Depois de anos sendo um pop culture junkie, finalmente resolvi canalizar minhas energias em algo útil (assim, dependendo da sua perspectiva). Esse blog tem, portanto, o objetivo de documentar quem está causando na cultura pop mas não comentando do óbvio e sim antecipando tendências e o que está por vir. E-mail me @ tacausando@gmail.com. Mais sobre a nossa proposta.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

2011: o ano das competições de canto

Apesar de nunca ter pego fogo no Brasil, as competições de canto continuam sendo uma potência sem tamanho no mundo, principalmente em dois dos maiores mercados ocidentais, os EUA e o Reino Unido. Mas 2011 foi um ano de mudanças, crises e sucessos para o gênero. Nesse post, vamos analisar o que ocorreu nesse mundinho.

O ano começou com a estréia da décima temporada de American Idol. O programa, exibido pela FOX, é líder indiscutível da TV americana desde 2002, responsável por lucros milionários e pelo lançamento de um número considerável de atos bem-sucedidos (Kelly Clarkson, Jennifer Hudson, Daughtry, Carrie Underwood) e um número ainda maior de atos fracassados. 2011 foi  um ano de extrema importância para o programa pois, depois de quase dez anos, Simon Cowell, o juiz estrela, iria deixar o painel para lançar o X Factor, seu próprio show de talento, em solos americanos. E ele iria fazer isso em um momento crítico para o programa: quando sua audiência estava em queda e diversas mudanças high-profile (como a contratação da gigantescamente bem-sucedida comediante e personalidade televisiva Ellen DeGeneres) tinham sido mal recebidas.

American Idol: bem sucedida reinveção
Depois de muita especulação, o novo painel de jurados foi anunciado. Randy Jackson, o jurado menos comentado, manteria sua posição e, no lugar de Simon et all, entrariam dois gigantescos A-listers (cujo selling power estava substancialmente afetado  nos últimos tempos), Jennifer Lopez e o líder do Aerosmith, Steve Tyler.

A mudança foi bem sucedida para todos. Depois de anos de pequenas quedas de audiência, American Idol finalmente registrou um aumento em relação a temporada anterior. O novo painel foi bem recebido pelo público e Tyler e J.Lo ganharam uma adrenalina de popularidade. Lopez foi a mais beneficiada: depois de anos tentando voltar ao topo, a sua presença em Idol aumentou seu cachê substancialmente, ajudando-a a emplacar um smash hit global (On the Floor, que contém samples de 'Chorando se Foi' do grupo de lambada Kaoma, gigantesco hit do início dos 90); papeis no cinema; contratos publicitários lucrativos e muitos outros benefícios.

O sucesso da nova temporada de Idol com certeza deixou Simon Cowell, que provavelmente contava com o downfall do programa para lançar sua nova aposta, nervoso. Mas também deixou as outras redes louquinhas para conseguirem uma fatia do sucesso do gênero.

Desde que Idol estourou em 2002, nenhuma emissora conseguiu emplacar um show de talento nos EUA, garantindo ao programa total monopólio no gênero. Uma tentativa foi feita em 2006, quando a ABC investiu centenas de milhões de dólares em The One (versão estado-unidense de Operacion Triunfo, o reality espanhol que também originou Fama da Rede Globo), mas o programa se provou um caríssimo erro e ficou no ar por apenas uma semana.

Mas, em 2011, a NBC resolveu arriscar e apostou todas as suas fichas em The Voice, baseado no formato The Voice of Holland.

Um formato da Talpa, produtora de John de Mol (criador do Big Brother), o formato estreou na Holanda em 2010 e rapidamente se transformou num fenômeno de audiência no país. O programa se destacava pelas blind auditions (audições cegas): os juízes ficavam de costas para os participantes, escolhendo-os baseados apenas em suas vozes. Isso era um contraste ao X Factor e ao Idol, que sempre deram enorme importância tanto a aparência dos seus finalistas quanto, no período das audições, a atos cômicos e deluded que não tinham nenhuma habilidade para o canto.

The Voice: aposta certeira
Outra diferença é que, assim como no X Factor, cada juiz também atua como mentor dos participantes. Mas, diferente do programa de Simon Cowell, onde cada membro do painel fica responsável por uma categoria, em The Voice os participantes é que decidem quem irá ficar responsável por eles e os juízes tem que ser bons de argumento para convencê-los a entrar em seus times.

Então, depois do enorme sucesso na Holanda, a NBC não economizou na hora de conseguir os direitos e foi atrás de quatro nomes chamativos para fazer parte de seu painel. Os contratados foram Cee-Lo Green, premiado cantor que tinha obtido enorme aclame mundial graças ao sucesso de Fuck You (Forget You); Blake Shelton, um cantor country que, apesar de sucesso dentre os fãs do gênero, não era um household name ainda (apesar de ser casado com uma, a megastar country Miranda Lambert) e duas estrelas que, apesar de milhões de unidades vendidas, já tinham visto dias melhores: Adam Levine, líder do Maroon 5, e Christina Aguilera.

Com pouquíssimos sucessos emplacados na última década, a NBC não poupou na hora de promover o programa e os executivos respiraram aliviados quando receberam os dados consolidados de audiência: média de 11 milhões de espectadores, longe dos 22 milhões de Idol mas números extremamente positivos, com uma quantidade grande de telespectadores de 18 a 49 anos (os únicos que interessam aos anunciantes).

Com The Voice se tornando um dos pouquíssimos sucessos de audiência da NBC nos últimos 10 anos (o unico hit notável desde o fim de Friends foi The Office), não é surpreendente que o canal não esteja poupando medidas para que o programa cresça ainda mais na sua segunda temporada. Milhões estão sendo investidos em publicidade e a nova temporada estreará no slot mais auspicioso da TV americana: logo depois do Superbowl, a grande campeonato do futebol americano que é, historicamente, a maior audiência anual da TV estado-unidense.


