Depois de anos sendo um pop culture junkie, finalmente resolvi canalizar minhas energias em algo útil (assim, dependendo da sua perspectiva). Esse blog tem, portanto, o objetivo de documentar quem está causando na cultura pop mas não comentando do óbvio e sim antecipando tendências e o que está por vir. E-mail me @ tacausando@gmail.com. Mais sobre a nossa proposta.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Retrospectiva 2012: o ano na cultura pop

A voz



No dia 12 de fevereiro, depois de meses e meses sumida devido a uma delicada cirurgia nas cordas vocais, Adele fez seu triunfal retorno aos palco durante a cerimônia dos Grammy's em Los Angeles. Uma semana mais tarde, em Londres, ela agraciou os BRIT Awards. Em ambas as premiações, ela seguiu exatamente o mesmo roteiro: uma apresentação de Rolling in the Deep, o primeiro single de seu histórico segundo CD, 21, e a vitória em absolutamente todas as categorias.

Enquanto as apresentações foram fortemente promovidas como a grande volta da cantora, elas serviram, na verdade, como uma despedida. A aparição dela no BRIT Awards, no dia 21 de fevereiro, foi sua última aparição pública ao longo do ano.

Em junho, no mesmo dia que Tom Cruise e Kate Holmes anunciaram seu divórcio, um porta-voz da artista anunciou que ela esperava seu primeiro filho. Não foi coincidência: o anúncio foi feito horas depois do divórcio mais high profile do ano exatamente para que a notícia, que seria manchete global em qualquer outro dia, passasse relativamente despercebida. No fim de outubro, Adele deu a luz. Nada se sabe sobre a criança, a não ser que é um menino.

Algumas semanas antes de ter seu filho, Adele lançou Skyfall, a música tema do novo filme de James Bond. O dia do lançamento -- uma sexta-feira -- prejudicou o posicionamento da música nas paradas de single global. Contudo, o single rapidamente se transformou no tema do 007 mais vendido de todos os tempos.

O fato dela ter passado o ano quase que reclusa não impediu que 21 fosse, pelo segundo ano consecutivo, o álbum mais vendido de ano em todo o mundo e continuasse quebrando todos os recordes possíveis e imagináveis.

As músicas

No fim de 2009, eu achei que seria impossível uma música ser mais onipresente do que I Gotta Feeling foi naquele ano. Demorou três anos mas, no final das contas, eu fui proved wrong.

Assim que eu ouvi Call Me Maybe pela primeira vez, em fevereiro, eu vim correndo fazer um post. Foi só ouvi uma vez que eu reconheci ali um enorme hit em potêncial. Em abril, a música alcançou o top 10 nos EUA. No mesmo mês, ela alcançou o topo no Reino Unido e na Austrália. No fim de junho, Call Me Maybe alcançou o primeiro lugar nos EUA, onde ficou por intermináveis nove semanas.



Trifecta EUA-AU-UK alcançada, não demorou muito para a música explodir em todo o resto do planeta e virar um sucesso viral covered não só pelos pioneiros Selena e Justin mas também pelo Time Olímpico de Natação dos EUA; por Katy Perry; por Cookie Monster; pelo Neymar; pelos vendedores da Abercrombie & Fitch; pela marinha dos EUA; pelo exército dos EUA; pelo elenco de Glee; por Barack Obama e por quem mais você conseguir imaginar.

Não sei vocês mas eu fui de achar a música uma fofura (em fevereiro) para querer me matar toda vez que eu escuto ela tocando (hoje em dia).

Porém, Call Me Maybe não foi a única múisca onipresente de 2012. Gotye, o cantor belgo-australiano, foi, na verdade, o primeiro smash hit do ano com seu absolutamente inescápavel Somebody That I Used To Know, colaboração com a neo-zelandesa Kimbra.

A música estourou em 2011 na Austrália (como já contei aqui), onde foi o segundo single mais vendido. Em fevereiro desse ano, a música alcançou o topo no Reino Unido. Em junho, impulsionado pelo uso da música no American Idol e uma performance de Gotye no Saturday Night Live, a canção atingiu o topo nos EUA.

