Depois de anos sendo um pop culture junkie, finalmente resolvi canalizar minhas energias em algo útil (assim, dependendo da sua perspectiva). Esse blog tem, portanto, o objetivo de documentar quem está causando na cultura pop mas não comentando do óbvio e sim antecipando tendências e o que está por vir. E-mail me @ tacausando@gmail.com. Mais sobre a nossa proposta.
Lana Del Rey é A aposta para ser o grande breakthrought de 2012. Todo mundo está falando nonstop da
cantora (inclusive esse
humilde blog que, como de costume, comentou ela logo no
comecinho do fenômeno #modéstia) e a crítica tá doidinha por ela. A
mulher nem álbum lançou e já apareceu na capa das duas revistas musicais
mais influentes da Europa, a britânica Q e a francesa InRockuptibles;
apareceu na Billboard como a grande aposta para 2012 e foi manchete da
Folha Ilustrada, o encarte cultural mais lido do Brasil, e da Interview
russa. Isso sem falar as aparições super hyped dela no Jonathan Ross no Reino Unido e no Le Grand Journal da França, programas que, em geral, são limitados a A-listers.
No sábado passado, algumas semanas antes do lançamento do CD, Lana fez sua primeira aparição na TV americana. Como de costume, a moça começou com o pé direito, aparecendo no Saturday Night Live, um dos programas mais prestigiosos (e efetivos, promocionalmente falando) dos EUA. E a super esperada aparição foi um total e completo desastre, provando, mais uma vez, os perigos do overhypeness. Lana está sendo tratada como uma super estrela de primeiro escalão mas, como a apresentação dela deixou mais que claro, ela não está pronta para isso.
De qualquer maneira, Lana vai follow-up sua desastrosa aparição no Saturday Night Live com outros bookings A-list como os talk shows de David Letterman e de Ellen DeGeneres. A americana de 25 anos lança seu primeiro CD, Born to Die, no dia 25. O single homônimo será lançado mundialmente na mesma semana e o vídeo já está disponível.
Apesar de nunca ter pego fogo no Brasil, as competições de canto continuam sendo uma potência sem tamanho no mundo, principalmente em dois dos maiores mercados ocidentais, os EUA e o Reino Unido. Mas 2011 foi um ano de mudanças, crises e sucessos para o gênero. Nesse post, vamos analisar o que ocorreu nesse mundinho.
O ano começou com a estréia da décima temporada de American Idol. O programa, exibido pela FOX, é líder indiscutível da TV americana desde 2002, responsável por lucros milionários e pelo lançamento de um número considerável de atos bem-sucedidos (Kelly Clarkson, Jennifer Hudson, Daughtry, Carrie Underwood) e um número ainda maior de atos fracassados. 2011 foi um ano de extrema importância para o programa pois, depois de quase dez anos, Simon Cowell, o juiz estrela, iria deixar o painel para lançar o X Factor, seu próprio show de talento, em solos americanos. E ele iria fazer isso em um momento crítico para o programa: quando sua audiência estava em queda e diversas mudanças high-profile (como a contratação da gigantescamente bem-sucedida comediante e personalidade televisiva Ellen DeGeneres) tinham sido mal recebidas.
American Idol: bem sucedida reinveção
Depois de muita especulação, o novo painel de jurados foi anunciado. Randy Jackson, o jurado menos comentado, manteria sua posição e, no lugar de Simon et all, entrariam dois gigantescos A-listers (cujo selling power estava substancialmente afetado nos últimos tempos), Jennifer Lopez e o líder do Aerosmith, Steve Tyler.
A mudança foi bem sucedida para todos. Depois de anos de pequenas quedas de audiência, American Idol finalmente registrou um aumento em relação a temporada anterior. O novo painel foi bem recebido pelo público e Tyler e J.Lo ganharam uma adrenalina de popularidade. Lopez foi a mais beneficiada: depois de anos tentando voltar ao topo, a sua presença em Idol aumentou seu cachê substancialmente, ajudando-a a emplacar um smash hit global (On the Floor, que contém samples de 'Chorando se Foi' do grupo de lambada Kaoma, gigantesco hit do início dos 90); papeis no cinema; contratos publicitários lucrativos e muitos outros benefícios.
O sucesso da nova temporada de Idol com certeza deixou Simon Cowell, que provavelmente contava com o downfall do programa para lançar sua nova aposta, nervoso. Mas também deixou as outras redes louquinhas para conseguirem uma fatia do sucesso do gênero.
Desde que Idol estourou em 2002, nenhuma emissora conseguiu emplacar um show de talento nos EUA, garantindo ao programa total monopólio no gênero. Uma tentativa foi feita em 2006, quando a ABC investiu centenas de milhões de dólares em The One (versão estado-unidense de Operacion Triunfo, o reality espanhol que também originou Fama da Rede Globo), mas o programa se provou um caríssimo erro e ficou no ar por apenas uma semana.
Mas, em 2011, a NBC resolveu arriscar e apostou todas as suas fichas em The Voice, baseado no formato The Voice of Holland.
Um formato da Talpa, produtora de John de Mol (criador do Big Brother), o formato estreou na Holanda em 2010 e rapidamente se transformou num fenômeno de audiência no país. O programa se destacava pelas blind auditions (audições cegas): os juízes ficavam de costas para os participantes, escolhendo-os baseados apenas em suas vozes. Isso era um contraste ao X Factor e ao Idol, que sempre deram enorme importância tanto a aparência dos seus finalistas quanto, no período das audições, a atos cômicos e deluded que não tinham nenhuma habilidade para o canto.
The Voice: aposta certeira
Outra diferença é que, assim como no X Factor, cada juiz também atua como mentor dos participantes. Mas, diferente do programa de Simon Cowell, onde cada membro do painel fica responsável por uma categoria, em The Voice os participantes é que decidem quem irá ficar responsável por eles e os juízes tem que ser bons de argumento para convencê-los a entrar em seus times.
Então, depois do enorme sucesso na Holanda, a NBC não economizou na hora de conseguir os direitos e foi atrás de quatro nomes chamativos para fazer parte de seu painel. Os contratados foram Cee-Lo Green, premiado cantor que tinha obtido enorme aclame mundial graças ao sucesso de Fuck You (Forget You); Blake Shelton, um cantor country que, apesar de sucesso dentre os fãs do gênero, não era um household name ainda (apesar de ser casado com uma, a megastar country Miranda Lambert) e duas estrelas que, apesar de milhões de unidades vendidas, já tinham visto dias melhores: Adam Levine, líder do Maroon 5, e Christina Aguilera.
Com pouquíssimos sucessos emplacados na última década, a NBC não poupou na hora de promover o programa e os executivos respiraram aliviados quando receberam os dados consolidados de audiência: média de 11 milhões de espectadores, longe dos 22 milhões de Idol mas números extremamente positivos, com uma quantidade grande de telespectadores de 18 a 49 anos (os únicos que interessam aos anunciantes).
