome que atraí pessoas (principalmente mulheres) para o cinema.

Um exemplo do poder dele é o caso da seqüencia do filme G.I. Joe, baseado nos bonecos de ação dos anos 80. Channing era um dos muitos atores do primeiro filme da saga, G.I. Joe Rise of the Cobra, lançado em 2009. O filme teve um lucro digno: 300 milhões de dólares em cima de um orçamento de 175 milhões. Não é um resultado espetacular porém é satisfatório o suficiente para o desenvolvimento de uma seqüencia.

A seqüencia, G.I. Joe Retaliation, foi filmada em 2011 com lançamento previsto para o verão americano desse ano. Contudo, o personagem de Channing morria logo no começo e, ao ver o enorme sucesso junto ao público dele ao longo de 2012, o lançamento foi adiado para 2013 e, ao custo de milhões de dólares, o roteiro foi reescrito e as gravações já finalizadas foram retomadas para aumentar -- e muito -- o papel do ator no filme. Isso ilustra bem o tamanho da crença dos chefões de Hollywood em Channing Tatum que o vêem como uma verdadeira galinha dos ovos de ouro.

Apesar disso tudo, o filme de maior bilheteria de Channing, 21 Jump Street, foi apenas o 30º filme mais visto do ano e o desempenho de seus sucessos parecem modestos comparado com os filmes estrelados por Taylor Kitsch: Battleship (Batalha Naval) lucrou 302 milhões de dólares enquanto John Carter fez 282 milhões. Ambos os filmes de Kitsch aparecem entre as 25 maiores bilheterias do ano.

Mesmo assim, Channing foi considerado a maior estrela do ano e vai colher os frutos e encher os bolsos ao longo de 2013 enquanto Taylor terá que carregar a estigma de ter estrelado duas das maiores bombas do ano.  Porque, apesar dos lucros maiores, as expectativas para os filmes de Kitsch eram MUITO maiores.

Os filmes de Channing custaram de 7 (Magic Mike) a 42 milhões de dólares para produzir. Nenhum deles foi vendido como um blockbuster ou com uma campanha na casa das centenas de milhões de dólares. Já os filmes de Taylor custaram 209 milhões de dólares (Battleship) e 250 milhões de dólares (John Carter). Os números dobram quando se leva em conta os gastos em promoção (por exemplo, ambos os filmes de Taylor foram anunciados durante o SuperBowl. Cada uma dessas inserções de 1 minuto custaram 6 milhões de dólares). E, enquanto os resultados foram bastante medíocres mundo afora, eles foram simplesmente PAVOROSOS (nível suicidio de CEO de estúdio) nos EUA, onde ambos empacaram na faixa dos 70 milhões de dólares (100 milhões de dólares sendo o MÍNIMO esperado para um blockbuster). A parada foi tão feia que o chairman da Disney, estúdio por de trás de John Carter, foi forçado a renunciar do seu posto um mês depois da estréia, tamanha foi a repercussão do fracasso (e o impacto nas ações da Disney).

John Carter: Billboards do filme tomam conta de Los Angeles mas não previnem um enorme fracasso
Então, é óbvio, existem vários fatores que classificam um filme como "sucesso" e "fracasso" além do lucro total. E o mais importante é a expectativa por de trás. Think Like A Man -- uma comédia produzida por 12 milhões de dólares, estrelando um elenco todo negro, baseado em um livro de auto-ajuda com o mesmo nome e que não foi distribuída internacionalmente -- lucrou 92 milhões de dólares nos EUA e foi considerado um gigantesco sucesso. The Best Exotic Martigold Hotel, comédia inglesa modesta gravada na India com Dev Patel (Slumdog Millionaire) e estrelando grandes atores veteranos britânicos como Judi Dench e Maggie Smith, lucrou 160 milhões e também foi considerado um sucesso espetacular. The Lucky One, drama baseado em um livro de Nicholas Sparks e estrelando Zac Efron, lucrou 92 milhões de dólares (74 milhões nos EUA) e foi considerado um resultado digno que, enquanto não enalteceu o poder de Zac (principalmente comparado com o resultado de The Vow com Channing), também não o prejudicou e provou o poder da marca Sparks. Por outro lado, The Dark Shadows (Sombras da Noite) lucrou 239 milhões de dólares e foi considerado um fracasso, não só pelo seu alto custo (150 milhões sem os custos de promoção) mas também pelos nomes envolvidos (direção de Tim Burton estrelando Johnny Depp).