Not surprisingly, Somebody That I Used to Know e Call Me Maybe foram, respectivamente, o primeiro e o segundo single que mais venderam em 2012. Nos EUA, as músicas foram as unicas ao longo do ano a ultrapassar 6 milhões de unidades vendidas (e ambas figuram entre as dez músicas mais vendidas de todos os tempos no país, com Gotye ocupando a sexta posição) enquanto, no Reino Unido, foram as únicas duas canções a ultrapassar 1 milhão de unidades em 2012. Elas ocuparam o topo em outros milhares de mercado mundo afora, incluindo a França e a Alemanha (o quarto e o quinto maiores mercados mundiais).



A outra música inescapavel do ano? Duh. Op-op-op-oppan Gangnam Style. A sensação coreana PSY atingiu o topo em todo o mundo e, com quase 1 bilhão de views, se transformou no vídeos mais assistido do YouTube de todos os tempos. O hit e a sua dançinha foram totalmente inescapaveis e, na Coréia do Sul, o sucesso da música foi tratado como um orgulho nacional (para comemorar, 100 mil pessoas se reuniram para uma grande festa no centro da cidade). Alguns dos grandes momentos da música -- como, por exemplo, o flash mob que atraiu 20 mil pessoas em Paris e a apresentação com Madonna -- foram tratados aqui e, esse mês, PSY cantou o sucesso para Barack Obama na Casa Branca.

A quarta música inescapavel do ano foi ignorada pelo mercado anglo-saxão mas abraçada por todo o resto do planeta e Brasil, pode comemorar (ou não), porque esse sucesso é nosso: Ai, Se Eu Te Pego de Michel Teló foi o sucesso do primeiro semestre do ano.

Na Alemanha, o quarto maior mercado do mundo, a música foi o maior sucesso digital da história, com quase 700 mil unidades vendidas. Na França, a música também superou Gotye e Carly Rae (que tiveram que se contentar com o segundo e o terceiro lugar) e acabará 2012 como o single de maior sucesso do ano, com 300 mil unidades comercializadas.



A lista de países que a canção atingiu o topo é interminável: Áustria, Alemanha, França, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Itália, Espanha, México, Argentina, Chile, Grécia, Colômbia, Israel, Polônia e vários outros. Além disso, ela impulsionou músicas similares -- mais notavelmente Balada Boa de Gusttavo Lima (primeiro lugar na Itália, França e Holanda; terceiro lugar na Alemanha) -- a status de smash hit global.

Um dado depressivo: na França, o apetite por canções similares foi tanta que, além de Balada Boa, Bara Bará Bere Beré de Alex Ferrari também alcançou o topo por duas semanas. E se você está pensando "poxa, eu nunca ouvi essa música" é porque, apesar dela ser brasileira, ela é TÃO ruim que ela foi completamente ignorada por aqui (surra na cara do metido que acha que o Brasil tem o pior gosto do mundo).

[GENTE, PARA TUDO!!!!!! ACABEI DE DESCOBRIR Q MICHEL TELÓ TEM SUA PRÓPRIA VERSÃO DE BARA BARÁ BERE BERÉ! A que chegou ao topo na França não foi dele though]

O livro


Olha, achei que pior que "Crepúsculo" não dava para ficar (sorry, not a fan) mas, como diz o ditado, "nada está tão ruim que não possa piorar". Prova disso: o fenômeno literário do ano , 50 Shades of Grey (50 Tons de Cinza), nasceu vejam só vocês, como uma fanfic de Crepúsculo.

Apesar disso, os dois livros tem suas diferenças. A história de vampiros de Stephanie Meyers reflete os valores castos~ de sua autora mormon, com sexo só depois do casamento, uma heroína modesta etc. e tal. Já a trilogia da britânica E.L. James é um conto erótico cheio de sexo sadomaso.

Eu sou super a favor da libertação sexual feminina (anos 50 ligou e pediu seus tópicos de discussão de volta) e acho ótimo um livro soft porn direcionados a mulheres virar algo tão mainstream, discutindo na grande imprensa e lido sem vergonha por vovós, tias e adolescentes. Mas bom, acho que existem maneiras com mais qualidade das mulheres liberarem esse fogo interno~~ e suas inner godesses mas, né? Quem sou eu. Até porque não dá para ser mais clichê que heroína timida e desinteressante conhece homem controlador, milionário e obcecado por S&M e bondage (tá, tudo bem, essa última parte não é tão clichê mas só porque, até alguns meses atrás, ninguém se atrevia de deixar isso claro. Se vocês viram Amanhecer Parte I, vocês viram q a Bella e o Edwart curtem um S&M também).