Com The Voice se tornando um dos pouquíssimos sucessos de audiência da NBC nos últimos 10 anos (o unico hit notável desde o fim de Friends foi The Office), não é surpreendente que o canal não esteja poupando medidas para que o programa cresça ainda mais na sua segunda temporada. Milhões estão sendo investidos em publicidade e a nova temporada estreará no slot mais auspicioso da TV americana: logo depois do Superbowl, a grande campeonato do futebol americano que é, historicamente, a maior audiência anual da TV estado-unidense.
Como é comum nesse mundo de competições de cantos, o ganhador da primeira temporada, Javier Colon, despontou para o anonimato. Por outro lado, assim como aconteceu com J.Lo e Steve Tyler, os juízes viram seu apelo popular dispararem depois do sucesso do programa: depois de anos sem emplacar nenhum sucesso considerável, Maroon 5 conseguiu um dos maiores sucessos do ano com Moves Like Jagger e Adam Levine virou um pin-up cobiçado entre mulheres novamente. O enorme fracasso do último CD de Christina foi apagado graças ao sucesso de Jagger, no qual ela participa como vocalista convidada. E Blake Shelton, antes um cantor country relativamente desconhecido, virou um household name.
Com o sucesso de The Voice nos EUA, o formato se valorizou enormemente e todas as redes televisivas do mundo enlouqueceram para adquirir os direitos do programa (no Brasil, a Globo já garantiu a versão nacional). Por outro lado, fez com que a versão americana de X Factor, que era a grande aposta para ser uma brisa de ar fresco no mundo dos concursos de canto dos EUA, perdesse muito do seu buzz uma vez que ela agora teria que suceder não um, mais DOIS concursos de canto de enorme sucessos exibidos ao longo do ano.
E enquanto Idol e The Voice brilharam em 2011, não foi o melhor dos anos para o X Factor.
O aguardado retorno de Simon Cowell perdeu muita força com o sucesso de Idol e The Voice. De fato, quando X Factor finalmente estreou na FOX, em setembro, o gênero parecia saturado.
Mesmo assim, não foram poupados esforços para promover o programa de Cowell. Nove meses antes de sua estréia, o programa já era incessantemente anunciado e muitos especulavam sobre quem Simon escolheria para acompanha-lo no painel de jurados. A Pepsi anunciou um patrocinio milionário para o programa (fazendo frente a Coca, que com seu patrocínio de Idol tinha o maior sponsership deal da TV estado-unidense), prometendo ao ganhador do programa um starring spot em seu comercial no Superbowl (como já disse antes, o programa mais visto da TV estado-unidense, com seus intervalos comerciais vendidos a valor recorde: esse ano, 3 milhões de dólares por 30 segundos), seguindo os passos de outros celebrados spokepersons como Michael Jackson e Britney Spears.
Em todo o caso, a primeira decepção veio quando o painel de jurados foi anunciado. Acompanhariam Cowell, Paula Abdul, ex-jurada de American Idol cujo último hit foi nos anos 80; Cheryl Cole que, apesar de sua popularidade gigantesca no Reino Unido e seu stint muitíssim bem-sucedido como jurada na versão original britânica do programa, era uma total desconhecida nos EUA e L.A. Reid, um dos mais bem-sucedidos executivos musicais do país mas que estava longe de ser uma celebridade. Nenhum nome, além de Simon, era tão instântaneamente reconhecido ou valorizado quanto J.Lo ou Steven Tyler, ou mesmo Christina Aguilera e Adam Levine.
X Factor US: começo cambaleante
Depois, veio o primeiro escândalo: após duas audições, Cheryl Cole foi demitida e substituída por Nicole Scherzinger, ex-lead singer das Pussycat Dolls. A demissão enlouqueceu a imprensa e o público britânico, onde Cheryl é querídissima, fazendo com que, pela primeira vez, Simon fosse hostilizado pelos tablóides de seu país natal.
Em todo o caso, em setembro, The X Factor finalmente estreou nos EUA. E, analisando friamente, o programa não fez feio: cerca de 10 milhões de espectadores, líder geral no público 18-49. Dados satisfatórios o suficiente para a FOX prontamente renovar o programa para a segunda temporada.
Por outro lado, dado o seu budget milionário e as expectativas de que o programa iria superar Idol, o programa teve uma audiência levemente frustrante. Simon, que afirmou para o Hollywood Reporter que esperava bater Idol e que ele não ficaria feliz com "qualquer coisa abaixo de 20 milhões de espectadores", teve que morder a língua quando o programa conseguiu metade disso e não chegou nem perto de incomodar a hegemonia do seu principal concorrente.
Além disso, diferente dos outros programas, o X Factor americano não conseguiu reerguer a carreira de nenhum de seus juízes falidos (i.e.: Nicole Scherzinger e Paula Abdul). Pelo contrário, Nicole foi enormemente criticada (com quase todas as críticas, do New York Times a revista People, afirmando que Cheryl, que foi mostrada por 15 minutos ao longo do primeiro episódio, era uma opção muito mais carismática e interessante) e não conseguiu tirar sua carreira musical solo do chão no país.
Em todo o caso, Cowell é um gênio da reinvenção, tendo bem-sucedidademente recriado a versão original do X Factor diversas vezes. De fato, o programa demorou 8 anos para alcançar seu ápice no Reino Unido. Então eu diria que o programa ainda tem chance de dar certo nos EUA.
Quanto a The Voice e American Idol, tanto a NBC quanto a FOX estão apostando todas as suas fichas no sucesso de suas novas temporadas. Como já disse, Voice estreará logo após o Superbowl, o evento televisivo mais assistido dos EUA. Já Idol, que consegue audiências fantásticas mesmo sem nenhum lead-in, estreará sua 11ª temporada logo após o NFC Championship, outro evento esportivo com audiências gigantescas.
Aviso para aqueles que não suportam esses concursos de canto repetitivos (eu): é melhor não alimentar as expectativas que 2012 será o ano que eles desaparecerão da TV.
Em meados dos anos 90, um movimento cultural chamado Cool Britannia tomou conta da mídia. Entre 95 e 97, poucas coisas eram mais cool que o Reino Unido e o vestidinho union jack usado por Geri Haliwell, a Ginger Spice, durante uma apresentação nos BRIT Awards, virou um icône desse momento. Na mundo da moda, Alexander McQueen ganhava força e, na música, além do sucesso global das Spice Girls, o britpop, liderado pelos Oasis, era o ritmo musical do momento, propulsando Blur, Pulp, The Verve, Suede e Supergrass para o estrelato mundial. Nada era mais cool que a Inglaterra. Mas durou pouco e, em 1998, até os britânicos já tinham moved on da modinha.
É óbvio que a relevância cultural dos britânicos nunca foi posta em duvidas. De Shakespeare a Harry Potter, de Vivianne Westwood a Alexander McQueen, de Twiggy a Kate Moss, dos Beatles as Spice Girls, o Reino Unido sempre foi um dos maiores consumidores e propulsores da cultura pop. Mas, se pararmos para pensar, apesar de muito menos buzz que o Cool Britannia em 1996, 2011 foi um ano ímpar para cultura britânica.