Ainda na comparação com Tatum: Magic Mike lucrou 165 milhões de dólares e foi considerado um enorme sucesso, enaltecendo o poder de Channing. Mirror Mirror (Espelho Espelho Meu) lucrou 166 milhões e foi considerado um fracasso e uma prova de que o poder de Julia Roberts, estrela do filme, já não é mais o mesmo. A diferença, novamente,  está nas expectativas: Mike custou 7 milhões de dólares para produzir (isso é equivalente a 10 centavos em dinheiro de Hollywood), Mirror custou 85 milhões. E mais: com o poder internacional de Roberts, o filme teve uma distribuição internacional maciça que ajudou o filme a lucrar 101 milhões de dólares e mascarar os resultados medíocres no mercado mais importante, os EUA (65 milhões). Por outro lado, com Channing sendo relativamente desconhecido mundo afora e o tema relativamente tabu do filme (nudez masculina), Magic Mike teve uma distribuição internacional bem fraca mas teve um total bem alto graças ao enorme faturamento nos EUA (114 milhões).

Alias, ver a lista de maiores bilheterias nos mostra duas realidades contraditórias: o primeiro, é o poder do mercado mundial. Sucesso nos EUA é importante, mas sucesso mundo afora é cada vez mais, principalmente com o crescimento de mercados emergentes como a China, a Rússia e o Brasil. Temos diversos casos de filmes cujo desempenho foram decentes nos EUA mas magníficos no resto do mundo e isso fez toda a diferença (Intouchables; A Era do Gelo 4).

Por outro lado, como a sede da cultura pop global, o mercado americano ainda é vital para make it or break it o sucesso dos filmes e dos atores. Julia Roberts ainda consegue resultados satisfatórios mundo afora porém, nos EUA, ela é considerada coisa do passado. Resultado: Roberts é coisa do passado. Ao mesmo tempo, Channing Tatum é uma estrela em ascensão nos EUA e amado pelo público local enquanto, no resto do mundo, ele ainda é relativamente desconhecido. Resultado: Channing é o futuro.

Mesmo antes de John Carter ter sua estréia internacional, o filme já tinha sido considerado um fracasso astronômico com seu resultado nos EUA. Exatamente para evitar isso, Battleship estreou com meses de antecedência mundo afora e, apesar de resultados bastante dignos e mais de 210 milhões de dólares arrecadados, o resultado horroroso nos EUA ofuscou isso e colocou a estigma de FRACASSO no filme.

E, bom, enquanto a ciência por de trás disso é discutível, não tem como negar que o comportamento do público americano é, muitas vezes, um sintoma de que, logo logo, o mundo vai seguir na mesma onda.

2012: Os ganhadores
O filme de 2012: o francês Intouchables; seguido de Os Vingadores.
A franquia que vai carregar Hollywood nas costas: Jogos Vorazes.
A franquia que vai deixar saudades: Crepúsculo.
O ator: Channing Tatum. Em um distante segundo lugar, Ben Affleck que agora é um diretor que estrela seus próprios filmes e todos até o momento foram sucessos de público e crítica (Argo; 160 milhões de dólares).
A atriz: Anne Hathaway. Ela provavelmente vai ganhar o Oscar 2013 com o seu papel no Les Miserables e abocanhou o papel de Mulher Gato no último filme do Batman, personagem bem disputado. Anne não estrelou nenhum filme que foi gigantesco por causa dela e teve seu fair share de fracasso de crítica nos últimos anos (a apresentação no Oscar; Love and Other Drugs) mas ela sempre se saí bem. Em segundo lugar, Jennifer Lawrence, que mal começou e já foi indicada a um Oscar e estrela a maior franquia do momento (Jogos Vorazes). E, em terceiro, Emma Stone, a queridinha do momento.
Melhor transição: Emma Watson. Este ano, ela estrelou o elogiado The Perks of Being a Wallflower, baseado no livro cult sobre amizade e high school. Acaba de filmar o próximo filme de Sofia Coppola e será uma das estrelas nos próximos projetos de Darren Aronofsky (Black Swan; Requiem for a Dream) e Guillermo del Toro (O Labirinto de Fauno).
O insider vencedor: Harvey Weinstein. Dominou o Oscar e os filmes queridinhos dos críticos em 2012 e provavelmente continuará dominando em 2013.
Queridos dos críticos e do público: Argo, estrelando e dirigido por Ben Affleck, com 95% de aprovação crítica e 150 milhões de dólares arrecadados até o momento; Moonrise Kingdom, dirigido por Wes Anderson e estrelando grande elenco com Edward Norton, Tilda Swinton e Bruce Willis, com 94% de aprovação crítica e 65 milhões de dólares arrecadados.