Mas bom, independentemente da minha opinião pessoal, 50 Shades foi o fenômeno do ano com centenas de milhões de cópias comercializadas. Em agosto, foi anunciado que o primeiro livro da série de E.L. James tinha ultrapassado 5 milhões de unidades vendidas em seu país de origem e, por tanto, desbancado Harry Potter como o livro mais vendido de todos os tempos no Reino Unido desde que o Nielsen BookScan começou a acompanhar as vendas (em 1998). Levando em conta que o livro continua no topo dos mais vendidos até agora, o número total com certeza é considerável maior. Nos EUA, os três livros já tinham vendido mais de 20 milhões de unidades até julho (provavelmente deve ser o dobro disso agora).

Como de costume, uma franquia tão bem sucedida faz Hollywood salivar. Em março, quando o livro já estava a caminho de se transformar num fenômeno mas ainda não tinha se confirmado como o sucesso astronômico que acabou sendo, os direitos foram vendidos por 5 milhões de dólares para Universal, um valor bem alto ("O Código Da Vinci" foi vendido por 3.5 milhões). Mas a parte mais chocante é que o estúdio aceitou uma cláusula que especificava que a autora teria a palavra final em todas as grandes decisões (algo comum em filmes baseados em séries enormes -- J.K. Rowling, Stephanie Meyer e Suzanne Collins, todas estiveram super envolvidas na produção -- mas nunca especificado de maneira tão explícita no contrato).

Por outro lado, a dificuldade de adaptar um filme que é basicamente cena de sexo S&M atrás de cena de sexo S&M (incluindo uma cena que envolve um absorvente interno) é algo bem complicado, principalmente em Hollywood, que não gosta de espantar o dinheiro de ninguém. Talvez por isso, o desenvolvimento do filme não está indo tão de pressa quanto esperado (até o momento, nada -- a não ser quem serão os produtores e a roteirista -- foi oficialmente decidido).

De qualquer maneira, não restam duvidas: 50 Shades of Grey foi o livro de 2012.

Os programas de TV

Todo mundo ama zumbis: Walking Dead é o sucesso da temporada
Pela primeira vez na história, um programa de TV a cabo ocupou o topo da lista de programas de ficção mais vistos entre pessoas de 18 a 49 anos (for reference: o único demográfico que interessa aos anunciantes e, por tanto, o único que importa) nos EUA: Walking Dead, o elogiado seriados sobre zumbis da AMC, ultrapassou Modern Family, a comédia da ABC, para se transformar no maior sucesso do demo essa temporada.

Alias, todas as ficções mais comentadas do ano foram programas de TV a cabo: Breaking Bad (AMC); Walking Dead (AMC); Dexter (Showtime); Homeland (Showtime); True Blood (HBO); Game of Thrones (HBO); Girls (HBO). O público e a crítica parecem estar cansado dos seriados "seguros" da TV aberta e estão indo atrás de programas mais elaborados e com conteúdos mais complexos e criativos na TV fechada.

Enquanto isso, na TV aberta, o que mais próspera atualmente são as comédias. Além de Modern Family, as sitcoms da CBS são o grande sucesso de público: enquanto Two and a Half Men meio que perdeu o momentum, Big Bang Theory; How I Met You Mother e 2 Broke Girls têm obtido resultados fantásticos para o canal. Alias, os syndication deals -- direitos de retransmissão/reprise -- desses programas estão sendo vendidos por quantias absurdas (Big Bang Theory custa 2 milhões de dólares por episódios; 2 Broke Girls, 1.7 milhão), deixando todos os atores e produtores dessas comédias milionários pela eternidae.

 
Os reality shows, os grandes protagonistas nos anos anteriores, parecem ter perdido um pouquinho (bem pouquinho) de sua força nos EUA. Em 2012, nenhuma emissora lançou um grande sucesso mas os sucessos dos anos anteriores -- as Kardashians no E!; as Real Housewives na Bravo -- seguem firmes e fortes e novos programas (estrelando todo mundo, da Toni Braxton aos Jonas Brothers a esposa do Clint Eastwood) continuam pipocando.