Para começar, temos a news story mais comentada do ano: o Royal Wedding. O casamento do Principe William com Kate Middleton foi o evento televisívo mais assistido do ano e fez com que revistas de fofocas e jornais, tanto nos EUA quanto no Reino Unido, batessem recordes de venda. Kate Middleton virou uma celebridade global e um ícone de estilo de enorme influência e Pippa, a irmã mais velha da noiva, desbancou Kim Kardashian e Mulheres Frutas como o derriere mais celebrado, comentado e desejado do planeta.
O suicídio de Alexander McQueen em 2010 colocou o mundo da moda em polvorosa. Todos se perguntaram se a marca que levava o nome do designer britânico mais celebrado do século 21 iria continuar no topo sob o comando de Sarah Burton. E quando Kate revelou o seu vestido de noiva, made by McQueen, pela primeira vez, o mundo inteiro sabia a resposta.
Em todas as áreas culturais, o destaque de 2011 foi o Reino Unido.
Na música, Adele quebrou todos os recordes, foi celebradíssima e basicamente carregou a indústria fonográfica nas costas, freando um declínio em vendas de CDs que já durava 8 anos. Dezenas de recordes quebrados, o CD mais vendido do ano (15 milhões de cópias no mundo, uma diferença modesta de 10 milhões de cópias com o segundo lugar, Michael Bublé) e o single mais tocado, Adele dominou as paradas de norte a sul, de leste a oeste.
O vestido McQueen de Kate e o derriere de Pippa
Mesmo com um problema na garganta que a obrigou a cancelar todas as suas aparições, a londrina foi a obsessão da mídia e do público e não deixou de ser manchete mesmo depois de seu sumiço. O unico momento que o holofote foi desviado dela foi quando outra londrina, Amy Winehouse, morreu aos 27 anos. Depois de anos brigando com os vícios, Winehouse, um dos maiores prodígios musicais dos últimos anos, faleceu em sua casa.
Adele: a salvação da indústria fonográfica
Nos cinemas, outro ícone britânico brilhou: Harry Potter. O lançamento do último filme da série mais bem sucedida da história foi o maior lançamento do ano, com 1.33 bilhão de dólares arrecadados nas bilheterias mundiais (com arrecadação acima de 50 milhões em sete mercados: 381mi nos EUA; 120mi no Japão; 117mi no Reino Unido; 78mi na Alemanha; 67mi na França; 60mi na China e 52mi na Austrália). Com o lucro inflacionado pelos preços mais altos das sessões em 3D, o último filme da saga bateu recordes de bilheteria e fechou a série de J.K. Rowling com chave de ouro.
Daniel Redcliffe, JK Rowling, Emma Watson e Rupert Grint posam na pré-estréia de HP no centro de Londres
Elenco de O Discurso do Rei comemora o Oscar
E Harry não foi o unico britânico que brilhou nos cinemas. O filme mais premiado do ano também foi bem inglês: O Discurso do Rei, o grande ganhador do Oscar e outro dos filmes mais rentaveis do ano, com 400 milhões arrecadados e produzido com um orçamento micro.
Na literatura, One Day foi um dos enormes sucessos do ano. Lançado em 2009, o livro, escrito por David Nicholls, conta a história de um casal e cada capítulo narra um dia na vida deles ao longo de 15 anos. O romance foi adaptado para o cinema, com Anne Hathaway e Jim Sturgess como os protagonistas mas, enquanto o filme não foi muito bem recebido, o livro alcançou o ápice de vendas.
Finalmente, na televisão, nenhuma série foi tão elogiada quanto Downton Abbey. O drama épico, escrito por Julian Fellowes, bateu recordes de audiência na TV inglesa com a estréia de sua segunda temporada e varreu todas as premiações mundiais, incluindo os Emmy. O programa foi exportado para o mundo inteiro (inclusive para os EUA, onde foi exibido com audiências recordes na PBS) e foi reconhecido pelo Guinness como "a série mais amada pelos críticos" (o Guinness é meio vendido, né?).
All in all, é impossível negar a força que o Reino Unido teve na cultura pop ao longo de 2011. E merecidamente: num mundo dominado pela plasticidade de Hollywood, é bom mudar de foco as vezes.
O texto a seguir é uma tradução da reportagem da capa da Hollywood Reporter, escrito por Leslie Bruce e traduzido por mim.
The Guilt and Glory of the Housewives: a Culpa e a Glória das Housewives
Um inside look no gigantesco franchise da Bravo, Real Hosewives, um business
enorme que tem como base barracos, controvérsia e o sempre presente
comportamento bem pouco exemplar da classe econômica que rima com
"bitch".
Nene Leakes (Atlanta); Ramona Singer (New York); Kyle Richards (Beverly Hills); Vicki Gunvalso (Orange County); Carolina Manzo (New Jersey)
"Alguém aceita uma taça de vinho?", pergunta Ramina Singer, a estrela diminuta, loira e histérica de The Real Housewives of New York.
É hora do
almoço e a senhora de 54 anos, maníaca por Pinot Grigio e conhecida pelo
seu comportamento excêntrico na telinha e sua falta de papas na língua,
está atuando (por livre e espontânea vontade) como a bartender on set durante a sessão de fotos que estampa essa publicação. Vestida num apertadíssimo
traje de cetim azul, ela samba pelo estúdio, entrando e saindo dos
camarins, oferecendo para qualquer um que passasse uma amostra de
"Ramona", o selo que lançou em 2010.
"Custa a
metade do que o Santa Margherita Pinot Grigio e o gosto é melhor", ela
diz das seis garrafas que sua assistente carrega, antes de completar,
"pelo menos foi a conclusão dos testes cegos!". A Real Housewive of
Atlanta NeNe Leakes (ela própria dona de sua recém lançada marca de
vinhos) sufoca uma risadinha antes de voltar sua atenção para assuntos
mais importantes - como escolher o Christian Loubotin correto da coleção
que sua assistente está tirando de uma mala Louis Vuitton de rodinhas.
"Eu optei
por uma estética muito clássica, para que ele não precise depender do
programa", continua Singer, enchendo uma taça para um assessor de
imprensa da Bravo que aceita relutantemente antes de oferecer um gole
para Carolina Manzo (New Jersey) e Vicki Gunvalson (Orange County).
Ambas recusam, sem nem sequer tirarem os olhos de seus celulares.
Kyle Richards (Beverly Hills) interrompe a descrição que está fazendo de seu novo livro (Kyle Richards: Life Is Not a Reality Show)
para encarar espantada Singer, que passa as mãos pelo seu cabelo e
desfila por um mar de mais de 25 profissionais, entre estilistas,
assistentes e esteticistas, deixando um rastro de taças de vinho
plásticas semi-vazias.
A cena é um coquetel de engraçado misturado com constrangimento e uma leve pitada de desastre no topo.