2012: os perdedores
O fracasso de 2012: John Carter.
Outros fracassos: Cloud Atlas com Tom Hanks e Halle Berry; Battleship com Taylor Kitsch, Liam Neeson, Rihanna e Brookylin Decker; Abraham Lincoln Vampire Killer; Rock of Ages com Tom Cruise, Alec Baldwin, Mary J Blige, Russel Brand, Diego Boneta e Julianne Hough.
Tentativa de franquia fracassada: John Carter; Battleship.
O pepino: O romance de Kristen Stewart e Rupert Sanders atrapalhando a pré-produção da sequencia de Snow White & the Huntsman
A tragédia:
Literalmente: o tiroteio em Colorado na sessão de meia-noite de The Dark Knight Rises
O loser: Taylor Kitsch, estrela das duas maiores bombas do ano. Além disso, Tim Burton também teve um péssimo ano. Além do fracasso de Sombras da Noite e do animado Frankieweenie, ele ainda foi um dos produtores de Lincoln Vampire Killer.
A loser: Nenhuma na mesma magnitude de Taylor Kitsch, vamos ser sinceros. (Pobre Taylor)
Pior transição: Taylor Lautner. Com o sucesso de Crepúsculo, ele era o ator jovem mais disputado do mundo e tudo parecia estar conspirando para ele se transformar na próxima grande estrela de ação, com franchises como Max Steel e Stretch Armstrong. Ambos os filmes não foram para a frente. Com um salário altíssimo, ele fez seu grande debut solo com Abduction que foi um fracasso de público e de crítica. Tentativa de estrela de ação fracassado, it's back to the drawing board para Taylor. Por sorte, ele ainda teve o último Crepúsculo esse ano que manteve sua popularidade em alta enquanto busca outros filmes.
O insider perdedor: Tim Burton. O pobre teve um péssimo ano. Além de Dark Shadows, mostrando que suas parcerias com Johnny Depp já estão mostrando sinais de desgaste, ele também foi ignorado com seu filme animado Frankieweenie e ele ainda foi um dos idealizadores e produtores do fracasso que foi Lincoln Vampire Killer.
Odiado pela crítica e pelo público: The Watch, com apenas 16% de críticas posítivas no Rotten Tomatoes e 68 milhões de dólares arrecadados a nível global (com um custo de produção -- sem a promoção -- de 69 milhões). O filme -- estrelado pelos pesos pesados da comédia Ben Stiller, Vince Vaughn e Jonah Hill -- já dava sinais de que seria um desastre quando, no começo do ano, quando sua promoção já tinha sido iniciado, ele teve que mudar o nome as pressas (era originalmente Neighborhood Watch) pelo caso Trayvon Martin.

Na próxima parte: Os fenômenos de bilheteria que você nunca ouviu falar

Notas: Obviamente, o ano ainda não acabou e com o período de fim de ano chegando -- um dos mais lucrativos -- ainda temos alguns enormes lançamentos que irão modificar um pouco a lista.

O primeiro deles, é claro, é O Hobbit. A prequel de O Senhor dos Anéis -- que, em sua época, quebrou tudo quanto é recorde de bilheteria -- estréia essa sexta-feira e com certeza irá rapidamente figurar entre as dez maiores bilheterias.

Depois, temos Les Miserables e Django Unchained

O primeiro é baseado no gigantesco musical da West-End e dirigido por Tom Hoopper, responsável pelo grande vencedor do Oscar desse ano, The King Speech (O Discurso do Rei).  O filme conta com um grande elenco encabeçado por Russel Crowe, Hugh Jackman, Anne Hathaway e Amanda Seyfried e também conta com participações de Sascha Baron Cohen e Helena Bonham-Carter.

Já o segundo é um filme Tarantino e todo mundo sabe que todo mundo ama filmes do Tarantino. O elenco é encabeçado por Kerry Washington; Jamie Foxx; Leonardo DiCaprio; Samuel L Jackson e Christopher Waltz.

Ah, ambos são produzidos por Harvey Weinstein e, como já mencionei lá em cima, todo mundo sabe o que isso significa: Oscar-ahoy. O mais óbvio de todos é Melhor Atriz para Anne Hathaway.

Além desses três,  ainda temos Wreck It Ralph (Destrói Ralph), o novo filme da Pixar que já estreou nos EUA porém ainda não estreou internacionalmente e Jack Reacher, o novo starring vehicle de Tom Cruise que, sinceramente, acho que não vai incomodar o top 20 mas nunca se sabe, né...

De qualquer maneira, planejo editar esse post depois para refletir essas mudanças.

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