Já os reality de canto continuam na linha tenue entre a saturação e o sucesso. American Idol teve seu ano mais baixo até o momento mas continua facilmente como líder de audiência. Para 2013, o programa terá um novo painel de jurados estrelando Mariah Carey, Nicki Minaj e o cantor country Keith Urban.

The X Factor continua tentando emplacar nos EUA. Esse ano, Britney Spears e Demi Lovato foram adicionadas ao juri e, enquanto o programa tem mantido audiências bem dignas, ele está longe de reproduzir o fenômeno social que é no Reino Unido.

O programa mais estável é The Voice da NBC. O formato holandês, que tem duas temporadas por ano, teve uma estréia espetacular pós-Super Bowl no começo do ano e, desde então, já desinflou bastante mas continua na frente do X Factor entre o público de 18-49 e tem uma das tarifas publicitárias mais caras da TV aberta americana. Enquanto ele não produziu nenhum vencedor bem sucedido, ele tem ajudado bastante seus jurados, revitalizando a carreira do Maroon 5 e ajudando a transformar Blake Shelton, o seu jurado country, numa estrela de grande porte nos EUA. Ano que vem, Xtina e Cee-Lo Green darão um break doo programa e serão substituídos por Shakira e Usher.

The Voice também é o formato de canto de maior sucesso mundo afora, graças a uma combinação das cadeiras giratórias (eu não sei porque mas elas fascinam muito o público) com um jurado cheio de nomes de grande porte. O programa tem obtido sucesso em atrair nomes respeitáveis em todos os principais mercados e isso, com certeza, ajuda no status do concurso como uma competição séria (não que eu concorde, né). O sucesso internacional dele pode ser comprovado aqui no Brasil e também no México, na Argentina, na Alemanha, na França e na Espanha, onde as respectivas versões têm conseguido audiências bem altas e tem ofuscado os concorrentes.

A exceção foi o Reino Unido. O país tem uma enorme importância por ser -- junto com a Alemanha e a França -- o maior mercado fora dos EUA. A BBC investiu milhões de dólares no formato, com a intenção de bater de frente com os colossais programas de Simon Cowell na ITV (X Factor e Britain's Got Talent). E o concurso não poderia chegar em momento melhor: o público estava se saturando dos programas de Cowell, com X Factor tendo registrado uma acentuada queda de audiência no ano anterior.

Inicialmente, o programa -- que tinha Jessie J, Will.I.Am, Tom Jones e Donnie O'Donaghue (vocalista do The Script) como jurados -- foi um gigantesco sucesso, batendo a audiência do Britain's Got Talent, que estava sendo exibido no mesmo horário na ITV1. Depois de alguns meses contudo, o público perdeu o interesse e a audiência começou a desinflar, até chegar a níveis preocupantes, O single da ganhadora sequer atingiu o top 40. Uma turnê com os finalistas, que passaria por arenas de todo o país, foi cancelada devido a falta de interesse.

A tendência do programa obter altas audiências com a fase de audições e das batalhas entre os jurados e perder força com o começo dos live shows (como já disse, o público gosta mesmo é da cadeira giratória) é normal em todas as edições, a ponto dos produtores estarem implementando pequenas mudanças para deixar a parte final do concurso mais dinâmica. Contudo, o alarmante não foi só a queda de audiência (o programa começou sua trajetória como o mais visto todas as semanas; na sua semi-final, oito programas tinham superado-o em audiência e Britain's Got Talent liderava com facilidade) mas a falta de interesse total do público e da imprensa nos acontecimentos do programa. A repercussão, depois das primeiras semanas, foi zero.

De qualquer maneira, a BBC e a Talpa, produtora do programa, estão mantendo a cabeça em pé: o programa volta, levemente remodelado, no ano que vem e com o mesmíssimo painel de jurados.

Enquanto, nos EUA, os reality perdem um pouquinho da sua força, na Europa, os programas de realidade -- claramente influenciados por sucessos americanos -- estão mais forte do que nunca.