Mas sério, o
que é que você esperava? Classe? Pompa? Suntuosidade? Não foi imitando
Gracy Kelly que Singer e suas companheiras tingidas, clareadas,
botexadas e plastificadas ajudaram o canal Bravo a criar a sua franquia
de maior sucesso - avaliado por um insider como valendo mais de meio bilhão de dólares. Ocasionalmente desbocadas, freqüentemente barraqueiras e sempre se auto-promovendo, as mulheres da série original (The Real Housewives of Orange County)
e suas seis subseqüentes reencarnações (New York, Atlanta, New Jersey,
D.C., Miami e Beverly Hills) dominam os papos de barzinho e de sociais,
tanto as reais quanto as virtuais, por demonstrar o pior do
comportamento feminino.
As pioneiras: a trupe de Orange County
Sim, essas
mulheres são ricas (ou pelo menos se dão ao luxo de gastar e perder mais
dinheiro do que a maior parte das pessoas conseguiram durante toda sua
vida). E, apesar disso, esse franchise virou a distração perfeita para telespectadores na era do Occupy Anything. É o tipo de trainwreck television que os americanos, com todas as desgraças acontecendo ao seu redor,
provavelmente não deveriam estar assistindo. Mas, em qualquer dia da
semana, pelo menos 2 milhões deles -- a maioria, mulheres entre 18 e 49
anos -- estão grudados a uma versão ou outra dessa telenovela melodramática multifacetada, prontas para se envolver, gritar, culpar
e lamentar o tipo de comportamento que deixou até a Oprah horrorizada.
"Minha boca estava literalmente aberta", ela disse ano passado sobre
assistir Housewives. "Eu pensei, 'É isso que está no ar na televisão?!'".
Para cada
crítico e guardião cultural chocado pelas Housewives, existem milhões
que as amam. A estréia da nova temporada de Atlanta, no dia 6 de
novembro, atraiu 3 milhões de espectadores, a estréia mais assistida da
franquia até o momento. (Em contraste, a estréia da quarta temporada de
Breaking Bad, a ficção queridinha dos críticos exibido pela AMC, atraiu
1.9 milhão). De acordo com Larry Fried, diretor da SQAD, a Bravo lucrou
entre $35.6 milhões e $162 milhões apenas nos últimos dois anos com a
venda dos intervalos de Housewives.
"Quem
imaginaria que um programa tão modesto estaria vivo seis anos depois
como a nossa franquia mais duradoura", diz Lauren Zalaznick, presidente
da empresa pai da Bravo, NBCUniversal Entertainment & Digital
Network & Integrated Media. "É mais do que incrível, é absurdo".
Com formatos internacionais das Housewives já no ar na Grécia e Israel, e com um spinoff ambientado
em Vancouver previsto para maio, a NBCUniversal afirma que a versão
francesa está em processo de audições (o mercado é de extrema
importância pelo seu alcance amplo e o potencial para o aumento das
receitas comerciais) e versões ambientadas na Gold Coast australiana; na
Ásia (Indonésia, Singapura e Hong Kong) e no Reino Unido já estão em
desenvolvimento. Se a expansão internacional for bem sucedida, o império
de meio bilhão de dólares da Bravo poderá acabar valendo muito mais.
"O público quer assistir garotas ricas se comportando mal", explica Lisa Ong, presidente da empresa de brand strategy Truth
Consulting. "A franquia começou como uma versão real de Lifestyle of the
Rich and Famous mas virou uma análise cultural depois do breakdown econômico.
Cada cidade virou um experimento sociológico, uma reflexão em tempo
real do que está acontecendo com aquele 1 por cento".
Mas
drama, não antropologia, é o que mantém a franquia viva. Fora das telas,
é difícil lidar com alguns tópicos que as estrelas do programa se
envolvem: o assassinato de Ashley Jewel, ex-noivo da Real Housewive of
Atlanta Kandi Buruss, morto na frente de um strip club em outubro
de 2009; as estrelas da versão D.C. Michaele e Tareq Salehi entrando de penetra num jantar da Casa Branca um mês depois; a ida para rehab de Kim Richards, de Beverly Hillls, em dezembro--
e, mais tenso de tudo, o suicídio de Russel Armstrong, marido da
Housewive de Beverly Hills Taylor que era frequentemente mostrado na TV
como um businessman frio e muito pouco amoroso.
Tanto Bravo quanto as
Housewives foram bastante criticados nos dias que sucederam a morte de
Armstrong, com muitos defendendo que a segunda temporada do programa, que já estava gravada, editada e pronta para ir ao ar,
deveria ser cancelada. Mas o rating da estréia no dia 5 de
setembro, menos de um mês depois do suicídio, registrarou um aumento de
42% em relação ao primeiro episódio da primeira temporada. (A morte de
Armstrong foi tratada apenas em um segmento especial durante o primeiro
episódio).
Mal gosto? Talvez. Mas, tendo em vista o tema central do programa, isso não é exatamente um choque.
Apesar
das controvérsias (ou talvez, graças a elas), Housewives continua seu
crescimento no mundo frenético e competitivo da reality TV, onde até o powerhouse Jersey
Shore está mostrando sinais de enfraquecimento (a audiência caiu 13% , passando para 7 milhões de telespectadores no final da quarta temporada).
Parte do sucesso de Housewives se
deve a falta de escrúpulo na hora de substituir suas estrelas. Demandas
de divas e pedidos de aumento são muitas vezes motivos para demissões, e
até alguma das estrelas mais populares foram cortadas sem dó nem
piedade -- como foi o caso de Jill Zarin, cujo contrato não foi renovado
no fim da quarta temporada de New York.
Apesar disso, a Bravo oferece cada Housewive uma oportunidade ímpar de
desenvolver sua própria marca. Quando soma-se tudo, as Housewives já publicaram
mais de quinze livros; têm linhas de produtos que vão de maquiagem e
joalheria até brinquedos sexuais e álcool; tem uma média de bem mais de
100 mil seguidores no Twitter (NeNe, de Atlanta, tem 600 mil) e recebem
um salário de seis dígitos por cada temporada (o elenco de Nova York
receberá 250 mil pela quinta temporada) -- não dinheiro de artistas de
primeiro escalão mas uma quantidade bastante decente levando em conta o
quão limitado é o talento das mulheres.
Já a
Bravo se beneficiou ainda mais. Com ajuda de sua outra franquia monstra, o
premiado Top Chef, o lucro do canal teve um aumento de 122% desde 2006, de 135
milhões de dólares para mais de 300 milhões de acordo com o SNL Kagan. E
a rede fez isso sem depender de nenhum produtor para sustentar sua
galinha dos ovos de ouro -- diferente de, por exemplo, Chuck Lorre e Two
and Half Men e Ryan Seacrest e Keeping Up with the Kardashians. Ao
invés disso, ela distribuiu a responsabilidade para seis produtoras
diferentes (a Evolution Media é a unica que gerência mais de uma: Orange
County e Beverly Hills). "Esse é provavelmente a unica franquia no
mundo que não é produzida pela mesma produtora", afirma Zalaznick.
Porém, a franquia começou com apenas um produtor: Scott Dunlap.
Era 1997 e Dunlap estava de saco cheio. O bem sucedido branding consultant estava num jantar de amigos no afluente condomínio Coto de Cazaem
Orange County. "Você sabe como é", relembra o confiante e parrudo homem
de 49 anos, num restaurante em Irvine. "Todo mundo estava sentado em
volta da mesa, as mulheres todas cheias de jóias, falando sobre as
férias da família na Toscana e fingindo que a vida delas era perfeita".