Como é comum nesse mundo de competições de cantos, o ganhador da primeira temporada, Javier Colon, despontou para o anonimato. Por outro lado, assim como aconteceu com J.Lo e Steve Tyler, os juízes viram seu apelo popular dispararem depois do sucesso do programa: depois de anos sem emplacar nenhum sucesso considerável, Maroon 5 conseguiu um dos maiores sucessos do ano com Moves Like Jagger e Adam Levine virou um pin-up cobiçado entre mulheres novamente. O enorme fracasso do último CD de Christina foi apagado graças ao sucesso de Jagger, no qual ela participa como vocalista convidada. E Blake Shelton, antes um cantor country relativamente desconhecido, virou um household name.

Com o sucesso de The Voice nos EUA, o formato se valorizou enormemente e todas as redes televisivas do mundo enlouqueceram para adquirir os direitos do programa (no Brasil, a Globo já garantiu a versão nacional). Por outro lado, fez com que a versão americana de X Factor, que era a grande aposta para ser uma brisa de ar fresco no mundo dos concursos de canto dos EUA, perdesse muito do seu buzz uma vez que ela agora teria que suceder não um, mais DOIS concursos de canto de enorme sucessos exibidos ao longo do ano.

E enquanto Idol e The Voice brilharam em 2011, não foi o melhor dos anos para o X Factor.

O aguardado retorno de Simon Cowell perdeu muita força com o sucesso de Idol e The Voice. De fato, quando X Factor finalmente estreou na FOX, em setembro, o gênero parecia saturado.

Mesmo assim, não foram poupados esforços para promover o programa de Cowell. Nove meses antes de sua estréia, o programa já era incessantemente anunciado e muitos especulavam sobre quem Simon escolheria para acompanha-lo no painel de jurados. A Pepsi anunciou um patrocinio milionário para o programa (fazendo frente a Coca, que com seu patrocínio de Idol tinha o maior sponsership deal da TV estado-unidense), prometendo ao ganhador do programa um starring spot em seu comercial no Superbowl (como já disse antes, o programa mais visto da TV estado-unidense, com seus intervalos comerciais vendidos a valor recorde: esse ano, 3 milhões de dólares por 30 segundos), seguindo os passos de outros celebrados spokepersons como Michael Jackson e Britney Spears.

Em todo o caso, a primeira decepção veio quando o painel de jurados foi anunciado. Acompanhariam Cowell, Paula Abdul, ex-jurada de American Idol cujo último hit foi nos anos 80; Cheryl Cole que, apesar de sua popularidade gigantesca no Reino Unido e seu stint muitíssim bem-sucedido como jurada na versão original britânica do programa, era uma total desconhecida nos EUA e L.A. Reid, um dos mais bem-sucedidos executivos musicais do país mas que estava longe de ser uma celebridade. Nenhum nome, além de Simon, era tão instântaneamente reconhecido ou valorizado quanto J.Lo ou Steven Tyler, ou mesmo Christina Aguilera e Adam Levine.

X Factor US: começo cambaleante
Depois, veio o primeiro escândalo: após duas audições, Cheryl Cole foi demitida e substituída por Nicole Scherzinger, ex-lead singer das Pussycat Dolls. A demissão enlouqueceu a imprensa e o público britânico, onde Cheryl é querídissima, fazendo com que, pela primeira vez, Simon fosse hostilizado pelos tablóides de seu país natal.

Em todo o caso, em setembro, The X Factor finalmente estreou nos EUA. E, analisando friamente, o programa não fez feio: cerca de 10 milhões de espectadores, líder geral no público 18-49. Dados satisfatórios o suficiente para a FOX prontamente renovar o programa para a segunda temporada.

Por outro lado, dado o seu budget milionário e as expectativas de que o programa iria superar Idol, o programa teve uma audiência levemente frustrante. Simon, que afirmou para o Hollywood Reporter que esperava bater Idol e que ele não ficaria feliz com "qualquer coisa abaixo de 20 milhões de espectadores", teve que morder a língua quando o programa conseguiu metade disso e não chegou nem perto de incomodar a hegemonia do seu principal concorrente.

Além disso, diferente dos outros programas, o X Factor americano não conseguiu reerguer a carreira de nenhum de seus juízes falidos (i.e.: Nicole Scherzinger e Paula Abdul). Pelo contrário, Nicole foi enormemente criticada (com quase todas as críticas, do New York Times a revista People, afirmando que Cheryl, que foi mostrada por 15 minutos ao longo do primeiro episódio, era uma opção muito mais carismática e interessante) e não conseguiu tirar sua carreira musical solo do chão no país.

Em todo o caso, Cowell é um gênio da reinvenção, tendo bem-sucedidademente recriado a versão original do X Factor diversas vezes. De fato, o programa demorou 8 anos para alcançar seu ápice no Reino Unido. Então eu diria que o programa ainda tem chance de dar certo nos EUA.

Quanto a The Voice e American Idol, tanto a NBC quanto a FOX estão apostando todas as suas fichas no sucesso de suas novas temporadas. Como já disse, Voice estreará logo após o Superbowl, o evento televisivo mais assistido dos EUA. Já Idol, que consegue audiências fantásticas mesmo sem nenhum lead-in, estreará sua 11ª temporada logo após o NFC Championship, outro evento esportivo com audiências gigantescas.

Aviso para aqueles que não suportam esses concursos de canto repetitivos (eu): é melhor não alimentar as expectativas que 2012 será o ano que eles desaparecerão da TV.

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