Entre 2006 e 2009, The Hills foi um sucesso de audiência nos EUA, onde foi exibido pela MTV, e um enorme fenômeno social entre o público jovem no país. O programa focava em Lauren Conrad, uma moça jovem, bela e muito bem vestida, já apresentada ao público em outro sucesso da emissora (Laguna Beach), e sua busca por sucesso no mundo da moda em Los Angeles (o que, in hindsight, nem faz muito sentido pois a indústria da moda americana fica concentrada em NYC). Contudo, o que chamava a atenção era a falta de clareza entre o que era real e o que era falso: apesar do título "reality" ser meramente decorativo em absolutamente TODOS os reality americanos, The Hills levava isso a outro nível, mostrando a vida de Lauren e seu cotidiano de maneira tão novelesca que era impossível acreditar que não era roteirizado. O programa chegou ao absurdo de -- no ápice de sua popularidade, quando The Hills estava em tudo quanto é canto, inclusive na capa da Teen Vogue e da Rolling Stone -- mostrar Lauren, naquela altura uma super celebridade, como uma desconhecida, tendo que se apresentar para pessoas como se todo mundo já não soubesse seu nome, passando por entrevistas de emprego e indo numa cartomante que, surpresa, sabia tudo da vida dela (assim como todo o resto da população). Depois de anos negando ser roteirizado, o programa admitiu que tudo não passava de uma farsa na cena final do episódio final.

De qualquer maneira, o formato causou um impacto enorme e sua legacy lives on na Europa.

O caso mais notável é no Reino Unido onde The Only Way Is Essex é um dos programas mais visto da TV fechada, atraindo 1 milhão de espectadores todas as semanas e mantendo-se como um sucesso faz 2 anos, ao longo de 84 episódios (até o momento) e muitas trocas de elenco.


TOWIE, como o programa é apelidado pelos fãs e imprensa, é uma mistura de The Hills com outro sucesso da MTV, Jersey Shore. O formato é igualzinho a The Hills: dramas acerca de rompimentos, riqueza, gente bela e jovem e estilosa (dependendo do seu ponto de vista). Tudo -- das seqüencias musicais aos title cards toda vez que algum "personagem" aparece na tela -- é inspirado por The Hills. Contudo alguns elementos de choque a la Jersey Shore foram implementados: assim como Jersey Shore se foca nos guidos de Nova Jersey, com seus estilos peculiar, TOWIE foca nos playbas e nas pattys de Essex, uma zona afluente meio rural meio urbana na grande Londres onde todo mundo (pelo menos de acordo com a TV) parece ser obcecado com bronzeamento artificial, cilhos postiços gigantescos, maquiagem carregada, injeções de colágeno e  muita círurgia plástica.



Como contraponto de TOWIE, exibido no canal jovem da ITV, o ITV2, o canal rival, E4, o outpost a cabo do Channel 4, lançou o Made in Chelsea, outro programa seguindo a risca o manual The Hills de como fazer TV mas focando na galera aristocrática e rica do centro de Londres, especificamente em Chelsea, o distrito mais caro da capital inglesa. Uma versão bem mais classy de TOWIE que, obviamente, de classy não tem muita coisa.

Ambos os programas se mantém no topo dos mais vistos da TV fechada local e são enormes sucessos entre os jovens locais. O curioso é que, diferente dos EUA, o Reino Unido tem um orgão regulamentador de mídia muito forte, o OFCOM, e, para evitar problemas, tanto The Only Way Is Essex quanto Made in Chelsea começam com um aviso de que "as pessoas nesse programa são reais mas algumas histórias e enredos podem ter sido fabricadas para seu entretenimento".



Na França, a emissora jovem NRJ12 estreou, em março desse ano, Hollywood Girls, sobre duas garotas francesas em busca da fama em L.A. As similaridades entre HG e The Hills são gritantes a ponto de que, cedo ou tarde, eu suspeito que deve rolar uma ação judicial: TUDO -- dos locais a fotografia e mesmo alguns enredos -- é igualzinho ao programa da MTV, ao ponto de parecer um reamke com atores franceses.

Mesmo assim, Hollywood Girls é um sucesso e, apesar do visual sleak & chic & luxuoso, deve sair bem barato para a emissora pois é produzido em velocidade indústrial: foram 92 episódios desde março, comparado com 102 de The Hills ao longo de cinco anos.