A trupe de Atlanta
Ele
estava farto e não resistiu. "Vocês vão todos morrer no fim!", ele
gritou. Mas, quanto mais ele pensava nessas pessoas, mais fascinado ficava com eles. E, por isso, teve a idéia de criar um filme curto e
irreverente que refletiria como era a vida nesse tipo de condômino rico e
fechado que ele conhecia tão bem - mas com um twist: "eu quero que ele seja focado em vocês", ele disse aos seus amigos.
O
curta acabou nunca sendo feito. Mas foi a gêneses da idéia que, uma
década mais tarde, se tornaria um fenômeno da cultura pop, depois de uma
batalha de oito anos e infinitas rejeição que finalmente, em 2005,
levaram Dunlap até Frances Berwick, presidenta da Bravo, que resolveu apostar em The Real Housewives of Orange County.
A executiva estava em ascensão graças a um enorme rebranding que ela comandou na rede. Tendo obtido sucesso com sua série de makeover Queer Eye for the Straight Guy, a Bravo agora queria montar uma programação baseada nos cinco pilares que guiavam o primeiro hit da emissora: comida, moda, design, lifestyle e
cultura pop. Depois de muita discussão, Berwick deu a Dunlap a licença
para produzir o programa, nomeando-o como produtor executivo. "Era uma
coisa arriscada a se fazer", ele admite com um sorriso. "Será que eu
teria apostado em mim como um produtor televisivo se eu fosse a
emissora? Provavelmente não".
Mas o
programa que ele acabou fazendo teve um resultado bem diferente do que
Berwick tinha imaginado. Com 90% de Orange County filmado antes da Bravo
ter aprovado qualquer coisa, a executiva quase teve um ataque cardíaco
quando ela viu uma versão não finalizada do programa, quase desistindo
completamente do projeto.
"Nós queriamos algo muito autêntico e eles foram por um caminho mais mockumentary, no estilo de Curb Your Enthusiasm",
ela relembra. "A gente teve que fazer uma enorme revisão, chegando num
ponto onde tinhamos que decidir se a gente simplesmente jogava tudo fora
ou investia ainda mais dinheiro".
Ela
optou por não desistir. Depois de refilmar os primeiros episódios e um
processo de edição "inacreditavelmente longo", o programa finalmente
entrou no ar com pouquíssimas expectativas.
Andy Cohen e as Real Housewives of Beverly Hills
"Era um experimento", afirma um insider.
"Eles não estavam planejando essa franquia gigantesca; a rede estava
apenas tentando mostrar um estilo de vida. No começo, não foi investido
muito dinheiro para promoção nem nada assim".
Daí,
algo inesperado aconteceu: o programa deu certo. E não só com os
espectadores em geral -- com a audiência jovem que o canal estava
ansioso para cultivar. Enquanto a primeira temporada de Orange County,
em 2006, teve uma média de 646 mil telespectadores, a rede viu um
aumento de 47% entre o público de 18 a 49 anos.
Rapidamente, a Bravo deu prioridade para a segunda temporada e resolveu contratar um produtor de reality veterano, Doug Ross (Hipertensão; Big Brother),
um jogada que marginalizou o papel de Dunlap, o deixando rico, com um
crédito de "criador" no começo de cada episódio, mas o excluindo quase que totalmente da franquia (apesar dele ter mantido seu crédito como produtor
executivo na Orange County).
Dunlap
-- não muito convincentemente -- afirma não guardar nenhum rancor com a
emissora que efetivamente o demitiu. "Meu contrato é bom",
ele diz, olhando sua sopa pensativo. "Eu estou feliz".
"Scott
fez um ótimo trabalho identificando integrantes do elenco fantásticos",
diz Ross, "mas a emissora achou que, com a ajuda dos realmente
entendidos, as coisas podiam crescer ainda mais".
Enquanto
a segunda temporada começava a ser filmada, Bravo decidiu renomear
Manhattan Moms -- outra série que estava sendo gravando sobre mulheres
nova-iorquinas ricas tentando colocar seus filhos dentro do mundo ultra
competitivo das escolas particulares da cidade -- com o selo das
Housewives. "Lauren Zalaznick ligou e disse, 'eu estou realmente
pensando em transformar isso numa franquia", diz Jennifer O'Connel, VP
executiva da Shed Media.
"Ela me perguntou o que eu achava de renomear o show de The Real Housewives of New York City".
Muitas
das Mães já estavam filmando quando a decisão foi tomada e o elenco não
descobriu sobre a mudança de título até a hora de fotografar as
primeiras fotos de publicidade. "Nós fomos dar uma olhada no artwork no
computador e dizia 'Real Housewives of New York City'", relembra Zarin.
"Para ser sincero, acho que todas ficamos meio decepcionados no
primeiro momento".
Logo
depois, a produtora True Media propôs a Bravo um programa similar,
baseado em Atlanta enquanto a emissora incumbiu a Sirens Media de
produzir a versão de New Jersey -- e, como num passo de mágica, uma franquia tinha nascido. New York estreou em março de 2008 e Atlanta em outubro.
Enquanto as novelas diurnas saiam de moda e a geração de 90210 crescia e
se transformava em maridos e mulheres, pais e mãos, o canal Bravo tinha
descoberto o novo guilty pleasyre televisivo: um veículo que
mostrava a vida de um grupo seleto de mulheres mimadas e constantemente
imperfeitas cuja unica real distição era a cidade em que elas viviam -- e
sua capacidade infalível para se comportar mal.
Com o
lançamento de New Jersey em 2009, a franquia foi além da audiência chave
de mulheres jovens, trazendo homens e espectadores mais velhos. O
programa alcançou o ápice quando 3.8 milhões de espectadores
sintonizaram no especial de reunião pós segunda temporada em 2010.
A
audiência jovem e antenada se manteve fiel, mesmo com o aumento no
número de programas cópias como Basketball Wives na VH1 e The A-List no
Logo. Parte disso se atribui ao processo exaustivo de casting da
Bravo e também a quantidade considerável de dinheiro que é investido.
"Bravo apoia muito a produção financeiramente", diz Ross. "Todo mundo
quer copiar a mágica, mas muitos dos imitadores tem um ar mais barato e
dá para sentir que é roterizado".
Mas Housewives é
um pouco roteirizado também, não? Peggy Tanous, de Orange County,
certamente acha que sim: "nós começamos a nos encontrar com produtores
para discutir enredos", ela confessa, mantendo que isso foi o que a fez
decidir sair da série. "Eu comecei a ficar ansiosa pensando em todo o
drama forçado que ocasionalmente acontecia". Ross admite que as
Housewives são frequentemente incentivadas a organizar eventos (lê-se: sessões de grupo ou festas de aniversário de 50 mil dólares para as crianças) mas é decisivo na hora de negar qualquer staging: "o público vai perceber então não vale o esforço".