Alias, Hollywood Girls é tão absurdamente novelesco que faz com que The Hills pareça um documentário sério. Saquem só a descrição da primeira temporada, traduzida da Wikipedia francesa:

A procura de Josh, seu irmão que ela nunca conheceu, Ayem migra para Hollywood junto com sua amiga Caroline, onde irão morar com a amiga de infância delas, Chloe Jones. Mas Sandra, a roommate de Chloe, não vê com bons olhos a chegada das duas francesas e fará de tudo para colocá-las para fora. Rapidamente, Ayem e Caroline se integram a vida em West Hollywood e conhecem Nicolas, Kevin e Kamel. Juntos, eles irão confrontar a maléfica Geny G, agente das estrelas mas também chefe de uma rede de prostituição. A temporada termina com a queda do avião de Ayem.
Pois é, chupem essa manga. E Hollywood Girls não é o único reality show a la Americaine. Outro sucesso é a série de programas que leva um grupo de jovens Ch'tis a regiões exóticas do mundo.

Em 2008, o filme Bienvenue chez les Ch'tis, que satiriza a região nordeste de Paris, foi um fenômeno de bilheteria e se transformou no maior sucesso do cinema francês. Daí, os Frenchies aplicaram o pensamento americano: faturar em cima do fenômeno do momento com um reality.

A região nordeste da França -- Nord-pas-Calain -- é uma região beeeem pouco sofisticada, com um dialeto próprio pouco charmoso (ao invés de "toi", por exemplo, eles falam "ti", hence a classificação dos locais como ch'tis) e com péssimo clima, sempre frio, cinza e chuvoso. Então, é claro, o conceito do programa é levar os locais da região para lugares que são o exato oposto: Ibiza; Mykono; Miami; Las Vegas.

Reino Unido e França já conquistado, ainda falta um potencial mercado. Worry not, a Alemanha também já mergulhou na onda do scripted reality (reality show lá é conhecido como doku soap, então os roteirizados são classificados como pseudo doku soap. Muto chique).

O maior sucesso do gênero é Berlin - Tag und Nacth (Berlin - Dia & Noite) que acompanha os dramas roteirizados de um monte de jovens reais em Berlin, a cidade mais cosmopolita e cool da Alemanha. O programa é um sucesso de repercussão e o programa alemão mais curtido no Facebook. Ah, uma versão para França, Paris Jour et Nuit, já está em produção, com estréia prevista para 2013.

Enquanto muitos parecem diretamente "chupados" de The Hills, outros adicionam seus próprios twist e, quase todos, parecem ser um mix entre o mundo fashionable cool de The Hills com o mundo outrageously drunk de baixaria de outro fenômeno da MTV, Jersey Shore.

O melhor exemplo de um mix dos dois, contudo, é a produção da MTV britânica, The Valleys. O nome indica uma homenagem ao icônico Hills. O elenco, contudo, é bem na linha de Jersey Shore como vocês podem ver pelo trailer abaixo.


A MTV britânica, alias, tem, desde 2011, sua própria versão de Jersey Shore entitulada Geordie Shore. "Geordie" é como são apelidados os habitantes de Newcastle, uma região conhecida por ser uma das mais pobres do país porém, também, a mais festeira. O lugar está na moda graças a celebridades provenientes da cidade como Cheryl Cole.


A versão britânica é bem parecida com a americana mas, com as regulamentações envolvendo nudez e xingamento muito mais relaxadas que nos EUA, ela é bem mais caliente. Rapidamente, o programa, que já está na quarta temporada, bateu recordes históricos de audiência para o canal.

O sucesso da versão inglesa só não é maior que a da versão espanhola. Gandía Shore atraiu 1 milhão de espectadores em seu primeiro episódio na MTV espanhola. Uma versão francesa está em produção.

Enquanto isso, a versão americana começa sua última temporada na próxima semana. Jersey Shore continua sendo o programa mais visto da MTV mas com 1/4 das audiências de seu ápice, as mudanças nas circunstâncias na vida do elenco (Snooki é mãe!!), a perda de momentum, sem falar no que aconteceu com o famoso Shore (destruído pelo furacão Sandy), é uma boa hora mesmo para o programa ser cancelado. Veremos se 2013 será um ano melhor para a criação de realities americanos. A MTV está apostando todas as fichas em caipiras. Será essa a tendência do próximo ano? 

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