As Housewives original de Nova York
"Honestamente,
as vezes eu gostaria que elas fizessem o que eu digo para elas
fazerem", acrescenta O'Connel da Shed Media. "Eu super queria ter esse
poder sobre elas. Mas no fim, são as Housewives que dirigem o trem".
Uma dessas mulheres é Ramona Singer. A reality celebrity -- que cresceu como a mais velha entre quatro irmãos numa família tumultuosa do upstate nova iorquino antes de se tornar uma fashion buyer para
a Macy's -- inicialmente relutou a aceitar fazer parte da série quando
ela foi convidade pela Shed. Descoberta através uma de suas co-stars,
Jill Zarin, Singer era dona de sua própria linha de jóias, True Faith,
com seu marido com quem estava casada faz 20 anos, Mario, e ambos estavam ocupados criando sua
única filha, Avery, agora com 16.
"Com
39 anos, eu já tinha 1 milhão de dólares em dinheiro no banco," ostenta
Singer enquanto pega a garrafa mais próxima de Ramona. Já são 15h30 e
a estrela já tirou seu vestido e agora está com roupa mais casual: um
vestido de malha e algumas jóias da True Faith (cujo nome ela faz
questão de mencionar diversas vezes). "Eu disse, 'sinto muito, mas não, muito
obrigado. Eu não tenho tempo e eu não tenho nenhum interesse em ser
famosa".
A
reconhecendo como um personagem forte, a produtora não desistiu e mirou
no ego da moça, afirmando que seria uma plataforma incrível para promover os seus
negócios. Singer rapidamente mudou de idéia, vendo os dollar signs em
potencial, e assinou o contrato em 2008. Desde então, ela é uma das
membras icônicas do programa. Sua história é um ótimo exemplo do tipo de
casting que fez cinco das sete séries retumbantes sucessos
(Miami lançou com apenas 1.21 milhão de espectadores e não está claro se
vai ser renovado; as mulheres de D.C. foram muito criticadas e a versão
foi prontamente cancelado).
As
Housewives mais bem sucedidas deixam o seu auto-respeito na porta. O
quanto mais extravagantes e divisivas elas se comportarem, maior o airtime -- e maior ainda o following que elas atraem.
Isso
foi o que Teresa Guidice, de New Jersey, descobriu. Quando uma festa da
primeira temporada culminou nela virando a mesa de jantar num ataque de
raiva, a moça de 39 anos, que se auto proclama uma típica "Jersey Girl", se transformou a estrela da série. Em episódios subsequentes, Guidice foi sincera sobre
não ter dinheiro para reformar sua mansão em Towaco, N.J. depois de
declarar falência durante a exibição do programa (no primeiro episódio
do programa, ela gastou 10 mil dólares em dinheiro numa loja de móveis).
O seu marido abriu uma pizzaria local mas ela virou o ganha pão da
família, graças aos seus paychecks do Housewives; seus dois livros de receita, Skinny Italian e Fabulicious e deals com revistas semanais (um insider afirma
que ela recebe aproximadamente 20 mil dólares por sessão; desde maio de
2011, ela apareceu sete vezes na capa do tablóide InTouch Weekly).
Por sua vez, Frankel continua sendo o Midas do mundo do reality: seu livro de estréia, Naturally Thin,
virou um New York Times best-seller com mais de 200 mil unidades
vendidas e, em 2011, ela vendeu sua linha de coquetéis Skinnygirl para a
Beam Global por modestos 120 milhões de dólares.
Singer sonha em seguir os passos de Bethenny, possivelmente desenvolvendo seu
próprio programa, um sonho realizado apenas por Frankel e mais uma
Housewive, Kim Zolciak (Atlanta), cada uma com seu próprio spinoff na
Bravo. "Eu já estou pensando no futuro", Singer diz. "Inicialmente, eu
queria fazer algo como o [publicitário e apresentador de TV] Donnie
Deutsch e ir eu mesma visitar as companhias para pedir ajuda. Eu não
posso ficar sentada no sofá". De repente, sua mente dá um salto para
outro direção: "Alguém me disse uma vez, "eu não acredito que minha
esposa quer se divorciar". E eu perguntei, "bem, qual foi a ultima vez
que vocês transaram?' e ele diz, 'faz um ano'. Eu gritei "Você não faz
sexo faz um maldito ano?! O que você acha que ia acontecer".
Finalmente
dando uma pausa para respirar, ela encara a parede enquanto sua mente
divaga, possivelmente considerando um programa de auto-ajuda. Sim, é isso
mesmo que ela quer. Ela sorri e dá mais um gole do seu Pinot Grigio. "É
isso que eu gostaria de fazer no futuro".
Como tantas mulheres housewives,
o homem mais importante da franquia, Andy Cohen, o executivo da Bravo
que apresenta todos os programas de reunião, também saiu ganhando com o
sucessos dos programas, lançando seu próprio programa de TV.
Parecendo
que ele tinha acabado de sair de um ensolorado campo de golfe, o
executivo entra no Four Seasons Beverly Wilshire para mais uma sessão de
foto com seu harem de Beverly Hills. Cohen tem uma personalidade que
faz com que ele pareça mais um melhor amigo do que um chefe -- isso é,
quando ele não está grudando no seu Blackberry, tweetando para seus
570,000 seguidores.
"Eu tenho uma profunda responsabilidade por essas mulheres", ele diz. "E
eu a levo muito a sério". Um estrategista chave que ajudou Berwick a
redefinir o canal Bravo, Cohen, que até recentemente serviu como o VP
Executivo de Programação e Desenvolvimento, cresceu em St. Louis e
trabalhou como o dançarino dos B-52s por alguns anos, sonhando em se
tornar um performer ele mesmo. Mas ele acabou sendo atraído pelo mundo da produção, onde trabalhou por 10 anos como produtor de segmentos do The Early Show e cinco anos como o VP de Programação do agora defunto TRIO Network, até que Berwick o levou com ela para Bravo em 2005.
Foi a
personalidade dele -- extravagante, estilosa, perspicaz, abertamente gay
e irreverente -- que deu o tom para algum dos maiores sucessos do
canal, incluindo o seu breakout Queeer Eye. Ele é um componente crítico para o sucesso de Housewives e ele próprio se descreve como um "super fã" da franquia.
E durante a crise mais séria da rede até hoje, o suicídio de Armstrong, Cohen estava entre alguns dos crucial players que
determinariam como Housewives iria prosseguir. Quando a notícia de que o
homem de 47 anos, pai de três filhos, tinha se enforcado, o pânico não
foi só entre a Bravo e a NBCUniversal mas entre toda a indústria de
reality television. Nos dias que procederam, até alguns membros do
elenco apoiaram o cancelamento da segunda temporada, de acordo com um
produtor.
A trupe original de New Jersey
"Foram
horas de discussão", Cohen revela. "No final, nós decidimos capturar o
que tinha acontecido da maneira mais sensível possível". Na atual
temporada, Armstrong é acusado de violência doméstica e é expulso de uma
festa na casa de Kyle Richards e seu marido, Mauricio. Com o final da
temporada se aproximando (23 de janeiro), insiders afirmam que é bastante improvável que o programa mencione a morte de Russel novamente.
Isso é
só um dos problemas com que Cohen teve que lidar. Camille Grammer
embarcou num divórcio público com seu marido, a lenda dos sitcoms Kelsey
Gremmer, durante a primeira temporada de Beverly Hills, enquanto a nova
adição do programa, Brandi Glanville (ex-esposa do ator Eddie Cibrian)
já anunciou os planos de anular seu casamento de ano novo com seu
empresário Darin Harvey. No final das contas, a franquia já viu 10
casamentos se destruirem, dois pedidos de falência, incontáveis
conflitos físicos, várias batalhas legais, pelo menos um embargo -- e, é
claro, um suicídio.
"Olha, essa franquia é a documentação de um período na vida dessas
pessoas", afirma Cohen. "Todas essas mulheres tem histórias para contar e
algumas estão lidando com assuntos pessoais bem pesados".
Esse
mês, o programa de Conhen, Watch What Happens Live, será expandido para
cinco vezes por semana, concorrendo diretamente com os gigantes do latenight como
David Letterman, Jimmy Fallon e Jon Stewart. Para isso ser possível,
Cohen aceitou reduzir o seu papel dentro da corporativa Bravo -- e ira
equilibrar suas funções como executivo com seu hosting gig e escrever sua autobiografia (pelo qual ele recebeu um adiantamento de sete digitos em agosto).
Agora,
na Royal Suite do hotel, o executivo veste um traje de gala Ralph
Lauren e para de tweetar momentaneamente para posar com o cachorrinho
lulu de pomerânia de Lisa Vunderpump (o cachorrinho, Giggy, tem 42 mil
seguidores no Twitter). Glanville senta sozinha, fingindo ignorar os
comentários maldosos vindo da direção de Vanderpump. "Uma das garotas me
perguntou o que eu achava da Brandi", Lisa sussura alto para Kyle
Richards, que procura um vestido no armário. "E eu disse, 'Quem?!". As
duas caem na gargalhada.
São essas facetas do comportamento feminino -- o bom, o ruim e o feio -- que
catapultou um programa experimental sobre mulheres de Orange County
para um fenômeno da cultura pop com uma audiência global.
"É
diversão na sua forma mais pura", insiste Cohen. "É como comer uma
tigela de pipoca sem caloria; é fofoca sem glúten. Você pode assistir,
comentar com suas amigas e, no final das contas, o programa faz você auto-refletir e se sentir melhor sobre sua vida".
Em 2003, um programa chamado Queer Eye for the Straight Guy, onde um grupo de especialistas homossexuais transformava um heterossexual solteirão num cobiçado bachelor, colocou o canal Bravo no mapa. O programa rapidamente sumiu do mapa mas, no ano seguinte, a rede teve um boost ainda maior com a estréia de Project Runway, um reality groundbreaking apresentado por Heidi Klum e focado em fashion designing que rapidamente se transformou num sucesso de crítica e público. Mas foi em 2006, com o lançamento de Real Housewives of Orange Country, que o canal deu o primeiro passo para se transformar na potência que ele é hoje em dia. O programa gerou diversos spin-offs (Real Housewives of New York City; Real Housewives of New Jersey; Real Housewives of Atlantas; Real Housewives Beverly Hills); virou uma franquia gigantesca e deu o tom da emissora que, graças aos seus programas cheios de mulheres ricas barraqueiras sem senso de ridículo, se transformou no canal favorito do público urbano, de alta renda dos EUA. De Nova York a Califórnia, pode apostar que toda mulher e gay antenados estarão viciados em pelo menos alguma das versões do infinito franchise.
Eu já comentei anteriormente que Real Housewives é um exemplo perfeito do talento que os executivos americanos tem de transformar as tendências do momento em reality show trashy. E, apesar de ter sido um efeito desse fenômeno, a própria franquia já tá sendo chupada pelos canais rivais, desesperados para conseguir seus próprios hits. O VH1 tem Mob Wives, sobre esposas de mafiosos; Football Wives, sobre esposas de jogadores de futebol americano e Basketball Wives sobre, sim, esposas de jogadores de basquete (coming soon: Mob Wives Chicago; Basketball Wives Los Angeles). O canal Logo tem The A-List New York e The A-List Dallas sobre um grupo de gays barraqueiros descritos como "housewives with balls" (donas de casa com culhões). Atualmente em produção: Wall Street Wives e, pasmén, Black Mafia Wives, sobre as esposas dos integrantes de um dos mais notáveis grupos de traficantes de drogas de Atlanta.
Andy Cohen, o rosto da Bravo: top executivo e personalidade televisiva
Em todo o caso, assim como as Kardashians geraram nova vida para o E! e fizeram com que o canal se valorizasse absurdamente; as Housewives fizeram o mesmo para o Bravo. Até o top executive do canal, o caricato e carismático Andy Griffin (um dos muitos power gays do showbizz) se transformou numa celebridade e apresenta um talk show de enorme sucesso no canal onde não apenas entrevista as personalidades da casa (principalmente as Housewives) mas também discute sobre os programas com seus amigos A-listers (e fãs das Housewives) como Sarah Jessica Parker; Liam Neeson; Tina Fey; Lea Michelle; Neil Patrick Harris e Anderson Cooper.
Tentando seguir o exemplo das Kardashians, as Housewives também estão loucas para virarem marcas de sucesso. Porém, elas são muitas e as personalidades delas são estridentes em demasia para o grande público. Isso, é claro, não as impede de tentar, com muitas lançando suas linhas de bebidas alcoólicas, livros autobiográficos e de receita e, pasmén, até carreiras como cantoras (por favor, parem o que vocês estão fazendo para absorver o brilhantismo que foi a singing career da Housewive de NY Countess Lulu com seu brilhante Money Can't Buy You Class. Danielle Staub, ex Housewive de NJ, também não fez feio com Real Close).
Bethenny Frankel: a housewive mais bem sucedida
A Housewive mais bem sucedida foi Bethenny Frankel. Depois de um stint como Real Housewive of New York City, onde era a favorita da maioria (por ser slightly mais sã do que suas castmates), Bethenny conquistou seus próprios reality shows solo no Bravo e lançou uma bem sucedida linha de bebidas alcoólicas dietéticas (SkinnyGirl). Ellen DeGeneres, uma das maiores personalidades televisivas do país, está desenvolvendo um talkshow para ela.
Enquanto isso, aqui no Brasil, a Band acaba de estrear "Mulheres Ricas", um reality com um formato bem similar a versão americana. E não é coincidência: o programa que está ao ar aqui não é uma versão direta do franchise mas sim uma produção da produtora argentina Cuatro Cabezas Earwork (responsáveis pelo CQC) que foi ao ar pela primeira vez no canal Cuatro na Espanha em 2010. Mas fear not, a Universal (dona do Bravo) já devidamente processou os argentinos e espanhóis que agora são obrigados a dar royalties do programa dele para os detentores dos direitos do programa original (que a justiça declarou ser Real Housewives).
As Mulheres Ricas da Band
Alias, é engraçado como esses programas rendem, não é mesmo? Apesar de (ainda) não ser o sucesso sem fim que é a versão americana, Mulheres Ricas causou enorme repercussão em todas as redes sociais, foi temas de críticas horrorosas na Folha e na Veja (é impressão minha ou a imprensa nacional leva as coisas muito a sério? Chillax) e, pasmén, foi até tema de reportagem no The Guardian, o mais respeitado jornal britânico.
Mas enfim, isso só serviu de introdução para a parte 2, uma tradução que dá uma olhada bem in-depth nesse fenômeno, fiquem ligadinhos.
Bom, 2011 foi um ano com pouquíssimas atualizações, não é mesmo? Pois é, super reneguei o blog ao longo do ano, e francamente, não posso prometer que serei melhor nesse aspecto em 2012 (mas juro que vou tentar). Contudo, se você é um leitor que, apesar do ritmo lento de novidades, continua periodicamente checando o blog, eu agradeço enormemente pelo apoio.
Mas, indo ao assunto que interessa: cultura pop. Não existe NENHUMA duvida a quem esse ano pertenceu, não é mesmo? 2011 foi o ano que Adele brilhou, vende e se destacou mais do que QUALQUER um poderia ter imaginado.
Apesar de ser a antitese de tudo que faz sucesso hoje em dia -- Adele só costuma usar preto; suas músicas são lentas e com letras deprimentes; ela é sincera em entrevistas e pouquíssimo manufaturada (apesar de muito bem promovida) -- ninguém dominou tanto o coletivo mundial, as rádios e os iPods quanto essa londrina de 23 anos.
No começo do ano, eu escrevi alguns posts sobre o sucesso sem precedentes que a cantora estava alcançando. Na décima semana do álbum 21 nas lojas britânicas, eu escrevi sobre o sucesso avassalador que o CD estava conseguindo no país de origem da cantora. Olhando para trás, aqueles recordes são modestos comparados com o que a jovem inglesa conquistou nos 8 meses seguintes.
Para começar, o álbum vendeu 3.8 milhões de unidades no Reino Unido ao longo de 2011. Em apenas 12 meses, o CD vendeu o suficiente no país para se tornar o maior vendedor do século 21, ultrapassando, por 400 mil cópias, Back to Black de Amy Winehouse. Em menos de um ano, em um período de enorme crise para a indústria fonográfica, 21 se transformou no sétimo álbum mais vendido da história do Reino Unido. E, levando em conta que a cantora continuará promovendo o CD em 2012, não existe a menor duvida que ele continuará subindo no ranking. É só questão de tempo para a londrina de 23 anos desbancar Thriller de Michael Jackson (3.825); The Dark Side of the Moon de Pink Floyd (3.96 milhões) e Brothers in Arms do Dire Strait (4 milhões) e entrar no top 5 dos CDs mais vendidos da história na terra da rainha.
E isso tudo sem contar o fato do primeiro álbum da cantora, 19, lançado em 2009, ter vendido 1.21 milhão de cópias ao longo do ano, o suficiente para duplicar as vendas que o CD tinha conquistado ao longo dos últimos dois anos (total: 2 milhões só no UK). Ah, e o single mais vendido do ano também pertenceu a Adele: Someone Like You, impulsionada pela performance groundbreaking no BRIT Awards, vendeu 1.3 milhão de unidades, sendo a primeira vez desde 2007 que um single ultrapassa a marca de 1 milhão dentro de um ano cívil (e a primeira desde 2001 quando você desconta singles de vencedores dos reality shows The X Factor e Pop Idol) e desde 1995 que o mesmo ato ocupa o topo da parada anual de single e de CDs.
Isso sem contar com as vendas de Set Fire To the Rain (500 mil unidades apesar de não ter sequer alcançando o top 10 semanal ou ter um vídeo) e Rollin' in the Deep (800 mil unidades).
No meu texto de abril eu destacava como o CD estava sendo um gigantesco sucesso nos EUA mas ainda era cedo para determinar se ele alcançaria o mesmo sucesso que no Reino Unido. Agora posso afirmar com total convicção: sim, o sucesso nos EUA, o maior mercado mundial, foi tão gigantesco e surpreendente quanto no país natal da cantora. Com 6 milhões de unidades vendidas ao longo do ano, 21 foi o CD que obteve melhor resultado de vendas em um ano cívil desde Confessions de Usher em 2004. Ela vendeu mais do que o dobro do segundo CD mais vendido do ano nos EUA (2.5 milhões do CD Christmas de Michael Bublé) e também teve o single mais vendido (Rollin' in the Deep, 5.6 milhões de unidades).
Depois de uma apresentação nos VMAs, Someone Like You também alcançou o topo do Hot 100 americano, sendo a primeira vez que uma música que continha apenas vocais e um piano encabeçou a lista na história do país. O single já vendeu 3.6 milhões de unidades no país até o momento.
Como se isso tudo não fosse o suficiente, Adele encabeçou a lista de álbuns mais vendidos do ano em virtualmente todo o planeta, quebrando recordes na França, Austrália, Alemanha, Canadá, Holanda, Portugal, Finlândia....
E no Brasil? Basta ir até o site de letras do Terra, o site musical mais acessado do país, para ver a cantora dominando o top 3 (com Someone Like You, Rollin' in the Deep e Set Fire to the Rain) e, desde o lançamento do iTunes no país, em dezembro, a cantora ocupa o topo da parada de singles e de álbuns por aqui.
E vale destacar que durante os últimos três meses do ano, Adele teve que cancelar absolutamente todas as suas aparições públicas devido a um problema nas cordas vocais. Apesar do total sumiço da mídia (pelo menos fisicamente, já que todos os meios de comunicação seguiram falando nonstop sobre o sucesso dela), que incluiu cancelamentos em programas high profile como o Europe Music Awards e a final do X Factor britânico, a cantora continuou no topo de todos os principais mercados do mundo e, apesar de nenhuma promoção e nem sequer um vídeo, Set Fire to the Rain ocupa o segundo lugar no iTunes americano (depois de mais de 6 milhões de unidades comercializadas do CD, algo inédito).
Em 2012, podem apostar que as vendas de Adele seguiram fortíssimas. Ela varrerá os BRIT e o Grammy, as principais premiações dos EUA e do Reino Unido, que catapultam a venda dos CDs ganhadores; voltará para a TV; continuará lançando singles e retomará sua turnê mundial que teve que ser cancelada as pressas devido aos seus problemas na garganta.
Dois número 1 globais (Rollin' in the Deep e Someone Like You).
O CD mais vendido do ano (15.3 milhões de cópias no mundo todo), mais que triplicando as vendas do segundo colocado (5 milhões de Christmas do Michael Bublé).
Indicada a todos os principais prêmios músicas.
Centenas de recordes quebrados.
Apesar de sempre aparecer em público com a mesma roupa (um discreto vestido preto), se tornou um ícone fashion, estampando a capa da edição de outubro da Vogue britânica. Ela também estará na capa da edição de março da Vogue estado-unidense, uma das edições mais importantes e grossas do ano (por apresentar as tendências de primavera).